• Carregando...

Buenos Aires (EFE) – Uma equipe de pesquisadores do Departamento de Química Orgânica da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires (UBA) sintetizou drogas e compostos que, em testes de laboratório, demonstram ter uma potência superior aos que são geralmente utilizados para o tratamento clínico da doença de Chagas, que mata 50 mil por ano na América Latina. Os medicamentos que são usados há décadas para o tratamento da fase aguda da doença não são totalmente efetivos em vários casos e provocam muitos efeitos colaterais.

A tripanossomíase americana, o nome científico da doença, considerada endêmica na América Latina, é causada pelo parasita Tripanossoma cruzi, presente nos sedimentos do vetor da enfermidade, o inseto conhecido como barbeiro. O coração e os intestinos dos seres humanos picados pelo barbeiro são os órgãos mais afetados pelo mal, que provoca cardiopatias e outros graves problemas de saúde.

Juan Bautista Rodríguez, professor do Departamento de Química Orgânica da UBA, explica que a equipe de pesquisadores sob sua responsabilidade conseguiu identificar como atuam esses novos compostos químicos em "alvos moleculares", isto é, em enzimas que são muito "importantes para a sobrevivência do parasita".

Uma das drogas desenvolvidas é o tiocianato de 4-fenoxifenoxietilo, conhecido como WC-9. "O que o WC-9 faz é retardar o crescimento do parasita em meios de cultivo. A droga atua numa enzima do parasita, a esqualeno sintetase, bloqueando-a", explicou. A droga WC-9 é uma contribuição científica que eventualmente pode originar um novo medicamento contra a doença, mas ainda não há investimento assegurado para o projeto.

A pesquisa está no "ponto de partida para se chegar à fase clínica. Nossa contribuição parte da ciência básica, que é aplicável e potencialmente utilizável. Mas não quero criar falsas expectativas", destacou Rodríguez.

Os primeiros testes com o WC-9 em ratos não tiveram resultados tão animadores como os obtidos em meios de cultivo. Isso pela forma como essa droga chega ao sangue e se distribui em órgãos e tecidos. Atualmente, estão sendo feitas pequenas mudanças estruturais no WC-9, para que sua atuação no organismo melhore.

O WC-9 tem que chegar à enzima do parasita e, para isso, precisa penetrar tanto na membrana celular humana como na do parasita. Mas, nem sempre um composto que é muito efetivo sobre uma enzima tem a farmacocinética apropriada para vencer essas duas barreiras de membranas celulares.

Outros alvos

O grupo de pesquisadores também trabalha para atacar outros dois "alvos moleculares" do parasita, além da esqualeno sintetase. Um deles é a enzima farnesil-pirofosfato sintetase. Nesse caso, os cientistas trabalham com derivados de bifosfonatos, que são inibidores potentes da atividade dessa enzima.

Os compostos sintetizados no laboratório da UBA são estruturalmente relacionados com certas drogas que utilizadas para o tratamento prolongado de diferentes transtornos ósseos. Isso pressupõe que os bifosfonatos desenvolvidos pela equipe podem ser bem tolerados nos extensos tratamentos requeridos pela doença de Chagas.

O terceiro alvo molecular é a tripanotiona sintetase, uma enzima que não tem seu "encaixe" em humanos. Caso fosse obtido um composto que possibilitasse uma inibição altamente seletiva dessa enzima se conseguiria uma droga com uma toxicidade muito baixa, que não afetasse o organismo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]