O reino da Arábia Saudita anunciou neste domingo (3) o rompimento das relações diplomáticas com o Irã, após o país persa criticar duramente a execução pelas autoridades sauditas de um proeminente clérigo xiita.
O governo saudita pediu que a missão diplomática do Irã e todas as entidades relacionadas deixem o país em até 48 horas.
O rompimento agrava a já tensa relação entre os rivais históricos do Oriente Médio. A escalada começou após a Arábia Saudita anunciar, no sábado (2), a execução do clérigo Nimr al-Nimr e outros 46 acusados de terrorismo.
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Leia a matéria completaNimr, 56, foi sentenciado à morte por desobedecer as autoridades, instigar violência sectária e ajudar células terroristas. O clérigo, muito crítico da dinastia sunita Al Saud, liderou em fevereiro de 2011 protestos oposicionistas na parte leste do país, onde está concentrada a minoria xiita saudita.
A sua condenação já levara o Irã a criticar o reino saudita. Neste sábado, após a notícia de sua execução, o Ministério de Relações Exteriores iraniano afirmou que o país vizinho pagará um “preço elevado”.
“O governo saudita apoia por um lado os movimentos terroristas e extremistas e, ao mesmo tempo, usa a linguagem da repressão e da pena de morte contra seus rivais internos. [...] Pagará um preço elevado por esta política”, disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Hossein Jaber Ansari, citado pela agência iraniana Irna.
A embaixada saudita em Teerã chegou a ser invadida e incendiada na madrugada de domingo (noite de sábado em Brasília).
As autoridades sauditas convocaram o representante diplomático do Irã no país para protestar contra as declarações de Ansari, que classificaram como uma interferência em assuntos domésticos.
MAIS CRÍTICAS
Neste domingo, autoridades iranianas voltaram a criticar a execução de Nimr. O site do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, comparou a Arábia Saudita à milícia radical Estado Islâmico.
Na página, foi colocada uma imagem cujo título é: “Alguma diferença?”. Nela, aparecem meio a meio um homem com túnica preta, usada pelos extremistas da Síria e do Iraque, e outro com uma túnica branca, comum entre os sauditas. Ambos estão com armas brancas na mão -punhal, no caso do militante do EI, e espada para o saudita.
No lado do Estado Islâmico, aparece um prisioneiro de laranja com a mensagem: “Condenado à morte por se opor ao Estado Islâmico”. Já na parte saudita, a inscrição é: “Condenado à morte por se opor aos aliados do Estado Islâmico”.
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Leia a matéria completaRIVALIDADE
Desde que o Estado Islâmico se impôs no Iraque, em junho de 2014, os iranianos acusam os sauditas de financiarem a milícia radical.
Os sauditas negam a acusação, mas algumas ações colocam em dúvida a real intenção do país de ver os extremistas derrotados. A Arábia Saudita foi um dos primeiros países a deixar a coalizão contra a milícia liderada pelos EUA.
A monarquia do golfo Pérsico também é criticada por não reprimir os financiadores dos extremistas islâmicos, o que provoca reclamações dos aliados americanos e europeus.
A inação dos sauditas em relação ao Estado Islâmico é vista por alguns analistas como uma forma de enfraquecer a Síria e o Iraque, governados por dois aliados de Teerã -o ditador Bashar al-Assad e o premiê Haider al-Abadi.
Irã e Arábia Saudita ainda disputam indiretamente o domínio do Iêmen. Enquanto os iranianos reforçam os milicianos houthis, os sauditas fizeram uma ação militar para que o presidente Abdo Rabbo Mansour Hadi retome o poder.
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