Jorge Faurie, chanceler argentino, em dezembro de 2017| Foto: EVARISTO SA / AFP

Às vésperas de hospedar a reunião de líderes do G20, que reúne a União Europeia mais 19 países nos próximos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, a Argentina espera ter introduzido a ideia de que é necessário modernizar os modos de realizar comércio internacional.

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Em entrevista, em seu escritório, em Buenos Aires, o chanceler argentino, Jorge Faurie, disse que quando seu país assumiu a presidência do bloco, as primeiras reuniões mostraram que "as regras que estamos seguindo hoje estão inspiradas no mundo dos anos 1960 e 1970, e o mundo mudou dramaticamente. Não é porque ainda temos pendências na agropecuária, por exemplo, que não temos de discutir o comércio eletrônico ou as criptomoedas". 

Indagado sobre como seria o documento final do evento, que será apresentado antes do fim do encontro, porque o mandatário mexicano, Enrique Peña Nieto, só poderá participar do primeiro dia – no dia 1º de dezembro ocorre a posse de seu sucessor, Andrés Manuel López Obrador – Faurie disse que este ainda estava em aberto. 

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Apesar disso, tem sido difundido pela imprensa internacional que o documento deve evitar falar em "protecionismo", por conta de uma resistência dos Estados Unidos. 

Faurie minimizou as diferenças com o governo de Donald Trump. "Os Estados Unidos estão tendo conosco um diálogo sincero. Trump crê que o ambiente comercial está desnivelado para o lado deles, considera que se julgam os EUA com uma régua e as economias em desenvolvimento com outras." 

Quando o tema é protecionismo, Faurie diz que os EUA "são a economia mais aberta do mundo. Se agora retrocederam de 100% de abertura para 90% ou 95% não é nada perto do quão fechados somos Brasil e Argentina, por exemplo. Temos aberto por volta de 20% da nossa economia, quando no mínimo deveríamos abrir-nos em 35% ou 40%". 

Faurie também não crê que a guerra comercial entre Estados Unidos e China deva preocupar os países da região. 

"Qualquer país inteligente, numa disputa dessas, tem de fazer um exercício de equilíbrio que não nos leve a ter de optar por EUA, China ou União Europeia. Nem há nenhuma pressão para que façamos isso. Nossa preocupação tem de ser que nosso comércio flua e que possa crescer em cada um desses destinos." 

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Durante o encontro será assinado, também, o novo tratado entre os países da América do Norte, que substituirá o Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), depois que Trump pediu mudanças no mesmo, ameaçando "rasgá-lo" durante a campanha presidencial de 2016. 

"Nos alegra que o façam aqui, embora sejamos apenas o espaço em que isso possa acontecer, não temos influência direta", diz Faurie.

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Um dos encontros mais comentados da cúpula, porém, é o que deve ocorrer entre o príncipe saudita, Mohammed bin Salman, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Será a primeira vez em que ambos aparecerão em público depois do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico da monarquia saudita, dentro do consulado do país em Istambul, na Turquia. 

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"Ambos confirmaram a presença, e o ideal seria que houvesse um posicionamento da Arábia Saudita que ajudasse a esclarecer o que ocorreu com esse jornalista." 

Entre os que planejam manifestar-se contra o G20 – há passeatas e atos programados em Buenos Aires – houve quem questionasse a presença do líder saudita na cúpula. Faurie responde: "O G20 é uma reunião dos países com as economias mais representativas do mundo. Cada país decide quem os representa e esses líderes vêm. Cada país deve se encarregar de quem escolhe e ver o que a opinião pública responde", explica. 

Por outro lado, afirma que "a Argentina tem uma posição clara que defende a liberdade de imprensa, e nos parece importante proteger a vida dos que são profissionais que contribuem para que exista a liberdade de imprensa. Por isso esperamos que o episódio seja esclarecido". 

Indagado sobre as menções do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, e de seu entorno, minimizando a importância do Mercosul, Faurie não se mostrou preocupado. 

"Para nós, o Mercosul é uma prioridade. É uma ferramenta para construir a integração, que foi útil para superar anos de desconfiança e apontar para um processo de integração que é fundamental para dar maior dinamismo a nossas economias. Agora, o dinamismo de que fala Bolsonaro ou seu ministro Paulo Guedes é parte da tarefa de crescer num processo de integração. O Mercosul não é uma Constituição de valores intangíveis." 

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Faurie também acrescentou que a Argentina não se sentiu ofendida pelo fato de Bolsonaro ter demonstrado vontade de fazer sua primeira viagem internacional provavelmente ao Chile. "Não creio que isso tenha a ver com um elogio ao pinochetismo, porque a sociedade chilena de hoje não é pinochetista. E se ele quer ir lá antes, é um direito dele. Bolsonaro e [o presidente argentino] Macri já conversaram por telefone em bons termos e o presidente eleito manifestou interesse em visitar a Argentina também". 

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Segurança 

A Argentina está preparando um forte esquema de segurança para receber os líderes do G20. Cerca de 25 mil agentes de inteligência, policiais e militares foram mobilizados para proteger as delegações da possibilidade de atentados e manifestações violentas. Para isso, contam com o apoio dos serviços de informação e equipamentos das grandes potências. 

Duas semanas antes do encontro, a China doou para a Argentina US$ 18,3 milhões em equipamentos, entre os quais: quatro caminhonetes blindadas, 45 uniformes anti-explosivos e 87 detectores de minas, objetos metálicos e drogas. A doação foi anunciada no dia 16 de novembro, um dia após a detenção de doze membros de um suposto grupo anarquista, suspeito de ter explodido uma bomba de fabricação caseira no cemitério La Recoleta. O cemitério, que fica em um bairro rico de Buenos Aires, também é uma das atrações turísticas da capital argentina. 

A Ministra de Segurança do país, Patricia Bullrich, garantiu que Buenos Aires está preparada para sediar a Cúpula do G20 – a primeira na América do Sul. Entre os líderes confirmados, estão os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump; da Rússia, Vladimir Putin; da China, Xi Jin-Ping e da França, Emmanuel Macron. 

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Com o objetivo de esvaziar a cidade e facilitar o trânsito das delegações, o governo decretou feriado em Buenos Aires no dia 30. Além dos dezenove países da União Europeia (UE), que integram o G-20, estarão presentes representantes de organizações internacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), e a Organização Mundial do Comercio (OMC). O G20 representa dois terços da população mundial e concentra 85% da economia global.

Encontro das maiores economias 

O encontro da Argentina coincide com o décimo aniversário da primeira cúpula do G-20, realizada em Washington. A reunião de 2008 foi convocada para discutir a crise financeira que o mundo vivia, considerada a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. Começou nos Estados Unidos, com o colapso da bolha especulativa no mercado imobiliário e se espalhou pelo mundo, gerando desemprego e recessão. 

Desde então, os líderes das vinte maiores economias mundiais têm se reunido anualmente para evitar outra crise. No entanto, a cúpula de 2017, realizada na cidade alemã de Hamburgo, foi marcada pela falta de consenso entre os Estados Unidos e os outros dezenove membros, sobre os principais temas: mudança climática e comércio mundial. Nas ruas, violentos enfrentamentos entre policiais e manifestantes deixaram dezenas de feridos. 

“Quando lamentavelmente não há consenso, temos que refletir o dissenso e não ocultá-lo”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, no encerramento da cúpula de 2017. Dois líderes do G20 que participaram da primeira cúpula, há dez anos, continuam no poder: Merkel, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Com informações da Folhapress e da Agência Brasil

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