Um adolescente que frequentou o ensino médio com Nikolas Cruz primeiro pensou que talvez houvesse algo "meio estranho com ele. Mas não era nada alarmante".
Foi então que, no decorrer do ensino médio, Cruz “começou a ficar cada vez mais estranho”, disse Dakota Mutchler, de 17 anos. Cruz, segundo ele, estava vendendo facas, postando no Instagram fotos de armas e animais mortos e até chegou a "ir atrás de uma das minhas amigas, ameaçando-a".
Na noite de quarta-feira (14), Mutchler lembrou Cruz como uma figura cada vez mais assustadora, que foi suspenso da escola várias vezes antes de ser expulso no ano passado. "Quando alguém é expulso", Mutchler disse ao Washington Post, "você não espera que eles voltem. Mas, é claro, ele voltou".
Cruz, 19 anos, voltou para o Marjory Stoneman Douglas High School com uma vingança, segundo o xerife do Condado de Broward, que o identificou como o homem armado que atravessou a escola com um rifle de ataque AR-15 matando 17 pessoas e ferindo pelo menos outras 15.
"Acho que todos nesta escola tinham em mente que, se alguém iria fazer isso, provavelmente seria ele", disse Mutchler.
Mutchler falou com a imprensa na quarta-feira à noite, enquanto esperava do lado de fora do Marriott Hotel, onde as famílias e estudantes tinham sido convidados a se reunir para que pudessem se encontrar e ir para casa. Ainda parecendo atordoado, o jovem falou sob a perspectiva de quem viveu a história desde o começo.
Até então não havia nenhuma evidência divulgada pelos policiais sobre o que Mutchler estava então dizendo: que Cruz era um perigo mortal para a escola de cerca de 3.000 alunos.
Há poucos fatos disponíveis sobre a vida do rapaz ao longo dos últimos meses para que seja possível entender o que poderia ter sido feito e o que não deveria ter sido feito. Talvez se todos que conheciam Cruz se sentassem juntos em uma sala e revisassem seu passado e, com mais urgência, seu presente, eles poderiam ter ficado mais alarmados. E havia muito com o que se alarmar.
O professor de matemática, Jim Gard, que deu aulas para Cruz no ano passado antes de ele ser expulso da Stoneman Douglas, lembrou que, em algum momento nesse período, a administração da escola enviou uma nota com uma vaga sugestão de preocupação, pedindo aos professores que observassem Cruz. "Não me lembro da mensagem exata", disse Gard, "mas foi um aviso que nos enviaram por e-mail".
"No ano passado nos disseram que ele não poderia entrar no campus com uma mochila", contou Gard ao Miami Herald. "Houve problemas com ele no ano passado quando ele ameaçou estudantes, e acho que ele foi convidado a deixar o campus".
O presidente do condado de Broward, Beam Furr, disse à CNN que Cruz estava recebendo tratamento em uma clínica de saúde mental por um tempo, mas que ele não voltava lá há mais de um ano. "Não era como se não estivéssemos preocupados com ele", disse Furr à CNN. "Nós tentamos ter um cuidado a mais com as crianças que não estão conectadas ... Neste caso, não encontramos uma maneira de nos conectar com esse garoto".
Depressão
Aparentemente Cruz saiu do radar. Mas ele estava passando por um período difícil.
Sua mãe adotiva, Lynda Cruz, 68, morreu em novembro de pneumonia. Com isso, Cruz perdeu um dos únicos parentes que ele tinha no mundo. A cunhada de Lynda Cruz, Barbara Kumbatovic, disse que o pai adotivo do rapaz, Roger, morreu de um ataque cardíaco há vários anos, deixando Lynda sozinha na criação de Cruz e seu meio irmão.
"Lynda era muito próxima a eles", disse Kumbatovic ao The Post. "Ela colocou muito tempo e esforço nesses meninos, tentando dar a eles uma boa vida e educação".
Um dos meninos era quieto e parecia ficar longe de problemas, mas Nikolas continuava se metendo em problemas na escola, segundo Kumbatovic.
Os vizinhos contaram ao Sun-Sentinel que a polícia foi chamada várias vezes para lidar com reclamações sobre Nikolas. Em uma das vezes ele foi visto atirando em galinhas que pertenciam a um dos moradores da vizinhança.
"Lynda lidou com isso como a maioria dos pais. Ela provavelmente era muito boa para ele", disse Kumbatovic. "Ela era uma mulher encantadora, trabalhadora. Deu a eles uma bela casa, despendeu esforços para que eles fossem a escola, tivessem tempo para brincar, e o que mais eles precisassem. Ela era uma boa mãe e foi além disso, porque ela precisava compensar por ser mãe solteira”.
"Eu não acho que tenha algo a ver com sua educação. Poderia ter sido a perda de sua mãe. Eu não sei", completou ela.
