O governista Martin Insaurralde (à direita), posando para foto com eleitor; Sergio Massa lidera as pesquisas nas eleições legislativas na província de Buenos Aires| Foto: Marcos Brindicci/Reuters; Enrique Marcarian/Reuters

Campanha

Partidos deixam de lado temas prioritários para a população

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Durante a campanha eleitoral, os partidos foram incapazes de incluir na agenda os temas que realmente preocupam os eleitores, como a insegurança e a inflação. A maioria dos eleitores deve decidir seu voto sem ter visto os candidatos confrontando ideias – o único debate televisionado foi entre postulantes a senador e deputado da capital argentina.

"Mais uma vez, os partidos deixaram de fora de campanha um debate real sobre temas como a educação, o emprego informal e a pobreza", lamentou Jorge Arias, da empresa de consultoria PoliLat. Outro aspecto importante que não integra a agenda é o "cuidado do republicanismo", apontou Virgínia García Beaudoux, codiretora do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano.

Nem sequer a cirurgia à qual a presidente, Cristina Kirchner, foi submetida por causa de hematoma craniano, conseguiu fazer com que a campanha perdesse seu tom anódino. "A oposição baixou o tom da campanha com uma estratégia muito realista: não atacar a presidente em absoluto, desejar melhoras e concentrar a crítica no vice-presidente (Amado Boudou), que é quem está exercendo o poder", disse o analista político Rosendo Fraga.

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Disputa invade as prateleiras das livrarias

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A corrida eleitoral para o pleito legislativo na Argentina chegou também às livrarias, que expõem em suas prateleiras publicações políticas com especial presença dos candidatos com maiores possibilidades nas pesquisas.

Sergio Massa, ex-chefe de Gabinete, vencedor das primárias de agosto e favorito nas pesquisas na província de Buenos Aires, é protagonista de dois livros – "Massa, el salto del tigre" e "Massa por Massa", que relatam a chegada do prefeito do município portenho de Tigre à política nacional pelo partido Frente Renovador (FR). Livros escritos por outros candidatos, assim como obras sobre a presidente Cristina Kirchner e sobre o vice Amado Boudou também disputam lugares nas prateleiras das livrarias do país.

Contagem manual

Os primeiros dados oficiais sobre as eleições serão divulgados a partir das 21 horas. Os números definitivos, a princípio, somente serão informados a partir da meia-noite. A apuração na Argentina é lenta, já que o país não conta com voto eletrônico. Em diversas ocasiões, ao longo da última década, o Brasil ofereceu a tecnologia e assessoria para a implantação desta modalidade de voto, tal como fez com o Paraguai. No entanto, o governo Kirchner rejeitou a mudança no sistema de votação, dando prioridade total aos votos em papel e contagem manual.

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Trinta milhões de argentinos estão habilitados a ir às urnas hoje para renovar metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. Estas eleições parlamentares, que definirão o mapa do poder na Argentina dos próximos dois anos, podem dar início a um período que analistas políticos, parlamentares e governadores começam a denominar de "pós-kirchnerismo", já que marcariam o começo do fim da administração do casal Néstor e Cristina Kirchner, há uma década no poder.

Segundo as pesquisas eleitorais, o governo sofrerá uma nova e dura derrota no principal campo de batalha eleitoral, a província de Buenos Aires, distrito que reúne 38% dos eleitores do país. Uma pesquisa elaborada pela consultoria de opinião pública Raúl Aragón & Associados mostra que o cabeça da lista de candidatos kirchneristas à Câmara de Deputados – Martín Insaurralde, prefeito de Lomas de Zamora – conta com 32,2% das intenções de voto.

Com esse porcentual, Insaurralde fica atrás de seu rival, Sergio Massa, o prefeito da cidade de Tigre. Massa é ex-chefe do gabinete da presidente Cristina. Massa reúne 42,12% das intenções de voto. Ele rompeu com o governo e transformou-se no novo emblema do peronismo dissidente anti-kirchnerista. Para o governo, uma derrota em Buenos Aires tem um peso simbólico altamente negativo, já que a província foi o reduto kirchnerista por excelência na maior parte dos últimos dez anos

Diferença

Os analistas indicam que em todo o país os candidatos kirchneristas aglutinariam entre 25% e 30% dos votos. A oposição, embora fragmentada, reuniria entre 70% e 75%. Nas eleições primárias, simultâneas e obrigatórias de agosto o governo Kirchner obteve 26% dos votos em todo o país. Os diversos partidos da oposição conseguiram 74%. Essa foi a pior marca do kirchnerismo desde as eleições presidenciais de 2003, quando Néstor Kirchner teve 22% dos votos.

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As eleições de hoje, segundo os analistas, complicariam a maioria parlamentar que o governo Kirchner ostenta. Dependendo dos resultados a presidente Cristina poderia manter formalmente uma maioria ajustada.

No entanto, analistas e parlamentares consultados destacam que é inevitável que o governo Kirchner sofra, a partir de amanhã um êxodo de aliados que passariam às fileiras de diversos integrantes do peronismo dissidente. Desta forma, em poucos dias, a partir das eleições, o governo se tornaria a primeira maioria no Parlamento.

Com saúde frágil, Cristina recupera-se alheia ao pleito

Ao cenário de complicações a curto prazo para o governo Cristina Kirchner, acrescentam-se os problemas de saúde da presidente, que foi submetida a uma cirurgia no crânio no dia 8 de outubro. Cristina recupera-se, isolada, na residência presidencial de Olivos, onde, segundo seus ministros, não lê jornais e revista e sequer assiste a programas de televisão. Os médicos ordenaram "estrito repouso", além de evitar "esforços intelectuais".

Devido à sua licença médica a presidente Cristina não participou da reta final da campanha eleitoral. Além disso, sem Cristina, o kirchnerismo, pela primeira vez em dez anos, não terá um "bunker" formal para aguardar o resultado das eleições neste domingo.

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Especialistas começam a falar-se em "pós-kirchnerismo" a partir destas eleições, já que inicia a segunda metade do segundo mandato da presidente Cristina, que não poderá apresentar-se a uma segunda reeleição (proibida pela Constituição argentina).

Desta vez Cristina não conta com outro membro da família Kirchner para sucedê­la no poder, tal como ela fez com seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010.

Neste cenário despontam vários potenciais presidenciáveis nas fileiras do governo. O nome mais cotado é o do governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, considerado um kirchnerista "light", com visão favorável aos mercados. Scioli também é conhecido por ser um político de consensos.