O dia 11 de setembro de 2001 foi um dos mais decisivos para a história dos Estados Unidos. Naquela manhã, 19 terroristas associados à Al Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais e os lançaram contra alvos em solo americano. Duas aeronaves colidiram com as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, outra atingiu o Pentágono, em Washington, e a quarta - que provavelmente tinha como alvo a Casa Branca ou o Capitólio - caiu em um campo na Pensilvânia.
Os ataques terroristas coordenados mataram 2.976 pessoas, deixaram muitas outras feridas e o mundo atônito. Relembre os eventos que antecederam os atentados e os principais momentos da tragédia, que foram assistidos ao vivo pela televisão por milhões de pessoas.
Antes dos ataques
A União Soviética invadiu o Afeganistão em 1979. Soldados afegãos chamados mujahideen tentavam combater a superpotência soviética. No início da década de 1980, os Estados Unidos começam a apoiar os afegãos e a enviar armas para o combate aos soviéticos.
Assim como muitos muçulmanos estrangeiros, o saudita Osama bin Laden lutava ao lado dos mujahideen, e foi um dos líderes de uma organização que arrecadava recursos, armas e combatentes para o Afeganistão. Em 1988, bin Laden e outros extremistas islâmicos formam a organização chamada Al Qaeda (A Base). Em fevereiro de 1989, as tropas soviéticas são derrotadas e deixam o Afeganistão.
Em 1996, Bin Laden faz uma declaração pública de "guerra contra os americanos que ocupam a terra dos dois locais sagrados" e pede por uma jihad global contra os Estados Unidos. A principal reclamação dele era sobre a presença americana na Arábia Saudita: após o Iraque de Saddam Hussein invadir o Kuwait em 1990, forças dos EUA trabalharam com a coroa saudita para proteger a Arábia Saudita, e continuavam lá seis anos depois.
Para Bin Laden, os EUA eram o inimigo que estava manipulando o Oriente Médio e deveria ser derrotado pela união dos muçulmanos. O primeiro grande atentado da Al Qaeda contra os EUA foi em agosto de 1998, com dois ataques simultâneos contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia.
Nesse período, o Talibã controlava grande parte do Afeganistão, depois de ter vencido a guerra civil que ocorreu após a retirada dos soviéticos. Entre 1996 e 2001, o grupo deu abrigo a Al Qaeda em território afegão.
11 de setembro - Minuto a minuto
O voo 11 da American Airlines decola de Boston com 11 membros da tripulação, 76 passageiros e cinco sequestradores a bordo. A aeronave estava abastecida com mais de 38 mil litros de combustível para o voo programado até Los Angeles.
O voo 175 da United Airlines decola de Boston, com destino a Los Angeles, com nove tripulantes, 51 passageiros e cinco sequestradores a bordo. A aeronave também estava abastecida com mais de 38 mil litros de combustível.
Comissárias de bordo do voo 11 fazem contato com a equipe de solo. A comissária Betty Ong alerta a equipe da American Airlines sobre o sequestro do voo. Em uma ligação pelo telefone do avião que durou 25 minutos, ela relata que a cabine do piloto está trancada e que um passageiro foi esfaqueado. Daniel M. Lewin era ex-militar do Exército israelense e pode ter tentado deter os sequestradores, diz relatório da Comissão do 11/9. Ong informa à American Airlines o número dos assentos dos sequestradores.
O voo 77 da American Airlines, com destino a Los Angeles, decola do Aeroporto de Dulles, em Washington, com seis tripulantes, 53 passageiros e cinco sequestradores a bordo.
Sequestradores do voo 11 desligam o transponder do avião (dispositivo que permite o monitoramento da rota do voo).
Ao tentar se comunicar com os passageiros do voo 11, o sequestrador Mohamed Atta acaba transmitindo por engano a mensagem para o controle aéreo. "Temos alguns aviões. Apenas fiquem quietos e vocês ficarão bem. Estamos voltando para o aeroporto". Minutos depois, Atta transmite nova mensagem não intencional ao controle aéreo. Pelo menos uma dessas mensagens é ouvida pelo piloto do voo 175, que informa a Administração Federal de Aviação, minutos antes de ter o seu próprio avião sequestrado pelos terroristas.
Depois de várias tentativas, a comissária do voo 11 Madeline Amy Sweeney consegue ligar para um amigo em solo, um gerente no Aeroporto de Boston. Em cerca de 12 minutos, ela fornece informações cruciais sobre o sequestro, incluindo a descrição dos terroristas.
Após ouvir a transmissão de Atta, o Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Boston faz um alerta à Força Aérea dos EUA, que mobiliza jatos da Guarda Aérea Nacional de uma base em Massachusetts para seguir o voo 11.
O voo 93 da United Airlines, que tinha sofrido um atraso, decola do Aeroporto de Newark com sete tripulantes, 33 passageiros e quatro sequestradores a bordo. O voo estava originalmente destinado a San Francisco.
