Ao menos 29 pessoas morreram, e cerca de 30 ficaram feridas no ataque cometido por extremistas em um hotel e em um restaurante na capital de Burkina Faso, segundo novo balanço oficial anunciado neste sábado (16) à tarde pelo ministro do Interior, Simon Compaoré.
Além disso, os corpos de três extremistas foram identificados, todos homens, acrescentou Compaoré, informando que os agressores eram “muito jovens”, segundo relatos. O balanço anterior era de 26 mortos.
O presidente Roch Marc Christian Kaboré pediu ao povo de Burkina que tenha “valor” e se mantenha “vigilante” e decretou luto nacional de 72 horas a partir de domingo.
Uma fonte ligada ao caso disse que, entre as vítimas, há pessoas de pelo menos 18 nacionalidades. Entre elas, estão dois franceses, segundo o Ministério das Relações Exteriores da França. O governo da Suíça informou que dois de seus cidadãos morreram no ataque ao restaurante.
O país
Burkina Faso faz parte do G5 Sahel, grupo de cinco países da região (Mauritânia, Mali, Níger, Chade e Burkina Faso) que se coordenam e cooperam em matéria de desenvolvimento, segurança e luta contra o terrorismo. Também apoia a missão antiterrorista francesa Barkhane.
O país é de maioria muçulmana (60%) e se tornou independente da França em 1960. Burkina é um importante aliado de Paris e de Washington no combate a militantes islamitas no oeste da África. Forças especiais francesas se encontram estacionadas nos arredores de Uagadugu.
Citando diferentes fontes, a imprensa suíça identificou as vítimas como duas personalidades do cantão do Valais. Uma seria Jean-Noël Rey, ex-diretor dos Correios e ex-deputado federal, e a outra, Georgie Lamon, ex-deputado cantonal. O ministro suíço das Relações Exteriores, Didier Burkhalter, lamentou o ocorrido.
“Condenamos esse ato terrorista nos mais duros termos, agradecemos às autoridades dos países que intervieram para pôr fim a esses atos de violência e pedimos que tudo seja feito para encontrar e julgar os autores desses atentados. Nossos pensamentos estão, neste momento, com as famílias e pessoas próximas às vítimas”, declarou Burkhalter.
A assessoria de imprensa do Itamaraty afirmou que não há informações até o momento sobre brasileiros entre os reféns. A comunidade brasileira no país tem cerca de 45 pessoas.
As forças especiais francesas participaram da operação de 12 horas contra os extremistas. Ao todo, 126 pessoas foram libertadas, anunciou Compaoré. Entre os sobreviventes estaria, ileso, o ministro do Trabalho, Clement Sawadogo.
Desde o meio-dia, a forças prosseguiam as operações nas imediações do hotel quatro estrelas Splendid, no qual normalmente se hospedam estrangeiros e funcionários das Nações Unidas.
“Vingança contra a França”
A Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) reivindicou o ataque, explicando que se tratava de uma “vingança contra a França e os infiéis ocidentais”, segundo um comunicado detectado pelo observatório americano on-line SITE.
Os criminosos eram membros do grupo Al-Murabitun, baseado no Mali e dirigido por Mokhtar Belmokhtar, disse o SITE.
Um integrante do grupo extremista malinês Ansar Dine declarou neste sábado à AFP, em Bamako, que os dois australianos sequestrados na véspera em Burkina estão nas mãos de extremistas que pertencem ao Emirado do Saara, grupo vinculado à Al-Qaeda.
Atentado
O ataque aconteceu dois meses depois de outro atentado extremista no luxuoso hotel Radisson Blu, na capital do Mali, Bamako. Nele, 20 pessoas morreram, incluindo 14 estrangeiros. A ofensiva foi reivindicada pelo mesmo grupo que teria cometido este último ataque em Uagadugu.
“Quatro combatentes do Emirado do Saara têm em suas mãos dois australianos, uma mulher e um homem. Os dois ‘cruzados’ estão vivos e em breve daremos mais detalhes”, afirmou, em uma breve declaração por telefone, Hamadu Ag Jallini, um responsável do Ansar Dine.
Segundo especialistas, o Emirado do Saara é o nome de um braço da AQMI que opera no norte do Mali.
Além dos quatro agressores mortos, um quinto teria conseguido se refugiar em um bar próximo, relataram testemunhas que conseguiram escapar. Entre os extremistas abatidos havia “um árabe e dois africanos negros”, segundo Compaoré.
Repercussão
Paris e Washington, aliados-chave de Burkina Faso, condenaram o atentado, assim como a União Europeia e o Reino Unido.
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Leia a matéria completaHoras antes, a embaixada francesa havia indicado em sua página na internet que havia um ataque terrorista em andamento e pedia às pessoas que evitassem a zona. Em nota, o presidente francês, François Hollande, condenou o ataque, considerando-o odioso e covarde.
Em um comunicado, a Comissão da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) reafirmou sua “determinação para lutar sem trégua contra toda forma de terrorismo na região”.
“Consideramos (o ataque) dirigido contra cada um dos nossos países e contra o conjunto da nossa comunidade”, declarou o presidente em exercício dessa organização regional, o chefe de Estado senegalês. Macky Sall, garantindo estar disposto a tomar “todas as medidas que a situação exigir”.
Com o aeroporto de Uagadugu fechado devido ao ataque, os voos da Air France a partir de Paris foram desviados para o vizinho Níger.
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