Kadir López trabalhava no ateliê em sua casa elegante, quando a campainha tocou. Eram os atores Will Smith e sua mulher, Jada Pinkett Smith.
"Eu não fazia ideia de que eles viriam", disse López, cuja obra incorpora placas e cartazes de publicidade americanos derrubados na Revolução Cubana.
Cerca de uma hora e US$ 45 mil (R$ 115,6 mil) depois, Smith tinha comprado "Coca Cola-Galiano", uma placa do refrigerante de 2,40 por 1,20 metro em que López sobrepôs uma fotografia de 1950 de uma das movimentadas ruas comerciais da antiga Havana.
Um ano depois, López continua incrédulo e feliz. "Onde mais no mundo Will Smith aparece na porta da casa de um artista?".
Hoje, colecionadores, especialistas em arte e instituições se preparam ansiosamente para viajar a Cuba, desde que o presidente Barack Obama decidiu afrouxar o embargo econômico à ilha.
Aqui eles vão encontrar um ambiente onde artistas que foram cortados dos suprimentos e da internet ao mesmo tempo foram celebrados por compradores internacionais cuja curiosidade e determinação os trouxe a Cuba muito antes de se falar em um aquecimento de relações.
Os artistas cubanos dos mais estabelecidos aos que ainda estudam no Instituto Superior de Arte recebem visitas de instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova York e de intelectuais ricos que viajam a Cuba em visitas "pessoais", que são permitidas sob o embargo.
"O fenômeno é muito incomum", disse Carlos Garaicoa, um fotógrafo e escultor que divide o tempo entre Havana e Madri. "Duvido que isso aconteça em outro lugar."
Esse canal de amantes da arte deverá crescer, segundo a previsão de Alberto Magnan, cuja galeria Magnan Metz, em Nova York, é especializada em arte cubana.
Magnan recebeu 25 ligações de colecionadores em 17 de dezembro, depois que Obama anunciou que os dois países dariam passos para restabelecer as relações diplomáticas. Agora ele tem visitas a Cuba agendadas até março. "É uma loucura total", disse.
Steve Wilson, um colecionador de Louisville, no Estado do Kentucky, que foi a Havana com Magnan, comprou oito peças, principalmente de jovens artistas, com etiquetas entre US$ 1.500 e US$ 15.000 (R$ 3.850 e R$ 38,5 mil), na Fábrica de Arte Cubano, instalada em uma fábrica reformada.
Wilson, um dos fundadores dos 21c Museum Hotels, que contêm obras de arte contemporânea, disse esperar que a abertura diplomática também lhe permita organizar residências de artistas cubanos nos EUA e vice-versa.
"Eu adoro o fato de que um número maior de pessoas poderá ver esse trabalho", disse ele.
Desde a década de 1990, Cuba deu mais liberdade aos artistas, permitindo que eles viajem e guardem parte de sua renda.
Mas muitos artistas são quase desconhecidos, especialmente fora de Havana, disse Sandra Levinson, fundadora do Centro de Estudos Cubanos em Nova York.
"Acho que ainda há muito a se descobrir", disse Levinson, que estava em Cuba quando surgiu a notícia da distensão política. Ela disse que membros de seu grupo estavam "comprando sem parar".
Jonathan S. Blue, um financista que possui uma dúzia de obras de arte cubanas com preços que variam de US$ 2.500 a US$ 300 mil (R$ 6.420 a R$ 771 mil), disse que voltará a Cuba pela quinta vez.
"Acho que o tempo entre ver uma peça de que eu gosto e a decisão de comprá-la vai diminuir."
As obras cubanas de Blue incluem um disco de vinil feito de fita cassete enrolada, de Glenda León, e duas obras de Alexandre Arrechea, incluindo "Sherry Netherland", uma escultura de aço do hotel-residência de Nova York.
Enquanto os artistas cubanos desfrutam a atenção de estrangeiros , poucos moradores locais têm dinheiro para comprar arte, disse Adrián Fernández, 30, que montou um ateliê em 2013 com os colegas artistas Frank Mujica, 29, e Alex Hernández Dueñas, 32.
Depois de estudar arte de graça durante nove anos, hoje eles são exemplos das contradições que os artistas enfrentam: os três, cujas obras custam entre US$ 500 e US$ 8.000 (R$ 1.285 a R$ 20.560), são representados por uma galeria belga, a Verbeeck-Van Dyck, onde cada um fará uma exposição.
Seu ateliê fica em uma casa em um bairro elegante eles conseguiram um bom negócio com um casal que se divorciou, mas não contam quanto pagaram. Mas têm que trazer de fora tudo de que necessitam, da iluminação às telas. "E ainda moramos com nossos pais", disse Fernández.
Uma coisa que mudará se o número de colecionadores aumentar, segundo Levinson, é que os artistas ficarão menos acessíveis. "Eles não poderão passar o tempo todo se encontrando com estrangeiros. Terão de encontrar tempo para trabalhar."