O voo 11 se choca contra os andares 93 a 99 da Torre Norte do World Trade Center, em Nova York, matando instantaneamente todos que estavam a bordo. Todas as três escadarias de emergência ficam danificadas e centenas de pessoas ficam presas nos pisos acima do 91° andar.
O serviço de emergência de Nova York envia policiais, paramédicos e bombeiros à Torre Norte. O chefe do Departamento de Bombeiros de Nova York, que testemunhou a colisão a 14 quarteirões de distância, envia novos alarmes e convoca equipes e veículos. O Departamento de Polícia da Autoridade Portuária, responsável pela segurança do WTC, também mobiliza equipes.
O presidente George W. Bush, que visitava uma escola primária na Flórida, é avisado que um avião pequeno colidiu com a Torre Norte do WTC.
Oficial da segurança da Autoridade Portuária anuncia pelo sistema do edifício que a Torre Sul está segura e não há necessidade de evacuação.
Sargento da polícia da Autoridade Portuária emite ordem de evacuação das duas torres. Um minuto depois, amplia a ordem para todos os civis de todo o complexo do WTC.
Passageiros do voo 175 ligam para familiares e informam sobre o sequestro. Minutos antes, um comissário de bordo havia alertado a United Airlines em San Francisco.
Sequestradores lançam o avião 175 contra os andares 77 a 85 da Torre Sul do WTC, matando todos a bordo e um número desconhecido de pessoas no prédio imediatamente. O impacto é transmitido ao vivo pela televisão. Duas das três escadarias de emergência ficam sem passagem, deixando muitos presos acima da zona de impacto. Muitos acabam saltando das janelas.
O espaço aéreo sobre NY é interditado e a polícia e os bombeiros mobilizam reforços adicionais, incluindo pessoal fora de serviço e da região metropolitana.
O presidente Bush é alertado por um assessor sobre o segundo impacto. Vinte e cinco minutos depois, Bush faz um pronunciamento de cerca de um minuto, ainda na escola primária, chamando os ataques de "tragédia nacional". "Terrorismo contra nossa nação não será tolerado". Ele e outras autoridades deixam a escola às 9:35 para embarcar no Air Force One, que decola às 9:54 sem destino definido. Bush quer retornar à Casa Branca, mas sua equipe de segurança recomenda o pouso em uma base aérea na Louisiana.
Comissária de bordo do voo 77 liga para sua mãe e avisa que sequestradores tomaram o controle do avião, obrigando passageiros e tripulantes a ficar na traseira do avião. A mãe da comissária liga para a American Airlines. Minutos depois, uma passageira liga para o seu marido, no Departamento de Justiça, e informa que os sequestradores tomaram o controle usando facas e estiletes. Ele alerta outras autoridades federais.
O vice-presidente Dick Cheney é levado ao centro de operações de emergência presidencial no subsolo da Casa Branca.
O voo 77 da American Airlines colide com o Pentágono, o Departamento de Defesa dos EUA. O impacto e posterior incêndio matam 125 militares e civis no local, além de todos que estavam a bordo do voo.
A Administração Federal de Aviação (FAA) fecha o espaço aéreo dos EUA, ordenando o pouso de todos as aeronaves civis no aeroporto mais próximo.
Evacuações têm início na Casa Branca e no Capitólio, sede do Congresso americano em Washington D.C.
A Agência de Segurança Nacional intercepta uma ligação telefônica entre uma pessoa ligada a Osama bin Laden, no Afeganistão, e uma pessoa na República da Geórgia, dizendo que tinha boas notícias e que outro alvo havia sido atingido.
Passageiros do voo 93 fazem pelo menos 37 ligações ao 911, número dos serviços de emergência nos EUA. A última foi feita às 9:58 por um passageiro que ligou de seu celular e, como o avião voava baixo, conseguiu contato com um operador na Pensilvânia.
Após pegar fogo por 56 minutos, a Torre Sul do WTC colapsa em dez segundos. Mais de 800 civis e socorristas morrem.
O voo 93 cai em um campo em Shanksville, Pensilvânia, depois de os passageiros e tripulantes terem invadido a cabine do piloto para tentar retomar o controle. Todos a bordo morrem na queda, que ocorreu a um distância de aproximadamente 20 minutos de voo até Washington DC.
Após 102 minutos de incêndio, a Torre Norte desaba. Mais de 1.600 pessoas morrem como resultado do ataque a essa torre.
O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, que estava perto do WTC quando a primeira torre caiu, se abrigou em um edifício comercial na área. Ao caminhar em direção a uma base temporária de operações da prefeitura, Giuliani fala a repórteres e pede que a população evacue a área da Baixa Manhattan.
O último avião que sobrevoava o espaço aéreo dos EUA pousa. Cerca de 4.500 foram obrigados a pousar nas duas horas e meia anteriores. Com os voos cancelados, passageiros ficam isolados e outras opções como trens, ônibus ou carros alugados são cancelados ou se esgotam rapidamente.
