Buenos Aires Setores piqueteiros, estudantes, desempregados, organizações sindicais, partidos de esquerda e organizações de direitos humanos, representados por grupos críticos ao governo do presidente Néstor Kirchner, fizeram ontem uma marcha no centro de Buenos Aires para lembrar os mortos pela repressão policial há exatos cinco anos e pedir que os responsáveis pelas mortes sejam punidos pela justiça.
Reduzido, o protesto que, segundo estimativas, não passou de 7 mil pessoas, só evidencia a retração da participação popular na Argentina depois da crise generalizada que explodiu em dezembro de 2001, quando a derrocada da economia levou à renúncia do presidente Fernando de la Rúa e ao fim da dolarização.
A manifestação de ontem foi bem diferente da rebelião popular de 20 de dezembro 2001, quando um clima de agitação social e violenta repressão policial culminou com a fuga de De la Rúa, de helicóptero, da Casa Rosada. Neste episódio, cinco pessoas morreram vítimas da violência policial nas imediações da Praça de Maio. Além delas, outras 32 pessoas morreram em confrontos em diversos pontos do país nos dias 19, 20 e 21 daquele mês, incluindo mortes em choques com a polícia e homicídios cometidos durante saques. Cinco anos depois, as mortes seguem impunes.
Ontem, a Justiça aceitou processo contra o ex-comissário de Polícia Jorge Palacios por responsabilidade pelas mortes e lesões corporais cometidas naqueles dias. Um ex-chefe da polícia e outros dois ex-comissários já estavam sendo processados. De la Rúa, que segue respondendo a ações judiciais em que é acusado de corrupção, nunca foi processado por eventual responsabilidade nas mortes. Na prática, porém, os argentinos estão pouco preocupados com a data. Buenos Aires hoje, com a recuperação econômica e com grande aprovação ao governo de Kirchner, dá sinais claros de uma menor politização. Com partidos políticos enfraquecidos, a cidade, famosa por seus piquetes, também viu o tamanho das marchas diminuir. As manifestações que mais reuniram pessoas recentemente tinham como tema questões relacionadas à segurança pública. "Claro que há muitas coisas contra as quais protestar. A confiança das pessoas nas instituições não se recuperou. O que as mobiliza hoje são questões mais imediatistas, como a construção de um arranha-céu no bairro ou a poluição que pode gerar uma indústria papeleira. Isso não acontece com temas mais intangíveis, diz o analista Sergio Berensztein.
Segundo o Centro de Estudos Nueva Mayoria, este ano teve a menor quantidade de bloqueios de trânsito por protestos dos últimos seis anos.