O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, em foto de 2013| Foto: EFE/EPA/FRANCK ROBICHON
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O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi morto a tiros na sexta-feira (8) em um comício de campanha antes das eleições de domingo (10) no Japão para a câmara alta do parlamento do país.

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O evento chocou o Japão, que tem leis de controle de armas extremamente rígidas e uma das menores taxas de violência armada do mundo.

Abe, que tinha 67 anos, era uma figura política fundamental no Japão e permaneceu altamente influente depois de deixar o cargo de primeiro-ministro, em 2020. O Japão manteve as políticas externas e de segurança pragmáticas de Abe e continuará sendo um forte aliado dos Estados Unidos no enfrentamento das ameaças chinesas e norte-coreanas.

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Abe foi baleado duas vezes enquanto fazia um discurso de campanha para um candidato nas eleições da Câmara dos Conselheiros do Japão e depois morreu no hospital.

O atirador foi detido pela polícia. Os primeiros relatos apontavam que a arma utilizada no crime seria uma espingarda, mas depois se descobriu que a arma era artesanal.

O atirador teria dito à polícia que estava insatisfeito com Abe, mas não alimentava ódio contra suas posições políticas. A polícia também descobriu vários explosivos na casa dele.

Controle rigoroso de armas

Em 2021, o Japão, que tem uma população de 125 milhões de habitantes, registrou apenas uma morte por arma de fogo. Espingardas e carabinas de ar comprimido podem ser compradas conforme as rigorosas leis de controle de armas do país, mas não fuzis ou revólveres.

Candidatos a possuir uma arma precisam assistir a uma aula de um dia inteiro, fazer um teste escrito, passar por uma avaliação de saúde mental em um hospital, têm seus antecedentes criminais verificados e a polícia entrevista seus familiares. As armas devem ser armazenadas em um armário com três fechaduras fixado na parede e a munição deve ser guardada separadamente. Quando um proprietário de armas de fogo morre, seus parentes devem entregá-las às autoridades.

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O impressionante legado de Abe

Nos seus períodos como primeiro-ministro, Abe implementou uma política externa visionária, fortaleceu a aliança do Japão com os Estados Unidos e foi decisivo contra ameaças à segurança regional. Os sucessores de Abe deram continuidade a suas políticas e ele permaneceu um membro ativo e líder partidário dentro da Dieta, o Legislativo nacional do Japão.

Ele foi o mais jovem primeiro-ministro do Japão no pós-guerra entre 2006 e 2007 e depois, de 2012 a 2020, foi o líder mais longevo do país. Nas duas oportunidades, renunciou devido a problemas de saúde decorrentes de colite ulcerativa.

Sua longevidade durante seu segundo período proporcionou estabilidade, coerência política e consistência, o que, por sua vez, permitiu ao Japão desempenhar um papel mais proeminente e assertivo na região e no cenário mundial.

Abe criou uma grande estratégia para o Japão, incluindo o estabelecimento das bases teóricas para as estratégias do Indo-Pacífico Livre e Aberto e o Quad, fórum estratégico de segurança que reúne Japão, Austrália, Índia e Estados Unidos. Ambos os conceitos foram adotados e adaptados à estratégia dos Estados Unidos.

Abe também incrementou os laços diplomáticos, econômicos e de segurança com nações do Sudeste Asiático, Austrália, França, Índia e Reino Unido por meio de uma série de acordos e, em alguns casos, exercícios militares conjuntos.

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Abe também teve um impacto significativo na postura de segurança do Japão. Entre outras realizações, ele instituiu o primeiro Conselho de Segurança Nacional e a Estratégia de Segurança Nacional do Japão, aumentou o orçamento de defesa do país, implementou mudanças para aumentar as defesas contra as crescentes incursões territoriais da China e superou uma significativa resistência interna para permitir que o Japão desempenhasse um papel importante na segurança regional e global, ao exercer a legítima defesa coletiva.

Ele implementou políticas ambiciosas, conhecidas como “Abenomics”, para impulsionar a economia japonesa após décadas de crescimento lento.

Uma abordagem em três frentes, a Abenomics combinou maiores gastos em infraestrutura, política monetária livre e reformas estruturais. Após a retirada dos Estados Unidos da Parceria Transpacífico, Abe passou a liderar as negociações do acordo comercial, criando o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico.

Abe também negociou acordos comerciais com a União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido.

O que vem a seguir?

Alguns poderão especular que o assassinato de Abe pode marcar um retorno ao tumultuado passado de violência política do Japão, dos anos 1960 e da era pré-guerra. Mas o Japão é bem diferente hoje, e o cenário político provavelmente permanecerá estável. O primeiro-ministro Fumio Kishida anunciou que as eleições para a câmara alta ocorrerão com maior segurança.

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O trágico evento surpreendeu o Japão, mas não alterará suas políticas externas e de segurança. Kishida reafirmou as linhas realistas do país nessas áreas durante a visita do presidente americano Joe Biden a Tóquio em maio e durante a primeira reunião trilateral em quase cinco anos de líderes dos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão no mês passado.

Kishida declarou a intenção de ampliar as responsabilidades de segurança do Japão no Indo-Pacífico. Nos últimos anos, Tóquio aumentou suas capacidades militares e a cooperação em segurança e os exercícios militares com a Austrália e outros parceiros regionais, bem como com a França e o Reino Unido.

Kishida defende que o Japão aumente seu orçamento de defesa, provavelmente dobrando os gastos na área para 2% do PIB, bem como desenvolvendo capacidades de retaliação contra ataques chineses e norte-coreanos.

Tóquio está cada vez mais preocupada com um possível ataque chinês a Taiwan e vem estudando possíveis respostas militares, incluindo a proteção de navios de guerra e aviões militares americanos que viriam para defender a ilha.

Bruce Klingner é pesquisador sênior sobre nordeste asiático no Centro de Estudos Asiáticos da Heritage Foundation.

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© 2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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