Sistemas elétricos destruídos, água e alimentos contaminados e isolamento. Estes são alguns dos inúmeros prejuízos que dezenas de municípios da Patagônia argentina sofrem desde que o vulcão chileno Puyehue-Cordón Caulle entrou em erupção, há exatamente dez dias.

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Os problemas que as cinzas vulcânicas provocam ultrapassaram os limites dos aeroportos fechados, viagens canceladas e turistas frustrados. A situação se complica a cada dia e o governo da presidente Cristina Kirchner declarou "estado de emergência agropecuária" para 5.265 criadores de ovelhas das províncias de Neuquén, Chubut e Río Negro - região mais afetada.

Nesses dez dias de erupção, a região, tradicionalmente usada para criar ovelhas, ficou coberta por uma camada espessa de cinzas, de aproximadamente 30 centímetros de altura. Pastos, lagos, córregos e nascentes são pura cinza. A Administração Federal destinou entre 10 a 15 milhões de pesos (R$ 4 a R$ 6 milhões) para as províncias. O Ministério de Agricultura estima um rebanho de 1,7 milhões de ovelhas afetadas. Em Chubut, uma das principais produtoras de lã, a pecuária já vem sendo castigada há quatro anos consecutivos pela estiagem, com a perda de um milhão de cabeças.

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O secretário Executivo de Emergência e Desastre Agropecuário, Haroldo Lebed, disse que os produtores vão ter uma rolagem de suas dívidas com a Receita, mas reconheceu que o cenário para os animais é complicado. "As chuvas estão molhando os animais que já estão cobertos com a areia do vulcão e isso produz um peso adicional de 2,5 quilos ao animal, dificultando sua locomoção", disse.

RiscosA província de Río Negro comprou 45 mil fardos de feno para repartir entre os municípios mais afetados. Os governos municipais e provinciais (estaduais) estão se encarregando de distribuir água para o consumo animal e humano. Mas o trânsito é lento em quase todas as estradas e rodovias devido ao material do vulcão. Algumas vias estão fechadas, assim como os aeroportos da região mais próxima ao vulcão. Voluntários ajudam a limpar tetos das casas mais frágeis.

"Chove, caem cinzas, volta a chover e a cair cinzas. Isso forma uma espécie de camada de cimento que vai pesando sobre os telhados e alguns caíram", explicou Gustavo Suans à TV argentina C5N. Ele é voluntário da Defesa Civil na cidade de Villa La Angostura, distante apenas 40 quilômetros do vulcão. Um dos centros de esqui da região, o Cerro Bayo, se encontra nesta cidade, há 80 quilômetros de Bariloche, também muito afetada.

O assessor de imprensa do Cerro Bayo, Fernando Fal, contou que os serviços de distribuição de água, o abastecimento de combustíveis e a principal rodovia de conexão de Villa La Angostura com Bariloche já estão funcionando normalmente. "O grande problema é a intermitência de chuvas e cinzas, porque caem nos transformadores de energia elétrica e provocam curtos circuitos", afirmou.

O Serviço Meteorológico Nacional (SMN) também prevê nevascas e mais chuvas para a região, o que complicaria a situação, segundo a assessoria do prefeito de Bariloche, Marcelo Cascón. As chuvas carregam a areia vulcânica para a rede pluvial, que fica obstruída.

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Turismo"A situação é complicada, mas a temporada só começa a partir do dia 1º de julho. Até lá, o vulcão pode deixar de expelir cinzas e a situação se normalizaria rapidamente", disse Fal. A esperança dele tem fundamento, conforme estimativas do diretor do Serviço Nacional de Geologia e Minas do Chile, Enrique Valdivieso. Ele disse que erupção do Puyehue vai durar, pelo menos, mais uma semana e, depois disso, a situação vai se acalmar.

Os operadores de turismo em Bariloche preferem não admitir, mas reconhecem que as reservas estão sendo canceladas. O setor hoteleiro ainda não calculou o prejuízo. Mas, tanto em Bariloche quanto em La Angostura, vários hotéis decidiram antecipar as férias dos funcionários e fechar as portas por uma semana. Situação similar ocorreu há três anos, com a erupção de outro vulcão chileno, o El Chaitén.

No setor de aviação, fontes indicam que as companhias aéreas já acumulam um prejuízo de 50 milhões de pesos (R$ 19,6 milhões). Os aeroportos de Buenos Aires, Ezeiza e Aeroparque estão fechados desde domingo, sem previsão para reabertura. Na semana passada, os voos ficaram suspensos durante dois dias e meio.