Após a morte da mãe adotiva, Cruz e seu meio-irmão ficaram com amigos em Lake Worth, no condado de Palm Beach. Depois disso ele pediu a um ex-colega da escola se poderia se mudar para a casa dele. O amigo de Cruz e seus pais concordaram em recebê-lo, mas a situação “não estava dando certo”, segundo Jim Lewis, advogado que representa a família que acolheu Cruz.
"A família o trouxe para casa. Conseguiram um emprego para ele em uma loja local. Eles não perceberam nada que pudesse sugerir qualquer violência. Ele estava deprimido, talvez com um comportamento peculiar. Mas eles nunca viram nada violento ... Ele estava um pouco deprimido e parecia estar lidando com isso", disse Lewis.
Anos mais cedo e nos últimos meses, no entanto, jovens que conviviam com Cruz, assim como Mutchler, tinham visto o suficiente para ficarem perturbados.
Tiroteio ocorrido em Goiânia teria sido inspirado pelos caso de Columbine e pelo Massacre do Realengo. #GazetadoPovo #Educação
Publicado por Gazeta do Povo em Terça-feira, 24 de outubro de 2017
Sinais da violência
Joshua Charo, de 16 anos e ex-colega de classe, falou ao Miami Herald que Cruz "só falava sobre armas, facas e caça". Ele contou também que Cruz se juntou ao Corpo de Treinamento dos Oficiais da Reserva Júnior e continuou “a gostar de coisas estranhas", como atirar em ratos com uma arma de pressão.
Drew Fairchild, também um colega de classe durante o primeiro ano de Cruz na escola, concordou. "Ele costumava ter explosões estranhas e aleatórias, amaldiçoando os professores. Ele era um rapaz problemático".
De acordo com Charo, ele foi suspenso da Stoneman Douglas por causa de brigas e porque encontraram munições em sua mochila. Outra ex-colega de classe, Victoria Olvera, de 17 anos, disse que Cruz foi expulso no último ano escolar após uma briga com o namorado de sua ex-namorada.
A polícia não comentou o histórico escolar de Cruz por motivos de privacidade. O xerife do condado de Broward, Scott J. Israel, disse em coletiva de imprensa apenas que Cruz foi finalmente expulso da Stoneman Douglas por "motivos disciplinares".
De acordo com Lewis, Cruz já possuía o AR-15 quando mudou-se para a casa da família de seu amigo e, segundo lhe disseram, a arma havia sido comprada legalmente - algo que as autoridades ainda não confirmaram.
"A arma estava trancada em um depósito próprio, mas ele tinha a chave. Acredito que ela ficava no quarto em que ele dormia", disse Lewis. A família não viu Cruz atirando com o AR-15 desde que ele se mudou.
Uma conta no Instagram que parecia pertencer ao suspeito tinha várias fotos de armas. Uma delas mostrava a mira de uma arma apontada para uma rua do bairro. Em outra apareciam pelo menos seis rifles e revólveres sobre uma cama com a legenda "arsenal". Outras fotos mostravam uma caixa de munições de grande calibre com a legenda "me custou US$ 30". Uma das mais perturbadoras parecia ser a imagem de um sapo morto ensanguentado. A maioria das fotos foi publicada em julho de 2017.
Prisão
Apenas um dia antes do tiroteio Cruz tinha ido trabalhar, de acordo com Lewis. Na maioria dos dias, o pai da família com quem ele estava hospedado deixava o jovem na escola, mas na quarta-feira, Cruz disse à família algo do tipo "eu não vou à escola no dia dos namorados".
As autoridades encontraram e prenderam Cruz não muito longe da casa onde ele estava morando, após uma caçada que aterrorizou a região e espalhou o pânico por muitas escolas próximas.
Michael Nembhard, um aposentado que mora em Coral Springs, disse que testemunhou a ação da polícia ao deter Cruz, bem em frente a sua casa.
Um pouco depois das 15h local, Nembhard estava sentado em sua garagem observando as notícias da TV com a porta da garagem aberta quando ouviu um oficial gritar: "Fique no chão!" Quando olhou para cima, viu um adolescente deitado no chão, vestindo moletom e calça escura. "O policial sacou a arma e apontou para ele", disse Nembhard.
Na entrevista por telefone, Nembhard disse acreditar que Cruz estava caminhando a pé quando foi preso, porque primeiro ele viu apenas um policial e sua viatura ao lado do suspeito, sem outros veículos à vista. Em poucos minutos, no entanto, um enxame de oficiais e viaturas estavam chegando à vizinhança.
A cerca de 150 metros de distância, Nembhard observou enquanto as autoridades algemavam Cruz e o colocavam em uma viatura policial. Poucos minutos depois, as autoridades o levaram em uma ambulância.
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