Suspensa desde a semana passada devido ao assassinato da deputada britânica Jo Cox, a campanha do referendo sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia será retomada hoje à sombra da morte da parlamentar.
Embora a polícia ainda não confirme a relação entre o crime e a disputa política, o certo é que a morte de Cox – defensora da permanência do Reino Unido no bloco e de políticas mais brandas para refugiados –colocou em xeque o discurso dos grupos que defendem a saída da UE (movimento chamado “Brexit”).
Pouco antes do assassinato de Cox, Nigel Farage – expoente na campanha para o Reino Unido deixar o bloco e defensor de ações para dificultar a entrada de refugiados no país – deu uma mostra dessa campanha agressiva que agora virou alvo de críticas.
Trata-se de um cartaz com a imagem de migrantes e refugiados, em fila, e as palavras “breaking point” (ponto de ruptura). O material passou a integrar a campanha dos partidários do “Leave” (que defendem a saída da União Europeia) e foi confeccionado pelo Partido da Independência do Reino Unido, liderado por Farage. Comparado às propagandas nazistas que demonizavam judeus e outras minorias, no rescaldo da Primeira Guerra Mundial, o cartaz foi alvo de diversas críticas.
O jornalista do Guardian Jonathan Jones relacionou a ação de Farage ao infame discurso de Enoch Powell, de 1968, “Rivers of Blood” (“Rios de Sangue”). Powell era um político conservador que investiu contra a imigração.
“Eu não acho que os criadores desse cartaz do Partido de Independência se sentiriam insultados pela comparação a Enoch Powell”, escreveu Jones. “Olhe por trás desses rostos, para o pensamento das pessoas que criaram o cartaz, e você vai encontrar quem confesse que todos nós compartilhamos a inquietação com a questão de diversidade racial. Você acha que o grande e generoso povo britânico, que lutou contra a doutrina nazista de ódio racial, realmente quer dar a tipos como Farage seu dia de triunfo?”
Farage se defendeu, dizendo que centenas de milhares de refugiados entrando na Europa representam uma ameaça. “Quando o Estado Islâmico diz que usa a crise migratória para encher o continente com seus terroristas jihadistas, eles provavelmente já estão fazendo isso”, disse.
A votação
Os eleitores do Reino Unido vão decidir nesta quinta-feira (23) em um referendo se permanecem ou não na União Europeia.
Imprensa
Jornais britânicos se posicionam em relação ao referendo no Reino Unido (em levantamento da Folhapress):
Pela permanência:
Afirmou que “não é o momento de arriscar a paz e a prosperidade” do Reino Unido.
Disse que, “apesar de suas muitas falhas”, a UE tem sido “uma força para o bem”.
Disse que a chance de mudança inspirou votantes por ser “mais excitante que a continuidade”.
Declarou apoio à permanência na UE em editorial de maio.
Pela saída
Defendeu associação “mais frouxa e flexível” com a UE.
Destacou a estratégia da campanha a favor da saída da UE, que “articulou uma visão ambiciosa do Reino Unido como uma nação independente, livre novamente para tomar suas próprias decisões”.
Havia declarado apoio ao “Brexit” na última segunda-feira (13).
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