Países árabes, liderados pela Arábia Saudita, EUA e Canadá estão impondo obstáculos ao texto sobre mitigação dos efeitos do aquecimento global, que experts do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) discutem nesta semana, em Berlim, na Alemanha. O documento aborda o impacto dos combustíveis fósseis no aumento da temperatura média da Terra e o que fazer para limitar seu emprego pela economia mundial.
Segundo o relatório integral, base do rascunho em debate, não há alternativa: para limitar o aumento da temperatura média em no máximo 2ºC até 2100, é preciso reduzir o consumo de derivados de petróleo. As negociações do Grupo de Trabalho 3 do IPCC, que discute a mitigação - ou a redução do impacto - do aquecimento, começaram na segunda-feira (7) na capital alemã, e representam a última etapa antes do relatório-síntese, que será apresentado em outubro, em Copenhague, na Dinamarca.
Nessa semana, acadêmicos discutem como limitar ou prevenir emissões de gases de efeito estufa e aprimorar tecnologias de captura de gás carbônico (CO2) da atmosfera. Para tanto, mudanças estruturais em diversos setores da economia mundial, como energia, transporte, construção civil, indústria, agricultura, exploração florestal e manejo da água, estão em questão.
O tema é da maior sensibilidade, porque grandes exportadores de petróleo, como Arábia Saudita e nações árabes, tentam bloquear as discussões sobre a migração para matrizes energéticas mais limpas. "Estamos no segundo dia de negociações. Muito difícil", afirmou em seu Twitter o economista italiano Carlo Carraro, reitor da Universidade CaFoscari Venezia, de Veneza, um dos autores do relatório que estão em Berlim. "A obstrução da Arábia Saudita e de outros países árabes é muito forte, mas também dos EUA e do Canadá dificultam uma visão colaborativa do problema."
A reportagem entrou em contato com autores reunidos pelo IPCC, mas um acordo impede que eles falem com jornalistas. "Muita coisa vai mudar até a redação final", justificou o engenheiro Roberto Schaeffer, consultor da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) e membro do Programa de Planejamento Energético da UFRJ.
Acompanhando as negociações à distância, o engenheiro brasileiro Márcio DAgosto, coordenador do programa de Engenharia de Transporte da UFRJ e um dos autores do relatório do GT 3, não se surpreendeu com a resistência imposta pelos produtores de petróleo, EUA e Canadá. "Os estudos das relações entre transportes, energia e meio ambiente mostram que precisamos alterar o nosso comportamento", diz.
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