Buenos Aires - Em mais um sinal de acirramento nas relações com Washington, o governo de Cristina Kirchner barrou um avião militar dos Estados Unidos e acusou o país de enviar à Argentina, ilegalmente, uma mala "suspeita" com equipamentos de espionagem, transmissão de dados, drogas e medicamentos vencidos.
O avião americano aterrizou na última quinta no aeroporto de Ezeiza, na grande Buenos Aires. Levava militares e equipamentos para um curso que seria dado à Polícia Federal Argentina, ligada à Presidência, sobre "técnicas de resgate de reféns e manejo de crises".
No desembarque dos equipamentos, a aduana argentina detectou uma mala que não havia sido declarada, segundo o governo da Argentina. Na última sexta, quando o avião ainda estava retido no aeroporto, o chanceler Héctor Timerman inspecionou pessoalmente a carga.
Por sua decisão, a mala suspeita foi apreendida até que o governo norte-americano dê explicações sobre o que se trata. O chanceler também avisou que fará um protesto formal perante o governo americano.
Segundo a imprensa argentina, Arturo Valenzuela, subsecretário de Estado dos EUA para América Latina, falou com o chanceler argentino por telefone e disse ter ficado surpreso com atitude do governo Kirchner, já que o país sabia e inclusive tinha autorizado a entrada dos equipamentos, que ele pediu de volta.
Ainda de acordo com Valenzuela, esses equipamentos, considerados normais, são utilizados em cursos como o que seria dado à polícia da argentina, inclusive as drogas (morfina) e os medicamentos vencidos.
Por causa da maleta, o governo de Cristina Kirchner suspendeu o curso.
A relação entre Washington e Buenos Aires não é ruim, mas vive um momento de tensionamento desde que o presidente Barack Obama anunciou que visitaria Brasil, Chile e El Salvador em seu giro pela América Latina, no próximo mês, mas não a Argentina.
No início deste mês, Timerman acusou os EUA de financiar e treinar a polícia metropolitana de Buenos Aires (ligada à prefeitura da capital) com "cursos de tortura" e "técnicas golpistas".
Ele se referia ao envio de homens, por decisão do prefeito Mauricio Macri, pré-candidato à Presidência e principal opositor de Cristina, para participar de um curso numa escola em El Salvador criada pelos EUA. Sobre o curso que seria dado pelos mesmos americanos à Polícia Federal, em Buenos Aires, ele nada comentou.