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Ataque à Síria duraria somente três dias

Priscila Bacha, que escapou da Síria há menos de um ano: casa explodida e rechaço ao ataque norte-americano | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Priscila Bacha, que escapou da Síria há menos de um ano: casa explodida e rechaço ao ataque norte-americano (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)
Orfan Ibrahim: filhos e netos permanecem na Síria, com restrições alimentares e de saúde |

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Orfan Ibrahim: filhos e netos permanecem na Síria, com restrições alimentares e de saúde

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse ontem que a Arábia Saudita concordou em apoiar uma intervenção militar na Síria. Em encontro com ministros de relações exteriores da Liga Árabe, em Paris, Kerry afirmou que o país assegurou apoio a um possível ataque.

Khalid Al Attiya, minis­tro das relações ­exteriores do Qatar, convocou "todos os países a protegerem o povo sírio", como resposta ao ataque químico de 21 de agosto nas proximidades de Damasco, supostamente executado pelo regime de Bashar Assad e que teria matado 1.429 pessoas.

Arábia Saudita e Qatar foram duas das primeiras nações a se oporem a Assad e a fornecer armas aos rebeldes.

Kerry reiterou que espera a adesão de novos países na assinatura de um documento que pede forte resposta internacional ao atentado químico, apesar de não deixar explícito em seu texto uma intervenção militar na região.

Aval do Congresso

Dennis McDonough, che­fe de gabinete da Casa Branca, disse ontem que Barack Obama não pretende usar de sua autoridade para atacar sem o aval do Congresso americano.

"O presidente tem autoridade para agir, mas não é seu desejo nem sua intenção utilizá-la sem o respaldo do Congresso", afirmou.

Em entrevista à rede de tevê americana CNN, McDonough descartou a possibilidade de um ataque aéreo de grandes proporções, comparado às guerras no Iraque e no Afeganistão. "Seriam alvos limitados e efetivos", destacou.

De acordo com o jornal Los Angeles Times, em reportagem publicada ontem, o Pentágono está planejando um ataque de três dias contra a Síria, mais longo que o previsto originalmente.

As autoridades militares americanas estariam planejando um ataque intenso com mísseis, seguido por outros menores contra alvos que não sejam atingidos na primeira forte ofensiva, afirmaram fontes do governo ao jornal.

McDonough disse também que a intervenção na Síria é uma oportunidade para enviar uma mensagem ao Irã sobre suas intenções de desenvolver seu programa nuclear.

Ditador quebra silêncio e dá entrevista a tevê norte-americana

O ditador sírio, Bashar Assad, negou ter envolvimento com os ataques químicos de 21 de agosto na periferia de Damasco, capital do país, em entrevista ao jornalista Charlie Rose, das redes de tevê norte-americanas CBS e PBS, realizada ontem de manhã.

Essa foi a primeira entrevista de Assad a uma rede de tevê dos Estados Unidos em quase dois anos.

A conversa ocorre em momento de crescente tensão em relação à guerra civil que assola a Síria desde 2011. Hoje, o Congresso dos EUA vota a intervenção militar na região, defendida pelo presidente Barack Obama.

Rose contou à CBS que Assad sequer reconheceu que se tratou de um ataque químico e que, apesar do que foi dito e dos vídeos veiculados sobre o ataque, "não há evidências para fazer um julgamento conclusivo".

Assad ainda disse não haver lógica em utilizar armas químicas em área onde o próprio Exército sírio está presente. "Há soldados feridos por esse ataque, como os inspetores da ONU puderam conferir", disse.

Armamento

Segundo o jornalista, o ditador reiterou o que já tinha dito em entrevista ao jornal francês Le Figaro, na semana passada: que não pode negar ou confirmar que seu Exército possua armamentos químicos.

"Se tivermos, e não estou dizendo que temos, elas estão sobre controle centralizado, ninguém tem acesso a elas", disse Assad. Confrontado sobre a possibilidade de um ataque iminente dos EUA, o ditador disse não saber o que acontecerá, mas afirmou que está preparado "como se pode estar".

A entrevista a Rose, que terá trechos exibidos hoje de manhã pela CBS e será veiculada na íntegra pela PBS à noite, foi realizada no Palácio Presidencial em Damasco. "Ele estava calmo e a cidade parecia relativamente calma", contou o jornalista.

Refugiados sírios buscam abrigo em Foz do Iguaçu

Lilian Céspedes, especial para a Gazeta do Povo

Enquanto entidades árabes preparam para hoje uma manifestação em Curitiba contrária à invasão norte-americana na Síria, a cidade de Foz do Iguaçu lida com o contingente de refugiados que vêm fixando residência na cidade do oeste do Paraná. A região sedia uma das maiores colônias árabes do país, com 22 mil pessoas. Mais de cinco mil sírio já fixaram residência no município paranaense.

É o caso de Orfan Ibrahim, natural da Síria, que não esconde a tristeza ao lembrar da casa que foi obrigado a deixar para trás. Há dois meses em Foz do Iguaçu, ele diz estar preocupado com a possível invasão norte-americana a seu país, e é a favor da mobilização contrária à invasão. "É muito triste ver a casa que conquistei ser explodida", lamenta. O sírio perdeu a casa e todos os bens em uma explosão, inclusive o gato de estimação da família, que morreu queimado. "Eu havia saído de casa oito horas antes da explosão", relembra. A casa de Ibrahim estava avaliada em US$ 300 mil e era seu único bem na Síria.

Após se instalar no Brasil, o sírio está lutando para trazer os dois filhos, que permanecem lá com suas próprias famílias. "Meus dois filhos têm crianças pequenas. Com essa situação, o custo de vida subiu muito, e os riscos de ficar doentes são bem maiores. Há falta de médicos, de comida e de higiene. Já estamos fazendo de tudo para trazê-los ao Brasil", frisa. Os filhos de Ibrahim estão na cidade de Aleppo, cidade que não chegou a ser atingida pelas armas químicas.

Já a brasileira Priscila Bacha, casada com Hekma, que é sírio, chegou a Foz do Iguaçu há um ano, em busca de proteção para sua família. Mãe de dois filhos, ela também teve a casa explodida, após morar na Síria durante quatro anos.

"Foi muito triste, mas a tristeza será ainda maior se os soldados norte-americanos invadirem o país. Será o começo de uma nova guerra." Priscila também revela a preocupação com a família que ainda está no país. "Queremos trazer o restante da família o quanto antes para o Brasil, mas o processo para retirar passaporte é muito lento, o que nos preocupa muito. Não sabemos como será se os Estados Unidos invadirem a Síria", lamenta.

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