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Energia

Às vésperas do inverno europeu, tensões com a Rússia geram preocupação sobre fornecimento de gás

Bandeiras da Rússia e da Gazprom em frente à sede da estatal de gás natural, em Moscou (Foto: EFE/EPA/MAXIM SHIPENKOV)

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Com o inverno começando na Europa em dezembro, uma série de ações da Rússia, fornecedor de cerca de 40% do gás natural que abastece a União Europeia (UE), vem trazendo tensões à comunidade internacional: o apoio a Belarus na crise dos migrantes na fronteira com a Polônia; a concentração de tropas russas na fronteira com a Ucrânia; e a realização de um teste com míssil antissatélite, confirmado pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Considerando essa escalada da animosidade entre o governo do presidente Vladimir Putin e o Ocidente, fica a questão: num momento de crise energética e preços em alta, a Rússia poderia utilizar a dependência da UE do seu gás natural para fazer chantagem política, como sugeriu o ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, que ameaçou interromper o abastecimento por meio do gasoduto Yamal-Europa, que passa pelo seu país?

Foi uma pergunta feita por muitos na semana passada, quando a Bundesnetzagentur, agência federal do governo alemão que regula o setor de energia, anunciou a suspensão do processo de certificação do Nord Stream 2, um novo gasoduto russo que conecta a Rússia diretamente à Alemanha e cuja construção foi marcada por críticas.

Vários países se opuseram à obra, como os Estados Unidos, que alertaram para um aumento da dependência energética europeia de Moscou. Em julho, uma declaração conjunta da Polônia e da Ucrânia apontou que a construção do Nord Stream 2 representava “uma ameaça política, militar e energética para a Ucrânia e a Europa Central, enquanto aumenta o potencial da Rússia de desestabilizar a situação da segurança na Europa”.

Segundo a Associated Press, apenas a Ucrânia deve perder US$ 2 bilhões em taxas anuais de trânsito de gás que vai deixar de passar pelo seu território.

Em outubro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, que era necessário “garantir que a Rússia não manipule os fluxos de gás natural para fins políticos prejudiciais”.

Filip Medunic, coordenador da força-tarefa do Conselho Europeu de Relações Exteriores para fortalecimento da Europa contra a coerção econômica, ressaltou em artigo recente que a Gazprom, estatal russa de gás natural, acaba de alavancar seu monopólio do gás sobre a Moldávia e sugerir que o governo pró-europeu do país deveria abandonar um acordo de livre comércio com a UE e interromper a liberalização do mercado de gás em troca de preços mais baixos do combustível em um novo contrato de longo prazo com a empresa.

“A UE tem de compreender que outros atores irão utilizar ativamente dependências para os seus objetivos políticos e deve incluir este risco na sua avaliação prospectiva”, escreveu Medunic, que pregou que o bloco deve avançar na busca por alternativas.

“Acima de tudo, deve avançar no desenvolvimento de sua infraestrutura de energia renovável. Mas, nesse ínterim, também deve considerar mais contratos de longo prazo. Isso daria aos consumidores espaço para respirar, protegendo-os das violentas flutuações de preços e permitindo que os estados europeus realizem uma grande transição energética”, ressaltou.

Um exemplo de interferência política no fornecimento de energia ocorreu no final de outubro: o gasoduto Magrebe-Europa foi fechado devido ao agravamento das tensões diplomáticas entre a Argélia e o Marrocos, o que obrigou a Espanha a procurar formas alternativas de fornecimento de gás natural. Porém, como destacou o El País, praticamente todas, como a contratação de navios-tanques para trazer gás natural liquefeito, significam um aumento de custos em um cenário de preços já elevados.

Preços nas alturas

A Associated Press citou que a crise recente do gás natural, com preços nas alturas, foi gerada por vários motivos: um inverno rigoroso que drenou as reservas, normalmente reabastecidas no verão, o que não aconteceu este ano; uma demanda maior por ar-condicionado nos meses mais quentes; menos ventos, significando menos geração de energia renovável; e suprimentos limitados de gás natural liquefeito, opção cara que pode ser entregue por navio em vez de gasoduto, que foram adquiridos maciçamente por clientes na Ásia.

A Europa pressiona por preços diários, em vez de contratos de longo prazo, e a Gazprom não bombeou gás adicional além desses compromissos. Ainda conforme a AP, em outubro os preços chegaram a ficar sete vezes mais altos do que no início do ano, e recentemente diminuíram para um patamar de cerca de quatro vezes mais.

Porém, Thomas O’Donnell, analista de energia e geopolítica, disse à agência que a Rússia, apesar de ter explorado a escassez para pressionar pela aprovação do Nord Stream 2, não reteve exportações por razões políticas (no final de outubro, Putin mandou que a Gazprom bombeasse mais gás para os estoques da UE, que nas semanas anteriores estavam baixos).

“A realidade mais mundana é: simplesmente não houve reserva de gás russo para exportar até que a Rússia terminasse de abastecer o seu armazenamento doméstico para o inverno”, apontou O'Donnell, que, assim como outros analistas, destacou a necessidade dos russos bombearem mais gás via Ucrânia para que haja segurança energética para a Europa.

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