RIO – Astrônomos flagraram o brilhante “despertar” de uma estrela agonizante. Conhecido como “nova clássica”, o fenômeno acontece quando uma anã branca - as “cinzas” incandescentes que sobram de estrelas de tamanho médio, como nosso Sol, quando esgotam seu combustível nuclear – rouba massa de uma companheira ainda ativa em um sistema binário até o ponto que este material explode em uma reação termonuclear, num processo que pode se repetir a cada 10 mil a 1 milhão de anos. O cenário é bem parecido com as chamadas supernovas do tipo Ia, em que uma anã branca também acumula material tirado de uma estrela companheira num sistema binário, só que neste caso a explosão é muito maior e geralmente termina com a desintegração de ambas estrelas.
No fenômeno relatado na edição desta semana da revista “Nature”, os cientistas contaram com imagens coletadas pelo Experimento Ótico de Lentes Gravitacionais (Ogle, na sigla em inglês) entre 2003 e 2016 para flagrar não só a explosão em si, observada em 2009, como seu antes e depois para melhor compreender como estes processos acontecem. O Ogle usa um telescópio relativamente pequeno instalado no Observatório de Las Campanas, no Chile, para fazer um levantamento do céu com ajuda das chamadas lentes gravitacionais, fenômeno previsto por Albert Einstein na sua Teoria da Relatividade segundo o qual a luz de um objeto distante é distorcida e ampliada pela gravidade de outro localizado entre ele e a Terra do nosso ponto de vista.
- Graças às nossas observações de longo prazo, pudemos ver a nova alguns anos antes e alguns anos depois da explosão – contou Przemek Mróz, estudante de doutorado no Observatório Astronômico da Universidade de Varsóvia, Polônia, e primeiro autor do artigo na “Nature”, a rede britânica “BBC”. - O que vimos é que antes da erupção a taxa de transferência de material no sistema binário era muito pequena e instável, mas depois da erupção parece que a taxa de transferência de massa ficou muito maior e estável. Isso significa que a explosão que observamos mudou as propriedades do sistema binário.
Neste sistema, inicialmente designado V1213 Cen, mas agora também conhecido como Nova Centauri 2009, a anã branca e sua companheira, com uma massa estimada em aproximadamente a metade do Sol, completam uma órbita em torno da outra em apenas cinco horas, o que significa que estão muito próximas, separadas por uma distância menor que o raio de nossa estrela. Ambas estão a cerca de 20 mil anos-luz da Terra na direção da constelação do Centauro, o que faz com que normalmente sejam tênues demais para serem vistas sem o auxílio de telescópios, mas na época da explosão o brilho do sistema aumentou tanto que ele momentaneamente pôde ser visto a olho nu.
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