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As críticas do vice-presidente sírio Faruk al-Shara à posição do chefe do Estado frente à rebelião revelaram divergências entre os partidários de uma solução negociada e a "jovem guarda" de Bashar al-Assad, defensora de uma guerra sem quartel.

"O poder se concentra cada vez mais nas mãos de um punhado de pessoas do clã Assad, um clã cada vez mais autista e que parece ter escolhido apenas continuar avançando", explicou à AFP Karim Bitar, diretor de pesquisas no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.

Segundo um analista que pediu para não ser identificado, este clã é integrado por alauitas (minoria religiosa a qual pertence Assad), mas também por sunitas e drusos.

Também destaca o papel do coronel Maher al-Assad (de 44 anos), irmão do presidente e chefe da 4ª divisão do primeiro corpo do exército encarregado de Damasco, da esposa do presidente, Asma, de seu tio e primos Mohamad Majluf (de 80 anos) e Rami Majluf (de 43 anos) - dois empresários com má reputação - e Hafez Majluf (de 41 anos), chefe da segurança em Damasco. Todos eles são alauitas, com exceção de Asma, sunita.

Neste círculo também figuram dois drusos: Mansur Azam (de 52 anos), ministro de Assuntos Presidenciais, e Luna al-Shibl, ex-jornalista da Al-Jazeera.

Também é preciso incluir o general Husam Sukar (alauita), assessor presidencial para a segurança, assim como dois veteranos sunitas de inteligência, o general Ali Mamluk (66 anos), diretor da Segurança Nacional), e o general Rustom Ghazalé (59 anos), chefe da segurança política.

"Este grupo é o que toma as decisões e Bashar, o capataz, não ouve mais que estas pessoas que, em sua maioria, lhe devem por suas ascensões", afirma o mesmo especialista.

Segundo Bitar, "no outro lado estão os funcionários de alto escalão, o aparato de Estado, uma parte do Estado-Maior militar, e se dão conta, como disse a Al-Shara, de que nem os rebeldes, nem o regime poderão sair completamente vitoriosos. Por isso querem uma solução negociada, que evite que sejam varridos em caso de queda de Assad".

"Sem vencedor nem vencido"

Em uma entrevista concedida há dez dias em Damasco ao jornal libanês pró-sírio Al-Akhbar, o vice-presidente Al-Shara, um sunita que foi ministro das Relações Exteriores durante 22 anos, afirma que Assad "não esconde sua vontade" de obter a vitória através de meios militares.

"Assad possui todos os poderes", afirmava Al-Shara, que reconhecia a existência de opiniões diferentes no comando.

Segundo os especialistas, junto com Faruk al-Shara figuram a assessora do presidente, Buthaina Shaaban (59 anos, alauita), ex-ministra que foi muito próxima do ex-presidente e pai de Bashar Hafez al-Assad, e Najah al-Atar (79 anos, sunita), ex-ministro e vice-presidente.

"Parece que este grupo está completamente afastado da tomada de decisões porque estima que a guerra deve terminar sem vencedor ou vencido. Os outros os tratam como medrosos", confessou à AFP um ex-ministro que rompeu com o regime no início da revolta, em março de 2011.

"Al-Shara não faz parte do círculo de decisões e está em contato de vez em quando com o presidente", confirmou o jornalista do Al-Akhbar que fez a entrevista.

O ministro da Informação, Omran al-Zohbi, minimizou no domingo as declarações de Al-Shara, considerando que se tratava de "uma opinião entre as 23 milhões de opiniões na Síria".

Entre os alauitas, uma comunidade com muitas baixas na frente de batalha, as divergências são comuns.

O general Ali Haidar - fundador e chefe das Forças Especiais afastado em 1994 por ter criticado a sucessão dinástica imposta por Hafez al-Assad - se pergunta em um texto que circula na internet: "Se houvesse um objetivo concreto (na guerra), não teria feito estes comentários, mas por que vocês querem que nossos jovens morram?".

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