Histórico
Relembre outras polêmicas que envolveram o semanário Charlie Hedbo:
Setembro 2005 - O jornal dinamarquês Jyllands-Posten publica charges do profeta Maomé consideradas ofensivas. Ação provoca atos de violência contra embaixadas da Dinamarca.
Fevereiro 2006 - Charlie Hebdo reproduz charges do jornal dinamarquês em protesto. Os 140 mil exemplares com as caricaturas se esgotaram rapidamente, e semanário providencia tiragens extras de 400 mil exemplares.
O Presidente Jacques Chirac critica publicação, dizendo que ela é uma "provocação que pode perigosamente exacerbar as paixões. Polícia é mobilizada para proteger sede da redação.
Março 2007 - Tribunal parisiense determina arquivamento de processo que poderia ser aberto por iniciativa de entidades muçulmanas contra o semanário Charlie-Hebdo.
Fevereiro 2008 - Polícia dinamarquesa anuncia prisão de três pessoas que planejavam assassinar cartunista dinamarquês responsável por charges de Maomé no Jyllands-Posten. Jornal diz que alvo do ataque seria Kurt Westergaard, então com 73 anos.
Novembro 2011 - Sede do Charlie Hebdo é alvo de bomba incendiária depois que semanário nomeia Maomé "editor-chefe" de uma edição. Diretor da publicação é mantido sob proteção policial.
Setembro 2012 - Charlie Hebdo volta publicar charges do profeta. Na capa, desenho mostrava judeu ortodoxo carregando um muçulmano numa cadeira de rodas. Ambos diziam ao leitor: "Não ria!" O governo francês fecha escolas, representações diplomáticas e centros culturais em uma sexta-feira -dia tradicional de protestos em países islâmicos- em 20 países para evitar ataques.
Janeiro 2013 - Site do Charlie Hebdo fica fora do ar por algumas horas após ser atacado por hackers. No mesmo dia, publicação havia lançado uma história em quadrinhos sobre Maomé.
Janeiro 2014 - Sede da publicação, no centro de Paris, é alvo de ataque terrorista.
Como foi
Saiba como foi a ação dos terroristas, segundo relatos da polícia, de testemunhas e de outras autoridades francesas:
Dois homens chegaram ao prédio do jornal francês Charlie Hebdo por volta das 11h30 no horário local (8h30 de Brasília) em um carro Citröen preto.
Corinne Rey, uma cartunista conhecida como Coco, disse que foi forçada a deixar os homens entrarem na sede.Os atiradores mataram uma pessoa na recepção.
Eles se dirigiram ao andar da redação, onde os profissionais participavam de uma reunião editorial semanal. Existe a crença de que os atiradores sabiam que a reunião estava acontecendo naquele momento.
Eles se dirigiram diretamente ao diretor editorial do Charlie Hebdo, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, matando primeiro a ele e o policial que lhe fazia guarda.
Os atiradores abriram fogo usando fuzis AK-47. Eles bradaram "Allahu akbar" (Deus é o maior, em árabe) e disseram que estavam "vingando o profeta [Maomé]" .
No total, foram mortos dentro do prédio a recepcionista, oito jornalistas, um convidado e o policial que fazia guarda.
Cinco profissionais da publicação foram identificados até agora: o diretor editorial Stéphane Charbonnier, o economista, escritor e editor-adjunto Bernard Maris e mais três cartunistas Jean Cabu, Georges Wolinski e Bernard Verlhac, conhecido como Tignous.
Os terroristas, então, voltaram para o Citröen, matando mais um policial durante a fuga ele foi atingido na cabeça.
Durante a fuga, os atiradores abandonaram o carro na região de Porte de Pantin, no nordeste da cidade, e sequestraram um outro veículo, um Renault Clio cinza, expulsaram o motorista e mantiveram a fuga.
Homens armados e encapuzados invadiram ontem a redação em Paris da revista Charlie Hebdo, conhecida por satirizar o Islã e outras religiões, e mataram pelo menos 12 pessoas, no ataque extremista com mais mortes no território francês em décadas. Segundo uma autoridade policial e uma fonte do governo, até o fechamento desta edição a polícia estava à procura de dois irmãos da região de Paris e de um homem da cidade de Reims, no nordeste do país, todos cidadãos franceses.
