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Em terapia: enquanto existem 196 psicanalistas para cada 100 mil habitantes na Argentina, nos EUA a proporção é de 27 para cada 100 mil pessoas | The New York Times
Em terapia: enquanto existem 196 psicanalistas para cada 100 mil habitantes na Argentina, nos EUA a proporção é de 27 para cada 100 mil pessoas| Foto: The New York Times
  • Teatros na Av. Corrientes exibem peças sobre psicanálise

Argentinos sorriem ao ouvir que a psicanálise tem decaído nos EUA e outros países, rivalizada por tratamentos que oferecem resultados mais baratos e a um prazo mais curto do que os anos investidos em sessões de sondagens sobre a própria alma.

Muitos argentinos parecem saber precisamente o que querem (pelo menos em uma das áreas de suas vidas): psicanalistas, muitos deles.

O número de psicólogos na Argentina vem aumentando e chegou a 196 para cada 100 mil habitantes no ano passado, de acordo com um estudo feito pelo psicólogo e pesquisador Modesto Alonso, partindo do número de 145 para cada 100 mil, de 2008. Compare isso aos 27 para cada 100 mil habitantes nos Estados Unidos, de acordo com a Associação Psicológica Americana.

Esses números fazem da Argentina – um país que ainda lamenta seu declínio econômico na década passada – um líder mundial, pelo menos no que diz respeito à ampla disposição de seu povo de desnudar sua alma.

"Não tem tabu nenhum aqui em dizer que você vê um profissional duas ou três­­ vezes por semana", afir­­ma­­ Tiziana Fenochietto, 29­­ anos, psiquiatra que faz sua­­ residência no Hospital de Emer­­gências Psiquiátricas Tor­­cuato de Alvear, uma insti­­tui­­ção pública.

"Pelo contrário", diz Ti­­ziana, que tem, ela mesma, feito terapia durante os últimos oito anos. "É chique."

Embora alguns dos maiores analistas argentinos cobrem o equivalente a centenas de dólares por sessão, muitos trabalham numa escala gradual conforme a renda de seus pacientes, oferecendo sessões por valores de até R$ 30 por hora.

Há uma abundância de teorias sobre por que tantos complexos, e os profissionais que os tratam, parecerem florescer aqui.

Martin, o protagonista de Medianeras (2011), uma comédia romântica sobre a vida numa quitinete de Buenos Aires, oferece a seguinte teoria: "Apatia, depressão, suicídio, neuroses, ataques de pânico, obesidade, medo de altura, tensão muscular, insegurança, hipocondria, comportamento sedentário – é tudo culpa dos arquitetos e empresários de construção civil".

Outros procuram explicações no passado argentino, não somente na tristeza criada pela glória apagada de uma nação que já foi mais rica que muitas nações europeias.

Segundo alguns, faz muito tempo que o país é vulnerável à melancolia, ou pelo menos à aceitação de se compartilhar essas preocupações com um ouvinte paciente. Com um histórico de imigrações, na maior parte vindas da Europa, a Argentina tem uma tradição de se inspirar em tendências intelectuais europeias, incluindo a ascensão da psicologia freudiana do século passado.

Imigrantes espanhóis que procuraram oportunidades longe do regime fascista de Francisco Franco foram cruciais em estabelecer a psicanálise nos anos de 1940 como uma profissão de respeito na Argentina. Atualmente, alguns dos principais psicanalistas do país são judeus, a maioria deles descendente de judeus europeus.

Tradução de Adriano Scandolara.

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