Debbie Biro virou republicana para votar em Donald Trump. Democrata a vida toda, Debbie, de 57 anos, é uma mãe solteira que vai à igreja, pratica ioga e não come carne. Ela trabalha em um escritório da fábrica da Crayola Crayons aqui perto e pode identificar seu “ponto de virada” – o momento em que se convenceu de que Trump é “um líder forte e vai fazer as coisas”.
Foi em janeiro, quando ele cancelou sua ida a um debate em Iowa para recepcionar uma arrecadação de fundos para veteranos – um evento que depois levantou questões sobre quanto dinheiro ele doou. O pai de Debbie serviu na Guerra da Coreia, ela diz que admira as habilidades de negócio de Trump “e pensei que seria bom vê-lo tomando conta dos veteranos”.
Na próspera Naples, na Flórida, Sue Gauta, de 47 anos, casada com um médico e dona de um pequeno negócio, também escolheu Trump. Assim como Wanda Lincoln, de 67 anos, administradora de faculdade aposentada que ainda trabalha para pagar as contas em uma cidade industrial empobrecida no Maine. E Kyleigh Ostendorf, de 26 anos, que vive em Los Angeles e produz gráficos para a ESPN.
Enquanto os Estados Unidos dissecam o resultado da eleição presidencial, uma tendência se destaca: dezenas de milhares de mulheres – 53 por cento de todas as eleitoras brancas, segundo pesquisas de boca de urna – escolheram Trump, desempenhando um papel crucial em sua vitória.
Em entrevistas aqui no Vale Lehigh – uma região que indica tendências em um “swing state”, um estado decisivo, que ajudou a eleger Trump – e por todo o país, as apoiadoras contaram que seu voto era para Trump e não contra Hillary Clinton. Os EUA estão no caminho errado, disseram elas, e apenas Trump poderia resolver isso.
São mulheres que querem que suas filhas cresçam e administrem negócios – e que têm suas próprias empresas. Muitas afirmaram que estavam ansiosas por ter uma mulher como presidente. Elas ficaram ofendidas com os comentários vis de Trump sobre as mulheres que foram gravados? Com certeza. Elas acreditam nas mulheres que se apresentaram para dizer que Trump havia passado a mão nelas? Não necessariamente. E isso fez com que não votassem nele? Não.
Enquanto as opositoras levaram ao Twitter a hashtag #NotOkay, marcando Trump como misógino ou pior, suas defensoras viram “um bom homem e um bom pai”, afirma Mary Barket, chefe da Federação de Mulheres Republicanas da Pensilvânia, que conhece Debbie Biro da igreja e a ajudou a se envolver na campanha de Trump. Debbie, que afirma ser “uma pessoa quieta e reservada”, nunca havia batido na porta dos outros ou trabalhado com política antes. Mas passou um dia de cada semana desde agosto buscando votos para Trump.
Enquanto aqueles que votaram contra Trump viram uma pessoa que levou negócios à falência e evitou pagar impostos, essas mulheres dizem que enxergaram um homem que construiu um império de imóveis e simplesmente seguiu as leis. Elas viram um homem que criou e promoveu uma filha linda e bem-sucedida, Ivanka, e que deixou uma estrategista esperta e talentosa, Kellyanne Conway, administrar sua campanha presidencial.
“Acho que as mulheres veem o quadro geral – são espertas. O fato de ele ter dito algo grosseiro, não vai mudar minha cabeça sobre o bem que ele pode fazer ao nosso país”, acredita Sue Gauta.
“Eu gostei daquilo? Não. Se eu acho que ele pode fazer um trabalho melhor do que a Hillary? Com certeza. Acredito que ele tem os melhores interesses do país em vista. Ele possui uma família linda; ele quer deixar o país bacana – o grande país em que ele cresceu, para seus filhos. E acho que disse que a única maneira que poderia fazer isso era sendo presidente.”
Ela levou seus filhos de 14 e 16 anos para um comício de Trump e diz que “ficou ainda mais impressionada com ele ao vivo do que na televisão”. Mas quanto a sua boca suja: “Se um dos meus filhos algum dia dissesse qualquer coisa assim, eu o colocaria sobre o joelho e lhe daria uma surra”.
Em Chicago, Nicole Been, de 22 anos, uma católica romana que frequenta a Universidade DePaul, opõe-se profundamente ao aborto e à cultura de encontros casuais. Ela reclama que outros estudantes a classificaram de racista e intolerante por apoiar Trump.
Na Filadélfia, Daphne Goggins, de 53 anos, ativista comunitária afro-americana e republicana ardente, sempre soube que votaria em Trump. Ela diz que acredita que décadas de esforços democratas fizeram pouco pelos negros. Quando Trump a convidou para uma reunião para se encontrar com as minorias, ela contou a ele em lágrimas que “pela primeira vez na vida estou sentindo que meu voto vai contar”. (Apenas 4% das mulheres negras, segundo pesquisas de boca de urna, apoiaram Trump, enquanto 26% das latinas o fizeram.)
Para as mulheres entrevistadas, assim como para os apoiadores de Trump, a economia era a preocupação principal. Sue Gauta e seu marido estão cansados de pagar US$ 1.800 por mês de seguro saúde, com uma dedução anual de US$ 12 mil. Wanda Lincoln, a administradora de universidade aposentada, hoje trabalha com o marido em uma mecânica em Old Town, no Maine, para ajudar a pagar as contas.
Kyleigh Ostendorf, a produtora de gráficos de Los Angeles, viu o negócio de US$ 1 milhão do pai implodir na crise econômica de 2008. Ele voltou ao trabalho fazendo manutenção para a ACM.
“Eu vi os EUA caindo aos pedaços. E uma boa parte do que me atraiu em Trump foi seu plano para os negócios”, diz ela.
Elas dizem que também estão preocupadas com os EUA que parecem ter abraçado o multiculturalismo e o politicamente correto sem questionamentos. Afirmam que não entendem o movimento Black Lives Matter, a razão por que os democratas parecem tão focados no acesso dos transgêneros aos banheiros e tendem a ficar irritadas pela maneira como os veteranos são tratados e a violência que é direcionada à polícia. Elas estão preocupadas com a imigração e a ameaça de terrorismo
A pesquisadora democrata Celinda Lake diz que os democratas esperavam que “uma onda de mulheres” apoiasse Hillary Clinton, mas isso não aconteceu. Enquanto Hillary se saiu melhor com as mulheres em quase todos os grupos demográficos, diz Celina, “Trump ganhou de maneira muito sólida o voto das mulheres brancas, e sabemos que isso foi alimentado pelas operárias brancas”.
Debbie está próxima desse modelo, embora se considere de classe média, ela não fez faculdade. E Nazareth, uma comunidade de classe média do condado de Northampton, é o tipo de lugar em que Trump foi bem.
Ainda assim, sentada na cozinha de sua arrumada casa em estilo Cape Cod, com uma placa Trump-Pence ainda fincada do lado de fora e um pôster que fala da paz como o caminho para a iluminação na parede da sala, Debbie expressa as mesmas esperanças e medos para o país que os apoiadores de Hillary têm agora.
“Espero que ele tente unir as pessoas”, diz ela sobre o presidente eleito. “Temos que ajudar as pessoas a se curar, assim elas podem aprender a confiar e ter fé que as coisas vão dar certo.”