Enquanto Donald Trump e Kim Jong Un realizam sua cúpula no Vietnã, um grande perigo é deixado de lado pelo foco em armas nucleares: Kim comanda um circo com três arenas de armas de destruição em massa. As outras duas arenas, adjacentes e em muitos aspectos mais assustadoras, incluem armas químicas e, acima de tudo, ameaças biológicas.
Agências de inteligência norte-americanas e sul-coreanas suspeitam que os norte-coreanos mantenham quantidades substanciais de uma variedade de agentes biológicos, incluindo varíola, botulismo, tifo e antraz. Em 2015, a mídia norte-coreana mostrou Kim visitando uma usina biológica. Um ex-funcionário do Pentágono encarregado de combater esses programas disse a jornalistas que as armas biológicas norte-coreanas são “avançadas, subestimadas e altamente letais”.
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Lembro que enquanto os militares dos EUA se preparavam para a Guerra do Golfo no início dos anos 1990, a maioria de nós, uniformizados, tomou uma dúzia de injeções que poderiam reduzir o efeito do antraz, como nos informaram, caso Saddam Hussein lançasse um ataque biológico. As armas biológicas têm algumas vantagens sobre as armas nucleares em termos de disseminação do terror: elas podem ser facilmente contrabandeadas através de fronteiras, e seu uso pode ser muito difícil de atribuir a um autor, ao contrário de uma arma nuclear com uma origem óbvia.
A arena final do circo de armas de destruição em massa – armas químicas – é igualmente perturbadora. Em 2017, dois agentes norte-coreanos supostamente mataram o meio-irmão de Kim em um aeroporto da Malásia usando o agente nervoso VX. As forças armadas norte-coreanas rotineiramente usam armas químicas simuladas em exercícios e treinamentos, e poderiam facilmente incorporar agentes nervosos nas barragens de artilharia de Seul a partir da fronteira. As agências de inteligência sul-coreanas dizem que o Norte pode ter até 5 mil toneladas de agentes químicos, possivelmente incluindo ricina, gás mostarda, cianeto de hidrogênio e o agente nervoso tabun. A Coreia do Norte é uma das três nações que se recusou a assinar a Convenção Internacional sobre Armas Químicas.
Kim ousaria fazer tal ataque? Pode haver algum sentido estratégico. Ele sabe que acionar uma arma nuclear seria assinar sua própria sentença de morte. Mas ele pode ser capaz de criar uma situação muito mais ambígua, na qual ele poderia considerar o uso de algum elemento biológico ou químico. E enquanto as forças norte-americanas e sul-coreanas são treinadas para operar após tal ataque, os civis na península estão essencialmente indefesos – incluindo as famílias de 28 mil militares dos EUA posicionados lá.
Ao se preparar para essa ameaça, Washington tem um trabalho considerável a fazer. Deveria começar aumentando a coleta de inteligência especificamente em relação a ameaças químicas e bio-ameaças, trabalhando em conjunto com os aliados sul-coreanos. Em casa, é preciso haver mais pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de combate aos agentes conhecidos. Isso exigirá um nível muito mais alto de cooperação interinstitucional entre os Departamentos de Defesa, Segurança Interna, Saúde e Serviços Humanos, e o Centro Para Controle de Doenças. As tropas americanas precisam de mais exercícios que simulem operações no ambiente letal de um ataque químico ou biológico.
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Acima de tudo, os EUA devem atrair maior atenção global para a ameaça. Isso significa pressão internacional sobre a Coreia do Norte para assinar acordos globais que proíbam tais armas; tornar essas armas parte da agenda junto com armas nucleares nas negociações da cúpula; e pressionar a Rússia e a China a persuadirem Kim a se livrar de quaisquer estoques antes que as sanções possam ser totalmente levantadas.
As chances de Kim entregar imediatamente todo o seu arsenal nuclear são praticamente as mesmas que as do México pagar pelo belo muro de Trump. Ainda assim, buscar uma conclusão diplomática – não a conversa solta de Trump sobre “fogo e fúria” – para o impasse na península coreana é o caminho a seguir. Mas os EUA também não devem esquecer de colocar outras armas de destruição em massa na mesa.
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*Stavridis é um colunista da Bloomberg Opinion. Ele é almirante aposentado da Marinha dos EUA, ex-comandante militar da OTAN e reitor emérito da Escola Fletcher de Direito e Diplomacia da Universidade Tufts. Ele também é consultor executivo operacional no Carlyle Group e preside o conselho da McLarty Associates.
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