A presidente Cristina Kirchner decretou luto oficial de três dias pela morte do poeta e jornalista argentino Juan Gelman, ocorrida nesta terça (14/1), na Cidade do México, onde vivia desde 1988. Gelman tinha 83 anos e sofria de síndrome mielodisplásica (doença que afeta as células da medula óssea), segundo seus familiares informaram à agência argentina Télam.
O secretário de Cultura da Argentina, Jorge Coscia, disse que Gelman é parte da melhor tradição literária do país. "Sua própria vida é um poema comprometido", declarou. Em 2007, o poeta foi agraciado com o Prêmio Cervantes.
Gelman, que nasceu no bairro Vila Crespo, vizinho a Palermo, em Buenos Aires, esteve pela última vez na cidade e em seu país natal em agosto. Na ocasião, ele leu trechos de seu livro "Hoy" (hoje), com poemas que falam do luto e da dor pelo desaparecimento e morte de seu filho, Marcelo, durante a ditadura, a uma plateia na Biblioteca Nacional. "Os livros costumam se escrever sozinhos", disse no evento.
O escritor argentino Jorge Boccanera, que acompanhou Gelman durante essa leitura em agosto, disse que o poeta foi um "mestre da vida". "O único prêmio que lhe faltava era o Nobel, e ele nunca se acomodou. Quanto mais o premiavam, mais áspera e desafiante se tornava sua poesia."
Gelman foi perseguido pelos militares durante a ditadura argentina e se exilou na Itália e na França antes de chegar ao México. Seu filho e sua nora, que estava grávida, foram sequestrados e mortos pelo regime. Sua neta, Macarena, nasceu no Uruguai e foi criada pela família de um policial. Em 2000, Gelman conseguiu localizá-la.A organização de direitos humanos H.I.J.O.S, que congrega parentes de desaparecidos durante a ditadura, soltou um comunicado sobre a morte de Gelman. "Aí se vai Juan, a alguma reunião com Rodolfo [Walsh] e tantos outros companheiros. Lá se vai Juan, a contar aos 30 mil [desaparecidos na ditadura] que conseguiu encontrar sua neta Macarena", diz o texto.