Curitiba O cenário chocante visto recentemente em Virginia Tech, nos Estados Unidos, reacende as discussões sobre os diversos contornos que a violência apresenta em diferentes sociedades. No caso norte-americano, o que os especialistas mais apontam é a acirrada competitividade que acompanha o cidadão desde os primeiros anos de estudo. Uma sociedade em que ninguém quer ser chamado nem visto como "loser" (perdedor). A regra é clara: quem tem as maiores notas no período escolar irá para as melhores universidades do país. Ou seja, um caminho sem volta para aqueles nem tão aplicados. Esses não terão a oportunidade de repetir o vestibular e tentar mais uma vez, como é no Brasil.
Um problema psíquico associado a essa "panela de pressão" parece ser a receita de histórias trágicas como Virginia Tech. Outro fator que potencializa tragédias como essa é a exclusão social daqueles considerados "diferentes", seja lá por qual critério... classe social, raça e outros.
Enquanto isso, na Europa a violência das gangues juvenis ganha as ruas dos grandes centros urbanos e reflete a desesperança, principalmente sobre o desemprego e a competição no mercado de trabalho com as novas gerações de imigrantes. O argumento dos europeus é: os filhos de imigrantes jogam o valor dos salários pagos para baixo.
Um problema que começa a preocupar. Metrópoles como Londres, em que os policiais andavam desarmados, estão revendo suas práticas diante do aumento da ação de gangues juvenis.
Já a violência brasileira vem sendo alimentada pela desigualdade social e a falta de esperança de "sair da miséria". Sem entrar no mérito do crime organizado, a violência cotidiana das cidades brasileiras acaba por ser justificada pelos especialistas pelo abismo do desnível social e da carência de perspectivas, aliado à propensão ao crime.
"Nos Estados Unidos, apesar de não ter tanta violência urbana como temos no Brasil, o ambiente mais competitivo e o discurso que preza mais a diferença do que a igualdade entre as pessoas podem levar a cenários como o de Columbine", analisa Eduardo Brito, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. Em Columbine (veja quadro), há oito anos, dois jovens mataram 12 estudantes e um professor antes de se suicidarem. Outro agravante é o fácil acesso às armas em território norte-americano, diz.
Na Europa não se vê culto à violência no mesmo grau que ocorre nos Estados Unidos, comenta Brito. Ou seja, a violência não ganha status de espetáculo midiático, seja na tevê, cinema e outros.
A repulsa e exclusão aos "losers" remontam aos idos da colonização americana em que o sucesso já era visto como modo de agradecer a Deus, uma forma de se pagar o pecado original pelo trabalho, comenta Carlos Alberto Almendra, pesquisador do Centro de Estudos da Violência da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Essa foi a raiz da ostentação à riqueza da escola ao mundo dos negócios."
No cenário europeu, a competição com imigrantes por empregos leva à xenofobia e à segregação cultural, acirrando focos de violência entre grupos, diz Almendra.
Nesse sentido, a violência ganha forma de manifestação e socialização, ou seja, um modo de mostrar o quanto determinado grupo se sente excluído da sociedade, das políticas públicas de benefícios sociais e do mercado de trabalho, comenta Francisca Soares, socióloga da Uninorte Faculdade Norte Paranaense. "A violência surge como cultura de grupos."