Protesto contra o presidente colombiano, Gustavo Petro, na capital Bogotá, na última terça-feira; segunda mobilização foi marcada para 24 de outubro| Foto: EFE/Mauricio Dueñas Castañeda
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Em política, a expressão lua de mel é utilizada desde 1933, quando o então recém-empossado presidente americano Franklin Delano Roosevelt, surfando na alta popularidade, conseguiu aprovar uma série de medidas nos primeiros cem dias da sua primeira gestão.

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O termo passou a designar aquele período em que um novo governante, ainda colhendo os louros de uma vitória eleitoral, ganha uma espécie de passe livre da população, imprensa e dos seus opositores – antes que as cobranças realmente comecem.

O primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, Gustavo Petro, que tomou posse em 7 de agosto, não se beneficiou de uma lua de mel “plena” nas primeiras semanas de sua administração.

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Em grande parte, porque a população colombiana tem uma desconfiança histórica da esquerda, devido à guerra civil iniciada nos anos 1960 pela atuação de grupos armados. Não ajudou o fato de que o próprio Petro é um ex-guerrilheiro.

Outro fator que pesou contra o novo mandatário foram algumas propostas de seu plano de governo, como não conceder novas licenças para exploração de hidrocarbonetos, que causaram preocupação ainda durante a campanha.

Ainda assim, uma pesquisa publicada no final de agosto mostrou que Petro ostentava uma aprovação de 56%, um pouco acima da porcentagem que obteve no segundo turno da eleição presidencial colombiana (50,4%).

Entretanto, menos de dois meses após a posse, essa tímida lua de mel parece ter chegado ao fim. A pressa de Petro em apresentar reformas e o próprio teor dessas propostas estão desagradando muitos colombianos, e na última terça-feira (26) protestos contra o presidente foram realizados em mais de 20 cidades colombianas e nos Estados Unidos, México, Panamá e Suíça. Uma segunda mobilização foi marcada para 24 de outubro.

Entre os vários pontos criticados na chamada Grande Marcha Nacional, estavam uma reforma do Código Eleitoral, recém-aprovada no Congresso e que os organizadores das manifestações alegam que poderá servir de base para perseguição a partidos e movimentos políticos; a substituição de dezenas de militares de alta patente; e a retomada das relações com a Venezuela.

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Uma proposta de reforma previdenciária, a alta dos preços dos combustíveis e as invasões de terras também foram alvos dos protestos.

Entretanto, o principal tema denunciado nas manifestações foi uma proposta de reforma tributária, que, segundo Petro, tem os objetivos de aumentar a arrecadação do governo para compensar um suposto rombo nas finanças herdado do antecessor Iván Duque e gerar “justiça social”, ao taxar mais os colombianos de alta renda.

O arquiteto Pierre Onzaga, um dos organizadores dos protestos, disse que a proposta pode gerar um grande aumento da inflação na Colômbia.

“Ao taxar o plástico [de uso único] e retirar as isenções da gasolina, acabaria aumentando o preço de todos os alimentos que são embalados em plástico: sal, açúcar, arroz e massas nas lojas de bairro”, alegou.

Outra proposta criticada nas manifestações é o projeto Paz Total: Petro alega pretender reduzir a violência relacionada ao narcotráfico ao negociar acordos de paz com grupos guerrilheiros e discutir a legalização das drogas.

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“Estão priorizando o traficante em detrimento do comerciante, o delinquente ao invés do empresário”, dizia o cartaz de um manifestante em Cali na última terça-feira.

Embora aliados tenham desqualificado as manifestações como protestos da “extrema direita”, Petro disse que os insatisfeitos têm o direito de expressar sua opinião, ainda que tenha sugerido que esses descontentes espalham informações falsas.

“O direito de se expressar sempre será respeitado. Mas sempre teremos o direito de informar quando for difundida desinformação. No geral, as marchas não tiveram violência”, escreveu no Twitter.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]