Trinta milhões de argentinos estão habilitados a ir às urnas hoje para renovar metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. Estas eleições parlamentares, que definirão o mapa do poder na Argentina dos próximos dois anos, podem dar início a um período que analistas políticos, parlamentares e governadores começam a denominar de "pós-kirchnerismo", já que marcariam o começo do fim da administração do casal Néstor e Cristina Kirchner, há uma década no poder.
Segundo as pesquisas eleitorais, o governo sofrerá uma nova e dura derrota no principal campo de batalha eleitoral, a província de Buenos Aires, distrito que reúne 38% dos eleitores do país. Uma pesquisa elaborada pela consultoria de opinião pública Raúl Aragón & Associados mostra que o cabeça da lista de candidatos kirchneristas à Câmara de Deputados Martín Insaurralde, prefeito de Lomas de Zamora conta com 32,2% das intenções de voto.
Com esse porcentual, Insaurralde fica atrás de seu rival, Sergio Massa, o prefeito da cidade de Tigre. Massa é ex-chefe do gabinete da presidente Cristina. Massa reúne 42,12% das intenções de voto. Ele rompeu com o governo e transformou-se no novo emblema do peronismo dissidente anti-kirchnerista. Para o governo, uma derrota em Buenos Aires tem um peso simbólico altamente negativo, já que a província foi o reduto kirchnerista por excelência na maior parte dos últimos dez anos
Diferença
Os analistas indicam que em todo o país os candidatos kirchneristas aglutinariam entre 25% e 30% dos votos. A oposição, embora fragmentada, reuniria entre 70% e 75%. Nas eleições primárias, simultâneas e obrigatórias de agosto o governo Kirchner obteve 26% dos votos em todo o país. Os diversos partidos da oposição conseguiram 74%. Essa foi a pior marca do kirchnerismo desde as eleições presidenciais de 2003, quando Néstor Kirchner teve 22% dos votos.
As eleições de hoje, segundo os analistas, complicariam a maioria parlamentar que o governo Kirchner ostenta. Dependendo dos resultados a presidente Cristina poderia manter formalmente uma maioria ajustada.
No entanto, analistas e parlamentares consultados destacam que é inevitável que o governo Kirchner sofra, a partir de amanhã um êxodo de aliados que passariam às fileiras de diversos integrantes do peronismo dissidente. Desta forma, em poucos dias, a partir das eleições, o governo se tornaria a primeira maioria no Parlamento.
Com saúde frágil, Cristina recupera-se alheia ao pleito
Ao cenário de complicações a curto prazo para o governo Cristina Kirchner, acrescentam-se os problemas de saúde da presidente, que foi submetida a uma cirurgia no crânio no dia 8 de outubro. Cristina recupera-se, isolada, na residência presidencial de Olivos, onde, segundo seus ministros, não lê jornais e revista e sequer assiste a programas de televisão. Os médicos ordenaram "estrito repouso", além de evitar "esforços intelectuais".
Devido à sua licença médica a presidente Cristina não participou da reta final da campanha eleitoral. Além disso, sem Cristina, o kirchnerismo, pela primeira vez em dez anos, não terá um "bunker" formal para aguardar o resultado das eleições neste domingo.
Especialistas começam a falar-se em "pós-kirchnerismo" a partir destas eleições, já que inicia a segunda metade do segundo mandato da presidente Cristina, que não poderá apresentar-se a uma segunda reeleição (proibida pela Constituição argentina).
Desta vez Cristina não conta com outro membro da família Kirchner para sucedêla no poder, tal como ela fez com seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010.
Neste cenário despontam vários potenciais presidenciáveis nas fileiras do governo. O nome mais cotado é o do governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, considerado um kirchnerista "light", com visão favorável aos mercados. Scioli também é conhecido por ser um político de consensos.