Posicionamentos
Líderes políticos franceses divergem sobre imigração
O presidente francês, o socialista François Hollande, exortou no mês passado os franceses a abraçar a imigração como um benefício econômico para a cultura e o país e a não fazer dos migrantes um bode expiatório para os problemas econômicos.
Seu antecessor, o conservador Nicolas Sarkozy, que tenta voltar à disputa política, exigiu controles nas fronteiras europeias muito mais rigorosos para conter a imigração ilegal.
Marine Le Pen atacou os símbolos visíveis do Islã na vida francesa: como os muçulmanos rezando na rua, comida halal servida nas escolas e as mulheres usando véu.
Muitos secularistas de esquerda compartilham essas preocupações em um país onde a separação entre Igreja e Estado motivou décadas de luta.
Pesquisa
Uma pesquisa realizada no ano passado constatou que os franceses acreditam que os imigrantes constituem 31% da população, cerca de quatro vezes o número real. Na França, embora não haja estatísticas étnicas ou religiosas, uma estimativa confiável publicada pelo Centro de Pesquisas Pew calcula a população muçulmana em cerca de 7,5%.
O ataque contra o Charlie Hebdo, que zombou do islamismo, pode dar combustível aos movimentos anti-imigração em toda a Europa e inflamar a "guerra cultural" sobre a posição da religião e da identidade étnica na sociedade.
A primeira reação na França às mortes na redação do jornal foi uma efusão de apoio à unidade e liberdade de expressão nacional. Mas isso parece provável que seja pouco mais do que um cessar-fogo momentâneo em um país dominado pelo mal-estar econômico e alto desemprego. A França tem a maior população muçulmana da Europa e está no meio de uma discussão intensa sobre a identidade nacional e o papel do Islã.
"Esse ataque certamente vai acentuar a crescente islamofobia na França", diz Olivier Roy, cientista político e especialista em Oriente Médio do Instituto da Universidade Europeia em de Florença.
Um livro do jornalista Eric Zemmour intitulado Le Suicide Français (O Suicídio Francês), argumentando que a imigração muçulmana em massa está entre os fatores que vêm destruindo os valores seculares franceses, foi o ensaio mais vendido de 2014.
Essa efervescência intelectual se mistura à ansiedade na população com a radicalização de centenas de muçulmanos franceses que se uniram aos combatentes do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, e que as autoridades temem que possam provocar ataques ao retornarem à França.
A Frente Nacional, de extrema-direita, não perdeu tempo em vincular o ato mais letal de violência política em décadas à imigração e exigir um referendo para restabelecer a pena de morte. A líder do partido, Marine Le Pen, que as pesquisas colocam em 1.º lugar se a eleição presidencial fosse hoje, disse que o "fundamentalismo islâmico" declarou guerra à França e que isso exige uma ação forte.
Embora ela tenha tido o cuidado de fazer distinção entre os cidadãos muçulmanos que compartilham valores franceses e "aqueles que matam em nome do Islã", seu pai, o fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, e seu vice, Florian Philippot, foram menos cautelosos. "Qualquer um que diga que o radicalismo islâmico não tem nada a ver com a imigração está vivendo em outro planeta", disse Philippot à rádio RTL.
Deixe sua opinião