A campanha para as eleições legislativas de 14 de novembro na Argentina começou oficialmente nesta quinta-feira, com o governo do presidente Alberto Fernández tentando reverter os maus resultados das primárias de setembro.
Neste ano, 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados e 24 das 72 do Senado serão renovadas. A Frente de Todos, coalizão governista que detém atualmente a maioria absoluta no Senado, pode perdê-la se os resultados das primárias se repetirem.
Fernández tentará evitar uma repetição do fiasco no resultado das prévias, que foram as primeiras eleições nacionais realizadas durante seu mandato, nas quais a coalizão governista obteve 31% dos votos para deputados em todo o país contra 40% da maior coligação de oposição, a Juntos pela Mudança, cujo principal integrante é o ex-presidente Mauricio Macri.
Da mesma forma, na disputa por vagas para o Senado, a Frente de Todos obteve um total de 27,79% dos votos, contra 43,47% da Juntos pela Mudança.
Para isso, a chapa de Fernández está de olho nos eleitores que votaram na oposição nas províncias que serão cruciais para a definição do Senado. A Frente de Todos também tenta reconquistar os eleitores de sua própria base que, sentindo-se esquecidos, não foram votar nas primárias, além de convencer o eleitorado mais jovem, que está insatisfeito com as restrições da pandemia e tem escolhido outras opções políticas.
Com uma série de anúncios de medidas econômicas para colocar dinheiro no bolso dos argentinos, o governo busca melhorar o ânimo da população.
Os rostos de novembro
Cerca de 34,3 milhões de argentinos estão convocados a ir às urnas em 14 de novembro para eleger deputados e senadores entre os candidatos que se sobressaíram nas primárias.
Na província de Buenos Aires, o distrito eleitoral mais estratégico, a lista da Frente de Todos é liderada pela ex-presidente do Conselho Nacional de Coordenação de Políticas Sociais, Victoria Tolosa Paz.
Na capital - que, como a província de Buenos Aires, elege apenas deputados - a lista é encabeçada pelo atual legislador no parlamento municipal Leandro Santoro.
Já os líderes das listas da Juntos pela Mudança na capital e na província de Buenos Aires são, respectivamente, a ex-governadora de Buenos Aires María Eugenia Vidal e o ex-vice-prefeito Diego Santilli.
Para Alberto Fernández, o resultado das eleições mostrará se as diversas medidas políticas e econômicas que ele tomou no último mês tiveram um efeito sobre o eleitorado.
Crise governamental
Após a derrota nas primárias, o presidente foi obrigado a fazer diversas mudanças em seu gabinete, devido à crise detonada após vários ministros da ala kirchnerista - ala liderada pela ex-presidente e atual vice Cristina Kirchner - renunciarem a seus postos.
Em meio à luta política dentro do governo, Cristina publicou uma carta em suas redes sociais na qual criticou duramente a política econômica implementada pela atual gestão - à qual culpou pela derrota nas primárias - e lembrou a Alberto Fernández que foi ela quem propôs sua candidatura à presidência do país nas eleições de 2019.
Cristina pediu ao governante para "honrar essa decisão" e "a vontade do povo argentino".
Como resultado desta luta interna, o governador de Tucumán, Juan Manzur, substituiu o braço direito do presidente, Santiago Cafiero, como chefe do Gabinete de Ministros.
Cafiero mudou-se para o comando do Ministério das Relações Exteriores, enquanto os demais ministros demissionários foram substituídos por ex-ocupantes de cargos durante o mandato de Cristina Kirchner entre 2011 e 2015.
Novas medidas
Com o novo gabinete surgiu uma série de medidas socioeconômicas - como o aumento do salário mínimo, a flexibilização das restrições às exportações de gado e o aumento da base salarial sobre a qual o imposto de renda começa a ser pago - com o objetivo de engordar o bolso dos argentinos para aumentar o consumo e combater a crise na economia, que entrou em recessão em 2018, durante o mandato de Macri.
Depois das primárias, Fernández prometeu que seu governo "corrigiria" o que fez de errado, e pediu àqueles que não votaram em seu partido que não condenem a Argentina "ao retrocesso", em referência à administração de seu antecessor.
Analistas argentinos avaliam que essas medidas de reativação econômica a curto prazo terão custo alto e trarão poucos benefícios reais.
A consultora de economia Abeceb, de Buenos Aires, divulgou um informe sobre as limitações do plano de governo, como noticiado pelo jornal La Nación. Segundo a análise, as iniciativas significam riscos e oportunidades diferenciadas para os setores produtivos, e os estímulos limitados provavelmente não conseguirão reduzir a maior incerteza econômica que surgiu com as primárias.
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado