O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começou a ser investigado pela Câmara dos Representantes, que desde janeiro é dominada pelos democratas. Nesta quinta e sexta-feira já ocorrerão audiências que se propõem a apurar as declarações de impostos do presidente e a política de separação de famílias, adotada na fronteira com o México no ano passado.
Trump chamou as investigações dos democratas de "ridículas" e "assédio presidencial". A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, por sua vez, acusou o presidente de ameaçar os legisladores que juraram fiscalizar o seu poder.
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Até a legislatura anterior, Trump havia enfrentado pouca averiguação de Congresso de maioria republicana, entretanto, desde que assumiu a presidência se vê enredado com investigações de promotores em várias frentes, inclusive sobre sua campanha, sua conduta como presidente, seus negócios, sua instituição de caridade e sua "universidade". Abaixo, detalhamos o que há de mais recente em cada uma destas investigações, e quantos problemas cada um poderia representar para Trump.
Comitê de posse do Trump
O mais recente: Os promotores federais do Distrito Sul de Nova York emitiram uma ampla intimação na segunda-feira (4) para a busca de documentos relacionados a gastos e doações do comitê que organizou a posse de Trump em 2017 – incluindo possíveis contribuições estrangeiras, o que seria ilegal.
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Fator de problema: Esta investigação foi relatada pela primeira vez em dezembro pelo Wall Street Journal, mas não sabíamos muito sobre isso até segunda-feira. A natureza abrangente da solicitação de documentos sugere uma séria investigação criminal – incluindo uma possível conspiração para fraudar os Estados Unidos, fraudes por correspondência, declarações falsas, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro.
Notavelmente, a operação de arrecadação de fundos do comitê de posse foi chefiada por Rick Gates, ex-vice-gerente de campanha de Trump que se declarou culpado na investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a Rússia e está cooperando como parte de um acordo. Também é notável que a intimação menciona especificamente um doador, o investidor de risco de Los Angeles Imaad Zuberi, o que sugere que há uma razão para esse interesse específico.
Conluio da campanha de Trump com a Rússia
O mais recente: doze dias atrás, o assessor político de longa data de Trump, Roger Stone, foi acusado de obstruir uma investigação sobre seus contatos com o WikiLeaks, que divulgou e-mails democratas hackeados pela Rússia durante a eleição de 2016. Também soubemos que o ex-presidente da campanha Trump, Paul Manafort, supostamente mentiu sobre o envio de informações sobre pesquisas de intenção de voto e discutiu um plano de paz pró-Rússia para a Ucrânia com um associado ligado à inteligência russa em 2016. E em dezembro, Michael Cohen se declarou culpado por mentir sobre sua esforços para garantir uma Trump Tower em Moscou durante a campanha de 2016, inclusive ao esconder seus contatos com assessores no Kremlin.
Fator de problema: nenhuma dessas acusações ou acordos – ou quaisquer acusações ou acordos na investigação de Mueller – trataram de conluio ou crimes relacionados. Mas isso não significa que Mueller não esteja atrás disso. (Muitas vezes, os promotores processam por coisas pequenas antes de coisas maiores e mantêm ocultas as provas de crimes maiores.) E todas as três situações – e o fato de que cada homem supostamente mentiu sobre os contatos no ano eleitoral relacionados à Rússia – sugerem que essa continua sendo uma área significativa de interesse de Mueller.
Não sabemos quanto interesse há na reunião da Trump Tower que Donald Trump Jr. arranjou com um advogado russo em 2016, mas não há indicação de que Mueller tenha chamado Trump Jr. a depor – o que alguns sugerem que poderia significar problemas para ele. O site Politico relatou que Trump Jr. disse aos amigos que ele está preocupado em ser indiciado.
Obstrução da Justiça
O mais recente: esta investigação é mais difícil de entender, dado que não sabemos se o que vemos em público seria de interesse para Mueller. O BuzzFeed informou que Cohen disse aos investigadores que Trump pediu que ele mentisse ao Congresso sobre a Trump Tower de Moscou, mas a equipe de Mueller tomou a iniciativa inédita de emitir uma nota de negação. Trump sugeriu investigações da família de Cohen e tem havido muitos outros exemplos de Trump pressionando figuras-chave na investigação da Rússia, começando pelo ex-diretor do FBI James Comey.
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Fator de problemas: Simplesmente não temos ideia, e tudo depende de qual é o limite para obstrução da justiça. Embora cada ação, como a de demitir Comey, não ultrapasse esse nível, há um padrão claro de comportamento possivelmente voltado para impactar a investigação.
Também notavelmente, o procurador-geral dos EUA, William Barr, em sua audiência de confirmação, reafirmou declarações de seu memorando de 2017 de que um presidente pode cometer obstrução de justiça como qualquer outra pessoa.
Violações de financiamento de campanha
O mais recente: em dezembro, ficamos sabendo que a controladora da National Enquirer, a American Media Inc. (AMI), recebeu imunidade na investigação sobre pagamentos em dinheiro feitos em nome de Trump para silenciar duas mulheres que o acusavam de ter tido um relacionamento extraconjugal, Karen McDougal e Stormy Daniels. A procuradoria também deixou claro que a AMI disse que o pagamento a McDougal tinha como objetivo "abafar a história de McDougal, de modo a evitar que ela influenciasse a eleição". Isso é fundamental, porque esse é o limite para esses pagamentos serem considerados violações de financiamento de campanha. Isso significa que tanto Cohen quanto a AMI disseram que esses pagamentos se relacionaram à campanha.
Fator de problema: em sua declaração de culpa no ano passado, Cohen implicou Trump nessas violações de financiamento de campanha. Agora, há mais pessoas estabelecendo estas violações como crimes. Isso não significa que os promotores consideram que Trump tenha feito algo ilegal. Trump, por sua vez, admite que aprovou os pagamentos, mas diz que não orientou Cohen a fazê-los ilegalmente. Cohen diz que Trump sabia que isso seria ilegal, mas a questão é se ele tem provas e quantas provas os promotores exigem.
Os níveis desconhecidos de cooperação do chefe da AMI, David Pecker, e do antigo CFO da Trump Organization, Allen Weisselberg, são causa de preocupação aqui.
Organização Trump
O mais recente: A Organização Trump é o tema mais comum que poderia aparecer em várias dessas investigações. Mas sobre ela especificamente, procuradores-gerais em Maryland e no Distrito de Columbia intimaram registros financeiros e documentos relacionados aos negócios de Trump como parte do processo para saber se a organização violou a cláusula de emolumentos da Constituição. A nova procuradora-geral de Nova York, Letitia James, também disse que planeja lançar grandes investigações sobre as práticas comerciais de Trump, inclusive sobre uma reportagem do New York Times que afirmou que o pai de Trump, Fred Trump, entregou centenas de milhões de dólares em patrimônio para seus filhos por esquemas tributários.
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"Estarei lançando uma luz brilhante em todos os cantos escuros de seus negócios imobiliários e em todos os negócios, exigindo honestidade a cada passo", disse James.
Fator de problema: Neste caso, são os estados que investigam Trump, enquanto o Departamento de Justiça está defendendo Trump – isso ocorre particularmente quando se trata do caso de emolumentos. Os democratas da Câmara também estão prometendo investigar tudo isso. Mas além dos supostos esquemas tributários, não sabemos muito sobre a suposta atividade criminosa.
Fundação Trump
O mais recente: Trump em dezembro concordou em fechar sua fundação de caridade depois de anos de investigações sobre o uso da entidade para fins pessoais e políticos.
Fator de problemas: O acordo surgiu de uma ação movida pela então procuradora-geral de Nova York, Barbara Underwood. Underwood pediu à agência Internal Revenue Service (Receita Federal dos EUA) e à Comissão Eleitoral Federal que investiguem se a fundação de caridade violou leis tributárias. Não está claro se eles estão investigando, mas especialistas em leis eleitorais dizem que há motivos.
‘Universidade’ Trump
O mais recente: em abril, um juiz federal concluiu um acordo de US$ 25 milhões para milhares de estudantes que alegaram ter sido enganados pela Trump University, o seminário sobre mercado imobiliário com fins lucrativos criado por Trump e que não era uma faculdade credenciada.
Fator de problema: não parece que Trump enfrenta mais exposição legal neste caso. Uma advogada da Flórida que queria rejeitar o acordo para que Trump fosse levado a julgamento não conseguiu reverter a decisão em um tribunal de apelações.