Agora é época de plantio no "Cinturão do Milho" dos EUA. Sementes que acabaram de ser plantadas se tornarão plantas que, com a mistura balanceada de luz solar e chuvas, estarão na altura dos joelhos por volta do feriado americano de Quatro de Julho (data da Independência do país) e maduras para a colheita até o final de agosto.
Vale lembrar que o milho é muito mais do que um ótimo ingrediente para piqueniques de verão. A civilização deve muito a este vegetal e aos primeiros povos que o cultivaram.
Durante grande parte da história da humanidade, nossos ancestrais sobreviveram da caça de animais e da colheita de sementes, frutas, castanhas, bulbos e outras partes de plantas retiradas diretamente da natureza. Faz "apenas" 10 mil anos que os humanos de várias partes do mundo começaram a criar rebanhos e se dedicar a agricultura. Tais avanços representaram fontes mais confiáveis de alimento e permitiram assentamentos maiores e mais permanentes. Só os nativos americanos dominaram as técnicas de nove dos mais importantes cultivos do mundo, incluindo o do milho, também chamado de maiz (Zea mayz), que representa 21% da nutrição humana em todo o globo.
Todavia, apesar de sua abundância e importância, a origem biológica do milho é um mistério. Este saboroso e brilhante grão amarelo que conhecemos tão bem não cresce de maneira selvagem (sem ser cultivado), e descobrir seus ancestrais não é uma tarefa óbvia. Recentemente, entretanto, o trabalho de detetive realizado por botânicos, geneticistas e arqueólogos conseguiu identificar um ancestral selvagem do milho, o ponto de partida para sabermos de onde a planta atual se originou, o que também possibilitou determinar quando os povos antigos começaram a cultivar o grão e utilizá-lo em suas dietas.
Já no início do século 20, alguns cientistas descobriram evidências de que o milho seria "parente" de uma planta pouco provável, uma espécie de grama mexicana chamada de teosinto.
George W. Beadle, enquanto ainda era um simples aluno da Universidade Cornell, no início da década de 1930, descobriu que o milho e o teosinto possuíam cromossomos muito similares. Além disso, ele produziu híbridos férteis do milho e do teosinto que pareciam como intermediários entre as duas plantas. Ele até relatou que conseguia fazer que os grãos do teosinto estourassem como pipoca. Beadle concluiu que as duas plantas eram membros da mesma espécie, sendo o milho a forma domesticada do teosinto. O pesquisador também realizou outras descobertas fundamentais na genética, pelas quais dividiu o prêmio Nobel em 1958. Mais tarde, ele se tornou reitor e presidente da Universidade de Chicago.
Apesar da ilustre reputação de Beadle, sua teoria ainda gerava dúvidas três décadas depois de ter sido proposta. As diferenças entre as duas plantas pareciam, para muitos cientistas, grandes demais para terem evoluído em apenas alguns milhares de anos de domesticação. Para comprovar sua tese, Beadle cruzou o milho com o teosinto, depois cruzou os híbridos, e produziu 50 mil plantas. O cientista obteve plantas que pareciam teosinto e milho a uma frequência que indicava que apenas quatro ou cinco genes controlavam as grandes diferenças entre as duas plantas.
Os resultados dos estudos de Beadle mostraram que o milho e o teosinto eram, sem dúvida, muito próximos. Mas, para precisar a origem geográfica do milho, mais técnicas forenses definitivas eram necessárias. O cientista optou por utilizar testes de DNA para comprovações de parentesco, a mesma tecnologia usada pelos tribunais para determinar a paternidade de um indivíduo.
Para rastrear a paternidade do milho, botânicos liderados por John Doebley, da Universidade do Wisconsin, reuniram mais de 60 amostras de teosinto de todo o seu alcance geográfico no Hemisfério Ocidental e compararam seu perfil genético com todas as variedades de milho. Eles descobriram que todos os milhos eram geneticamente mais similares a um tipo de teosinto do vale do rio Balsas, no sul do México, sugerindo que esta região foi o "berço" da evolução do milho. Além disto, ao calcular a distância genética entre o milho moderno e o teosinto de Balsas, eles estimaram que a domesticação do milho ocorreu há cerca de 9 mil anos.
Mais tarde, pesquisadores liderados por Anthony Ranere, da Universidade Temple, e Dolores Piperno, do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, escavaram cavernas e abrigos de rocha na região, em busca de ferramentas usadas pelos seus moradores, grãos de amido de milho e outras evidências microscópicas de grãos da planta. No abrigo Xihuatoxtla, eles descobriram uma série de ferramentas para polir pedras com resíduo de milho. As ferramentas mais antigas foram encontradas em uma camada de depósitos com 8.700 anos de idade. Esta é a evidência mais antiga do uso do milho obtida até hoje.
O processo de domesticação deve ter ocorrido em muitos estágios. O passo mais crucial foi soltar as sementes de teosinto de seus invólucros resistentes. Outro passo foi desenvolver plantas cujas sementes ou grãos permanecessem intactos nas espigas, ao contrário do que acontecia com o teosinto, que soltava as sementes individualmente. Os primeiros agricultores tiveram que observar entre suas mudas, quais delas possuíam os grãos nutritivos ao menos parcialmente expostos ou cujas espigas eram mais bem formadas, ou que possuíam um maior número de grãos por espiga, a fim de cultivar somente as melhores plantas. Estima-se que o processo inicial de domesticação que produziu a forma básica do milho que conhecemos hoje durou de algumas centenas a alguns milhares de anos.