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O presidente do Banco Central da Argentina (BCRA), Miguel Angel Pesce, descartou nesta terça-feira (12) uma desvalorização brusca do peso argentino, após vários dias de tensão nos mercados de divisas que segundo ele se devem a “estratégias especulativas”.
“Temos uma situação difícil, na qual temos de defender o crescimento (econômico). Não queremos aplicar nenhuma receita de recessão, nem nenhuma desvalorização brusca, porque não é necessário”, afirmou Pesce à rádio AM750.
O chefe da autoridade monetária alegou que as reservas internacionais do país são suficientes, ressaltando o impacto sazonal das importações de energia sobre o acúmulo de moeda estrangeira, um dos pontos incluídos no acordo entre o governo argentino e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o país refinanciar uma dívida de mais de US$ 40 bilhões.
“Esta questão de que não temos reservas vem desde 2020. Em todo segundo semestre começam com a história de que não há reservas para gerar agitação e manobras especulativas, e sempre superamos isso. Desta vez, vamos superar também”, declarou Pesce, argumentando que as reservas começarão a crescer a partir de agosto, quando o volume das importações de combustíveis diminuir.
“O BCRA, exceto pelo fato de termos tido menos saques de organizações de crédito multilaterais, no primeiro semestre deste ano cumpriu as metas que tinha estabelecido para a acumulação de reservas”, apontou o presidente da instituição.
Estas declarações ocorrem em um contexto de forte incerteza nos mercados de divisas, após a renúncia de Martín Guzmán como ministro da Economia em 2 de julho, o que foi causado, entre outras razões, por divergências internas do governo argentino.
Desde essa data, o “dólar blue”, como é conhecida a moeda americana disponível no mercado informal, à qual os cidadãos recorrem devido às severas restrições à compra de dólares oficial, disparou 12%, de 239 pesos para 268 por unidade para venda.
Os chamados “dólares financeiros” subiram ainda mais: o dólar “contado com liquidação” se valorizou 18,2% desde a saída do ex-ministro, para 298 pesos por unidade, enquanto o “dólar bolsa” ou “dólar MEP” subiu 15%, para 285 pesos.
Neste sentido, Pesce criticou supostas “estratégias especulativas que pressionam a taxa de câmbio”, com o objetivo, em sua opinião, de obter “maiores lucros do que os que têm atualmente”.
Para resolver a situação cambial, o presidente do BCRA enfatizou que os importadores devem recuperar o crédito internacional que, segundo as suas estimativas, caiu US$ 4 bilhões durante a pandemia de Covid-19.
“O crédito comercial já aumentou US$ 3,2 bilhões neste ano. Não precisamos de um ajuste, não precisamos de uma desvalorização acentuada, precisamos construir uma ponte para chegarmos ao ponto em que teremos menos importações de energia, e essa ponte é construída por importadores que obtêm financiamento”, disse Pesce.