Um trem lotado em plena hora do rush não conseguiu frear numa das estações mais frequentadas de Buenos Aires ontem e se chocou contra a plataforma, no que já é considerado o terceiro acidente ferroviário mais grave da história do país o pior em 34 anos. O choque deixou ao menos 49 mortos e 600 feridos.
O trem da empresa Ferrocarril Sarmiento que vinha de Moreno, na Grande Buenos Aires transportava cerca de duas mil pessoas quando bateu na Estação Once, no centro da capital argentina, às 8h32min.
Enquanto uma grande operação era acionada para resgatar as vítimas dezenas de pessoas ficaram presas nas ferragens, e 60 foram internadas em estado grave a oposição, passageiros e trabalhadores do setor não pouparam críticas ao governo de Cristina Kirchner pelo estado do transporte ferroviário no país, no qual foram registrados quatro acidentes fatais com trens somente no último ano.
As autoridades argentinas afirmaram que ainda estão investigando a causa do acidente, mas fontes da polícia já apontam a hipótese de falha nos freios. A versão é compartilhada por alguns passageiros, que contam que o maquinista vinha enfrentando problemas durante todo o trajeto.
"Ele vinha em altíssima velocidade. Já vinha sem freios desde Haedo. Ia com as portas abertas", contou um passageiro ao canal Todo Noticias.
Outros passageiros, no entanto, garantem que a viagem transcorria normalmente. Uma testemunha que aguardava na Estação de Moreno de onde partiu o trem diz, no entanto, ter ouvido o maquinista afirmar que o trem não tinha condições de partir devido a uma falha mecânica. Alguns minutos depois, no entanto, o maquinista teria mudado de ideia, afirmando que o problema havia sido resolvido.
"Esse trem não devia ter saído, eles sabiam. Mesmo assim, saíram, e olha o que aconteceu", disse Gustavo Guevara, ainda em choque, ao Clarín.
O secretário de Transportes, Juan Pablo Schiavi, tentou se esquivar da responsabilidade, lembrando que acidentes como esse acontecem no mundo inteiro, mesmo em países como Alemanha e EUA.
A declaração de Schiavi foi rebatida por diversos políticos da oposição, para quem o sistema ferroviário argentino vem sendo sucateado desde o governo de Carlos Menem (1989-1999). Em dezembro passado, uma locomotiva se chocou contra um trem repleto de passageiros parado numa estação da periferia no sul da capital, deixando 17 feridos. Três meses antes, nove pessoas morreram e 212 ficaram feridas no choque de dois trens e um ônibus numa passagem de nível do bairro metropolitano de Flores.
"Faz anos que a presidente escuta, lê e vê essas denúncias, e não faz nada!", disparou o deputado Fernando Pino Solanas, pedindo a demissão dos responsáveis.
Caso alimenta polêmica sobre fim de subsídio do governo
Folhapress
O acidente de ontem ocorre em meio a uma discussão relacionada à política de subsídios do governo.
Na Argentina, o governo arca com parte dos custos das viagens de trens e ônibus. O novo governo de Cristina Kirchner já cancelou boa parte dos subsídios à eletricidade e à água, mas resiste a terminar com os de transportes, temendo o custo político.
A oposição diz que os subsídios às empresas as libera de fazer as melhorias necessárias nos veículos, o que estaria por trás do alto número de acidentes ocorridos recentemente. Nos últimos 12 meses, houve pelo menos quatro choques fatais entre trens na cidade.
Visivelmente irritado, o secretário (ministro) de Transportes, Juan Pablo Schiavi, deu declarações ontem avisando previamente que não responderia a perguntas dos jornalistas. "Não quero entrar num jogo", declarou.
A oposição e sindicalistas cobraram do governo mais explicações.
"A responsabilidade é de uma empresa que está marcada pela falta de manutenção e pela improvisação em todo o serviço. Por outro lado, há também a falta de controle de todos os órgãos oficiais", disse o líder sindical Edgardo Reinoso, lembrando que o trem acidentado tinha entre 40 e 50 anos de uso.
O secretário de imprensa de sindicato de maquinistas, Horacio Caminos, afirmou que os trens da linha afetada pelo acidente "apresentam deficiências reiteradas". Segundo ele, há vagões da década de 60. "Há muito tempo que denunciamos o nível de desinvestimento e os trabalhadores, todos os dias, têm de colocar os trens em condições para sair", afirmou.
O sindicato dos maquinistas denunciou que existem problemas nos sistemas de freios dos trens de Buenos Aires. "Falta investimento em manutenção no serviço ferroviário. Há meses que estamos denunciando falhas nos freios", disse um dos delegados do sindicato. "São freios importados há 40 anos e nenhuma empresa ferroviária fez investimentos para renovar esses freios."