O governo argentino aceitou oficialmente ontem que a Organização das Nações Unidas (ONU) coordene eventuais negociações com o Reino Unido na disputa sobre a soberania das Ilhas Malvinas, segundo carta enviada pelo chanceler argentino Héctor Timerman.
Na sexta-feira passada, Timerman reuniu-se com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a quem denunciou a "militarização" do Atlântico Sul, depois de o Reino Unido ter enviado um destróier à região das Malvinas, onde há quase 30 anos os dois países entraram em guerra pela posse das ilhas.
Na carta enviada ontem à ONU, o chanceler argentino evocou as resoluções do organismo que defendem negociações entre os dois países. Ele ressaltou que a Argentina "enfrenta a persistente negativa britânica" de cumprir com essas iniciativas.
Nas últimas semanas, foi observada uma escalada no clima de tensão entre Argentina e Reino Unido, a menos de dois meses do 30.º aniversário do começo da guerra no arquipélago. No conflito bélico de 74 dias, a Argentina foi derrotada depois de ter ocupado o território em disputa.
Portos
O anúncio de entidades sindicais argentinas de um boicote aos navios britânicos, feito na segunda-feira, não surtiu efeito ontem. Carregamentos e descarregamentos foram realizados normalmente nos portos do país.
A ameaça, convocada pela Confederação Argentina de Trabalhadores do Transporte (CATT), tem como alvo os navios de bandeira britânica e aqueles que, sendo desta mesma origem, utilizem as chamadas "bandeiras de conveniência" de outros países, afirmou a entidade em comunicado.
"Aqui está tudo funcionando normal", disse Guillermo Wade, gerente da Câmara de Atividades Portuárias de Rosário, principal agroexportador da Argentina e que abriga um dos maiores polos processadores de grãos do mundo.
O secretário-geral do Sindicato de Trabalhadores Marítimos Unidos, Omar Suárez, disse que o objetivo do protesto é atrasar a entrada e saída dos portos entre seis e 12 horas. Ele afirmou que apenas sofrerão com a decisão os navios de empresas de "capital britânico puro", mas esclareceu que a medida excluirá o navio inglês British Ruby, da petroleira BP, que chegou na segunda-feira com 55 mil toneladas de gás natural liquefeito importado pela empresa de energia estatal Enarsa.
Os barcos com bandeira das Ilhas Malvinas estão proibidos de atracar nos portos da Argentina, uma medida compartilhada pelos outros membros do bloco econômico Mercosul.