Entre eles estão dois irmãos com idades entre 32 anos e 34 anos, bem como um homem com 18 anos, disse uma fonte do governo. A fonte da polícia afirmou que um dos irmãos tinha sido previamente julgado por acusações de terrorismo.
A polícia iniciou uma caçada aos agressores, que escaparam depois de matar a tiros alguns dos principais cartunistas franceses, além de dois policiais.
Um dos agressores foi filmado do lado de fora do edifício gritanto "Allahu Akbar!" (Deus é o maior). Outro foi até um policial ferido e deitado na rua e disparou um rifle contra ele à queima-roupa, antes de os dois entrarem num carro e deixarem o local.
Uma autoridade descreveu a cena na redação como uma carnificina, com mais quatro feridos lutando para sobreviver.
Solidariedade
Mais de cem mil pessoas se reuniram em atos improvisados ao redor da França em memória das vítimas e em apoio à liberdade de expressão.
O governo declarou o mais elevado estado de alerta, intensificando a segurança nos transportes, locais religiosos, redações de meios de comunicação, lojas de departamento, enquanto a busca aos agressores continuava.
A revista Charlie Hebdo é conhecida por provocar controvérsias com sátiras a líderes religiosos e políticos e já publicou caricaturas ridicularizando o profeta Maomé.
Ninguém assumiu a responsabilidade pelo ataque à revista. No entanto, simpatizantes do Estado Islâmico e outros grupos extremistas comemoraram o ataque nas redes sociais.
"Hoje, a República Francesa como um todo foi o alvo", disse o presidente francês, François Hollande, num pronunciamento na televisão.
"O que vimos foi um massacre. Muitas das vítimas foram executadas, a maior parte delas com ferimentos na cabeça e no peito", afirmou Patrick Hertgen, do serviço de emergência que atendeu aos feridos.
Entre os mortos estão o cofundador Jean "Cabu" Cabut e o editor-chefe Stephane "Charb" Charbonnier.
Hollande decreta luto nacional hoje
O presidente da França, François Hollande, declarou luto nacional hoje em todo país como forma de homenagem os 12 mortos no atentado contra a revista Charlie Hebdo.
Em discurso na televisão francesa, Hollande disse que às 12 horas locais de amanhã (9 horas em Brasília) haverá concentrações em várias instituições públicas. As bandeiras de todo o país ficarão a meio mastro por três dias.
O presidente chamou as vítimas do ataque de "heróis" e garantiu que elas morreram "pela ideia de liberdade presente na França".
"Os cartunistas e jornalistas da Charlie Hebdo lutavam por uma mensagem de liberdade que seguiremos defendendo em seu nome", afirmou.
O presidente convocou para amanhã uma reunião com os líderes do Congresso francês e responsáveis por grupos políticos. Um outro encontro deve ser organizado com membros do governo.
Hollande garantiu que todos os meios estão sendo empregados para encontrar "os autores desta infâmia a fim de sejam detidos, julgados e punidos muito severamente".
"A liberdade é sempre mais forte que a barbárie. A união de todos, em todas as formas: essa deve ser a resposta".
Reações
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, qualificou o ataque de "ato intolerável". "É um ato intolerável, uma barbárie que nos preocupa a todos como seres humanos e como europeus", disse Juncker em um comunicado.
Já o presidente do parlamento Europeu, Martin Schulz, disse em sua conta do Twitter que estava "profundamente consternado" pelo ataque e que seus pensamentos estão com a equipe da revista, os policiais e familiares.
A presidente da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, lamentou o ataque ao jornal e disse que era algo "previsível". "É uma onda de compaixão que abraça hoje o povo francês em face a este atentado de fundamentalistas islâmicos que, infelizmente, segundo as informações, era previsível", disse.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama qualificou como "covarde" o ataque aos jornalistas e à liberdade de imprensa. "Nossa cooperação antiterrorista com a França é excelente. Vamos lhes dar toda a ajuda possível", acrescentou.
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