Grupo de 13 socorristas e um civil que sobreviveram à queda da Torre Norte é localizado. Eles tentavam deixar o prédio quando houve o colapso, e a parte baixa da escadaria onde estavam resistiu à queda.
O Air Force One, que levava o presidente Bush e membros de sua equipe, pousa em uma base aérea no Nebraska. Mais cedo, enquanto sobrevoava em busca de opções seguras, o avião fez um pouso em base aérea da Lousiana. Bush retornou a Washington DC naquela noite, pousando na Base Aérea Andrews e seguindo de helicóptero até a Casa Branca.
Socorristas resgatam Pasquale Buzzelli, um funcionário da Autoridade Portuária, dos escombros da Torre Norte. Ele estava em algum lugar entre o 13° e o 22° andar quando o prédio caiu, e sobreviveu com um pé quebrado e escoriações.
O edifício sete do complexo do World Trade Center desaba. O prédio de 47 andares havia sido evacuado e não há vítimas da queda.
O presidente George Bush faz um pronunciamento à nação. Da Casa Branca, ele declara: "Eu direcionei todos os recursos de nossas comunidades de inteligência e aplicação da lei para encontrar os responsáveis e levá-los à justiça. Não faremos distinção entre os terroristas que cometeram esses atos e aqueles que os abrigam".
Socorristas localizam dois oficiais da Autoridade Portuária vivos nos escombros. Um deles é resgatado após três horas e o segundo, após oito horas de escavações.
Equipes de socorro fazem o último resgate de pessoa viva no WTC. No total, 20 pessoas foram retiradas com vida dos escombros.
Após o 11 de setembro
Estados Unidos lançam a Operação Liberdade Duradoura, ao lado de outros países, com o objetivo de remover o Talibã do Afeganistão, depois que o grupo se recusou a entregar Osama bin Laden, líder da Al Qaeda. Após cerca de dois meses, o Talibã é derrubado do poder no país.
Um governo de transição no Afeganistão comandado por Hamid Karzai é estabelecido em Cabul.
Enquanto as atenções estão voltadas para a invasão dos EUA ao Iraque, o Talibã e outros grupos extremistas se reagrupam no Afeganistão.
A Comissão Nacional sobre os Ataques contra os EUA, formada em 2002 para investigar os eventos do 11 de setembro, publica o seu relatório final, apontando Khalid Sheikh Mohammed como "principal arquiteto" dos atentados. Ele permanece preso em na base naval na Baía de Guantánamo, Cuba. O seu julgamento estava marcado para este ano, mas foi adiado por causa da pandemia de Covid-19.
Nos primeiros meses da presidência de Barack Obama nos EUA, o número de soldados americanos no Afeganistão aumenta para 68 mil. Em dezembro do mesmo ano, as tropas americanas no país chegam a cerca de 100 mil. O objetivo era conter o Talibã e fortalecer as instituições afegãs.
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda identificado como a mente por trás dos atentados, é localizado e morto por forças especiais dos Estados Unidos no Paquistão, onde ele estava se escondendo.
Obama anuncia que os EUA começarão a retirada de tropas do Afeganistão, em meio às primeiras tentativas de negociações entre EUA, Talibã e governo afegão. Em dezembro do mesmo ano, os EUA retiram suas tropas do Iraque.
A Otan encerra formalmente as operações de combate no Afeganistão e transfere oficialmente a responsabilidade pela segurança do país ao governo afegão. Tem início a Operação Apoio Resoluto, para dar suporte ao governo afegão e treinamento militar para o combate a grupos terroristas.
O governo dos Estados Unidos, sob a administração Donald Trump, assina um acordo de paz com o Talibã em Doha, no Qatar, sem a participação do governo afegão. Os EUA se comprometem a retirar suas tropas do Afeganistão em 14 meses. Em troca, o Talibã se compromete a não permitir que grupos terroristas usem o território controlado pelo grupo no Afeganistão para ações que ameacem a segurança dos EUA e de seus aliados. Nos 18 meses seguintes, as tropas americanas são gradativamente retiradas e milhares de combatentes do Talibã são libertados da prisão.
O prazo inicial para a retirada total das tropas americanas era 1° de maio de 2021. Nos seus últimos dias na Casa Branca, Trump anuncia que as forças americanas no país foram reduzidas para 2.500 militares.
Ao assumir a presidência, Joe Biden anuncia que irá manter o acordo de Trump, mas muda o prazo para a retirada completa para 11 de setembro de 2021.
Após conquistar grande parte do território afegão com uma rápida ofensiva lançada em maio, o Talibã toma o poder em Cabul e declara vitória.
Enquanto a caótica operação de evacuação continua no Afeganistão, a filial do Estado Islâmico no país realiza um atentado suicida que mata mais de 180 civis afegãos e 13 militares americanos.
O último avião militar americano deixa o Afeganistão, encerrando 20 anos de presença militar ocidental no país asiático.
Com informações do 9/11 Memorial.
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