O ex-presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, vai deixar a África do Sul na noite de hoje e seguir para o Haiti, após sete anos de exílio, informaram funcionários sul-africanos. Os Estados Unidos expressaram "profundas preocupações" sobre o retorno de Aristide antes do segundo turno da eleição presidencial, que será realizado no domingo.
O passaporte diplomático de Aristide foi entregue no mês passado. Hoje, o Ministro de Gabinete da África do Sul, Collins Chabane, disse que "não podemos mantê-lo aqui se ele quer partir". Funcionários sul-africanos, falando em condição de anonimato, disseram que Aristide partiria logo após falar com jornalistas no aeroporto de Johanesburgo.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ficou tão preocupado que telefonou para o presidente sul-africano, Jacob Zuma, para discutir a questão. A informação foi confirmada por Tommy Vietor, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos, mas o porta-voz de Zuma disse não estar ciente do telefonema.
"Os Estados Unidos, assim como outros países da comunidade internacional, estão profundamente preocupados com o retorno de Aristide ao Haiti dias antes do pleito e consideram que isso pode ser desestabilizador", disse Vietor. "O presidente Obama reiterou sua crença de que o povo haitiano merece a chance de escolher seu governo por meio de uma eleição pacífica, livre e justa em 20 de março".
Segundo a agência de notícias South African Press Association, Chabane disse que o governo não pode ser responsabilizado pelas decisões de Aristide. "O que eu gostaria de destacar é que não estamos enviando o presidente Aristide para o Haiti. Ele recebeu o passaporte do governo do Haiti e não podemos mantê-lo como um refém se ele quer partir", disse o Ministro de Gabinete sul-africano.
Aristide, que surgiu como uma liderança durante uma revolta popular que encerrou a ditadura de 29 anos da família Duvalier, ainda é o político mais popular do Haiti. Ele afirmou que não se envolverá com a política haitiana e quer liderar os esforços de sua fundação para melhorar a educação no empobrecido país caribenho, devastado no ano passado por um forte terremoto.
Esta será a segunda volta de Aristide do exílio. Ele foi derrubado pela primeira vez por um golpe militar em 1991. O então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, recolocou Aristide no poder em 1994, após uma intervenção militar norte-americana.
Aristide deixou o Haiti novamente em 29 de fevereiro de 2004, saindo do país antes do amanhecer num avião norte-americano, enquanto os rebeldes se aproximavam da capital. Ele acusou diplomatas americanos de tê-lo sequestrado, mas Washington nega.