Desde a semana passada, a falta de combustíveis está afetando Neuquén, a principal província produtora de petróleo da Argentina. Nas redes sociais, vídeos mostram filas enormes de carros nos arredores de postos de combustíveis e pessoas relatam que passam horas esperando na fila e, quando são atendidos, a compra é limitada.
Esta situação gerou comparações com a crise de petróleo da Venezuela, que sofre com a escassez de combustível devido ao colapso da indústria petrolífera e às restrições do mercado internacional. Mas o que está acontecendo no sul da Argentina é algo diferente e pontual.
O âmago do problema nada tem a ver com a indústria petrolífera. Trata-se de um conflito entre o governo da província e os funcionários de saúde, que há cerca de 50 dias estão reivindicando aumento salarial. Para forçar as autoridades a dar atenção à causa, o sindicato da categoria passou a montar piquetes em estradas da província, bloqueando diversas rotas, inclusive as usadas para escoamento da produção de petróleo de Vaca Muerta, um enorme reservatório de gás e petróleo de xisto localizado na Patagônia argentina.
De acordo com jornais locais, há cerca de 20 pontos de bloqueio em estradas há mais de duas semanas, o que está afetando também a distribuição de combustíveis a cidades na província vizinha de Rio Negro, como Bariloche, além de causar um grande prejuízo para a indústria pertrolífera da região. Fontes do setor disseram ao site de notícias argentino Infobae que o prejuízo financeiro após 15 dias de bloqueios chegou a US$ 27 milhões, já que a atividade foi parcialmente interrompida e cerca de 5 mil barris de petróleo deixaram de ser extraídos diariamente.
Alguns motoristas nas cidades de Neuquén e Rio Negro precisam enfrentar mais de três horas de fila e, quando chegam na bomba, podem abastecer no máximo 1.500 pesos de combustível (menos de R$ 100).
De acordo com o jornal Río Negro, nesta sexta-feira a polícia teve que intervir em um bloqueio em Villa La Angostura, dispersando os manifestantes da saúde para que caminhões pudessem passar, embora um dos líderes do movimento na cidade tenha dito à publicação que não havia ordens para que eles saíssem do local, já que negociações estão em andamento.
A polícia e as empresas afetadas também estão indicando aos motoristas rotas alternativas e, em alguns pontos, caminhões de carga estavam conseguindo passar, mas o problema de desabastecimento permanece. Quando o combustível consegue chegar ao destino final, as filas, observadas nos vídeos compartilhados na internet, se formam rapidamente.
A Associação de Comércio, Indústria e Produção de Neuquén publicou um comunicado nesta semana pedindo que as partes – governo e trabalhadores da saúde – retomem o diálogo, porque a situação “se tornou insuportável para a comunidade”. “É necessário que as reclamações legítimas que tem a ver com a saúde não sejam obstruídas por atitudes intransigentes que nada tem a ver com esse setor”, afirmou a entidade ao pedir o fim dos bloqueios.
Há temores de que, se a paralisação continuar, a produção de gás da Argentina também seja afetada em um momento de maior demanda pelo combustível, já que o inverno está próximo. Neste cenário, empresas falam que o que deixou de ser produzido durante este período pode precisar ser importado.
Recentemente, o governo de Neuquén, comandado pelo governador Omar Gutiérrez, propôs aos trabalhadores da saúde uma bonificação de 40 mil pesos, a ser paga em quatro vezes, mas a proposta foi rechaçada pelos trabalhadores por não incluir um reajuste sobre o salário. Os funcionários pedem aumento de 40%, negado pelo governo. A Casa Rosada, até agora, não se envolveu no impasse, tendo sua atenção voltada ao agravamento da pandemia de Covid-19 no país. Mas isso pode mudar caso os bloqueios continuem.