Bruxelas O possível aumento da temperatura mundial em 2 graus centígrados durante o próximo século levará à extinção de 30% das espécies, à queda da produção agrícola e à elevação de quatro a seis metros do nível do mar, advertiram ontem os especialistas em mudança climática da ONU. É o que destaca o relatório "Efeitos, adaptação e vulnerabilidade", elaborado por especialistas de mais de cem países, que durante esta semana analisaram e avaliaram a melhor informação científica, técnica e socioeconômica disponível sobre a mudança climática. A temperatura mundial subiu até agora 0,8 grau em comparação com níveis de antes da Revolução Industrial. Por isso, é possível considerar que a mudança climática já tenha alcançado pessoas e ecossistemas com amplos efeitos. Como exemplos, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) cita o aumento das mortes durante as ondas de calor, a extensão das doenças tropicais, as ameaças aos hábitats indígenas, o risco crescente de incêndios florestais e o desaparecimento de muitos sistemas biológicos.
Gases
A emissão de gases do efeito estufa é o grande causador desta situação, afirmam os especialistas. Há determinadas zonas geográficas e ecossistemas mais vulneráveis a este fenômeno, entre eles recifes de corais, pólos, tundra, florestas boreais e regiões mediterrâneas. Além dos aspectos físicos, o econômico é e será um dos pontos fundamentais em relação aos efeitos do aquecimento global.
O vice-presidente do IPCC, Martin Parry, disse em entrevista coletiva, em Bruxelas, que "é a primeira vez que, em âmbito internacional, se confirma de maneira empírica que os males causados pelo aquecimento causado que resultam das atividades humanas. "Efeitos, adaptação e vulnerabilidade" é mais duro que o relatório apresentado em fevereiro, em Paris, quando a ONU avisou que o aquecimento da Terra provocará desarranjos que, dependendo de sua dimensão, causarão escassez de água para entre 1 bilhão e 3,2 bilhões de pessoas. Por isso, os especialistas, que representavam mais de cem governos e algumas organizações ambientalistas, discutiram durante toda a noite de quinta e parte da manhã de ontem, antes de aprovar o documento.
Obstruções
Segundo informações de fontes da própria reunião, Rússia, China e Arábia Saudita foram os países que atrasaram o consenso ao questionarem cada termo. A reunião desta semana foi a segunda do painel intergovernamental, estabelecido em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). O primeiro encontro ocorreu em fevereiro em Paris. Está previsto que o painel se reúna em Bangcoc e em Valência, Espanha, em novembro, onde apresentará uma síntese de seu trabalho para levar aos governos.
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