A Argentina pode levar mais de seis anos e meio para recuperar os níveis econômicos pré-pandemia, apesar de um crescimento de 6,1% do PIB esperado para 2021, afirmou a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A projeção coloca a Argentina como o país do G20 que mais vai tardar em recuperar seu PIB per capita – o Brasil, por exemplo, levaria dois anos e meio, segundo a estimativa da organização.
Novas restrições de circulação implementadas por causa da segunda onda de Covid-19 no país, a vacinação lenta e desequilíbrios macroeconômicos são citados como os principais limitadores de uma recuperação mais rápida.
A projeção de crescimento da economia argentina para 2021 melhorou consideravelmente: passou de 3,7% em análise realizada no ano passado para 6,1%. Contudo, a nação vizinha ainda está longe de recuperar a queda de 9,9% do PIB registrada em 2020, após um longo período de confinamento e restrições por causa da pandemia – “a maior quarentena do mundo”. Para 2022, a projeção ainda é de crescimento, mas muito mais tímido: 1,8%.
De acordo com a OCDE, os cálculos para previsão dos anos seguintes são baseados em taxas médias de crescimento trimestrais projetadas para 2022. Com isso, a organização estima que a economia recupere o mesmo nível registrado no quarto trimestre de 2019 apenas em 2026.
“O segundo semestre de 2020 e os primeiros meses de 2021 registraram uma retomada gradual do crescimento em meio à reabertura das atividades, mas as novas restrições à mobilidade impostas a partir de abril estão retardando a recuperação”, informa o relatório da OCDE, citando preocupações com possíveis quarentenas prolongadas que podem ser implementadas se novas cepas do Sars-CoV-2 se propagarem pelo país. Soma-se a isso a projeção de que o país só deve alcançar a imunidade de rebanho contra a Covid-19 no ano que vem.
O aumento dos desequilíbrios macroeconômicos durante a pandemia – aumento do desemprego, restrições cambiais rígidas, alta inflação apesar da fraca demanda doméstica, redução do consumo e pressões sobre o valor dos títulos públicos devido ao atraso nas negociações com o FMI – também limita a recuperação econômica do país.
“O alto desemprego, a estagnação dos salários e o aumento da informalidade corroem o poder de compra dos argentinos, especialmente para as famílias de baixa renda. Controles de capital rígidos, uma combinação de políticas de controle de preços e restrições de importação e impostos corporativos mais altos pesarão sobre os investimentos e as importações”, avaliou a OCDE.
A organização também afirma que as baixas reservas internacionais da Argentina oferecem pouco espaço de manobra no caso de novas pressões sobre a moeda local. Se houver uma desvalorização repentina do peso argentino, a inflação – que está em torno de 45% por ano – pode aumentar ainda mais.
Como melhorar
A Argentina poderia ter uma recuperação econômica mais rápida, mas as soluções apresentadas pela OCDE são difíceis de serem implementadas.
A primeira seria acelerar a vacinação para “limitar os contratempos” do combate à Covid-19, algo que é um dos principais pontos do relatório da OCDE sobre a recuperação econômica global. Contudo o esforço não depende apenas do país, já que economias emergentes – com exceção das maiores produtoras de vacinas – têm mais dificuldades em garantir contratos com as farmacêuticas do que os países ricos em um momento em que a demanda por vacinas é muito maior do que a oferta.
As demais sugestões incluem:
- Reduzir os desequilíbrios macroeconômicos para reacender a confiança, o que exigirá políticas fiscais prudentes, menos financiamento monetário do déficit, fortalecimento da credibilidade e independência do banco central e, eventualmente, a remoção dos controles cambiais.
- Criar uma estratégia fiscal de médio prazo com credibilidade centrada em melhorias na eficiência do gasto público e na redução de isenções e subsídios fiscais, o que melhoraria a posição fiscal e abriria caminho para a redução dos desequilíbrios macroeconômicos.
- Promover a criação de empregos formais e o fortalecimento da proteção social, com base nos esquemas de transferência de renda existentes, ao mesmo tempo que reduz o custo de criação de empregos formais, especialmente nos setores mais afetados pela pandemia.
Muitas dessas propostas dependem, principalmente, de vontade política, e algumas delas desagradam parte do eleitorado mais afim ao kirchnerismo. Considerando o ano de eleição legislativa no país, dificilmente o governo de Alberto Fernández vai se arriscar a implementá-las.
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