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Entrevista

Assassinato de um dissidente

Rio de Janeiro – Vinte e cinco de outubro de 2000. O biólogo e ativista político Alex Goldfarb recebe um telefonema de seu amigo, o empresário russo Boris Berezovski. O tema era Alexander Litvinenko, o Sacha, ex-agente da FSB (a antiga KGB) que, anos antes, ficara famoso ao afirmar em uma entrevista, cercado de agentes mascarados, que alguns de seus ex-colegas, chefiados na época pelo desconhecido Vladimir Putin, planejavam assassinar Berezovski.

Pouco depois de Putin chegar ao Kremlin, Sacha, ameaçado, fugiu para a Turquia com a mulher e o filho, e precisava de ajuda. Goldfarb, então, seguiu para aquele país para ajudar e, numa seqüência de eventos digna de filme, conseguiu levá-lo com a mulher e o filho para a Grã-Bretanha, onde pediram asilo. Seis anos depois, Sacha foi envenenado por uma substância radioativa rara, o polônio-210, e em meio a sua agonia acusou Putin de ser o mandante do crime. A viúva Marina Litvinenko, que viveu todo o drama ao lado do marido, acaba de lançar um livro em co-autoria com Goldfarb (Morte de um Dissidente, da Companhia das Letras), em que conta em detalhes os bastidores dessa história digna da Guerra Fria. Em entrevista, ela diz que ainda tem medo de cair nas mãos dos agentes de Putin.

A principal tese do livro Morte de um Dissidente é a de que Alexander Litvinenko foi morto por agentes russos e que o motivo foi a rivalidade entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o empresário e ex-político Boris Berezovsky. A senhora está certa de que essa é a verdade? Sim. Existem várias evidências que mostram isso. Nossa história e os acontecimentos descritos no livro já seriam suficientes para apontarmos os agentes secretos russos como os responsáveis pela morte de Sasha (Litvinenko). E as circunstâncias do crime não deixam muita margem para dúvidas. A substância radioativa que o matou, o polônio-210, é rara e muito perigosa. Segundo especialistas, teve de ser processada em uma unidade especializada e transferida sem risco e discretamente para Londres, o que demanda uma operação extremamente complexa, feita com orientação altamente qualificada. Isso só poderia ter sido feito pelo alto escalão russo. Não é tarefa para qualquer um ou qualquer grupo. As evidências são muito fortes.

Putin nega o envolvimento com o crime e diz que Litvinenko tinha fortes ligações com o empresário Boris Berezovsky, a quem acusa de corrupção e de uma série de outras atividades ilegais. O que a senhora tem a dizer sobre isso? Ninguém jamais encontrou provas de atividades ilegais dele (Berezovsky). E se essas provas existissem, a Rússia certamente já teria encontrado. Isso me faz crer que ele é inocente de todas as acusações. Além disso, sou muito grata por todo o apoio que deu desde o início, desde o tempo em que fugimos da Rússia por causa das ameaças. Boris foi uma pessoa fundamental para a nossa entrada na Inglaterra. Não havia qualquer tipo de relacionamento ilegal entre Sasha e ele. Mas Putin considerou essa aproximação uma alta traição, e nunca perdoou os dois por isso.

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