O ataque do Hezbollah contra Israel destacou as desavenças entre os que elogiam as ações do grupo libanês e os que se preocupam com as conseqüências dessas ações aos moradores do Líbano.

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Quando o governo libanês, que conta com dois ministros do Hezbollah, se reuniu para discutir a captura de dois soldados israelenses na quarta-feira, não conseguiu decidir se condenaria ou elogiaria o ataque e acabou apenas distanciando-se do episódio.

Em um clima de crescentes desavenças entre os políticos anti-Síria e os xiitas pró-Síria, desavenças essas responsáveis por minar o governo desde sua posse, analistas afirmam que um prolongado confronto com o arqui-rival Israel pode tirar a frágil coalizão governista do poder.

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Muitos libaneses, especialmente os cristãos tradicionalmente contrários ao Hezbollah, estão insatisfeitos com um ataque que, baseado em experiências anteriores, seria mesmo respondido com represálias israelenses.

Depois do fechamento de aeroportos devido aos ataques aéreos de Israel e de um bloqueio marítimo imposto pela Marinha do Estado judaico no alto da estação turística, alguns libaneses mostraram-se furiosos.

O sul do Líbano, majoritariamente xiita, também deve sofrer com a situação.

- Na semana passada, o sul estava como um grande balneário de férias. Quando é assim, o Hezbollah costuma agir com cuidado porque pensa primeiro nos xiitas e isso terá conseqüências econômicas severas para o sul - disse Timur Goksel, ex-porta-voz das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) na região. - Por que o Hezbollah decidiu fazer isso neste momento? A única conclusão a que posso chegar é de que eles decidiram distanciar-se da política libanesa. Tudo o que o Hezbollah conquistou domesticamente nos últimos anos foi jogado fora.

Os ataques israelenses de represália mataram 52 civis libaneses até agora e, independente da indignação deles, poucos acreditam poder criticar abertamente o Hezbollah no momento em que seu país está sendo bombardeado.

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Ainda assim, salta aos olhos a grande distância separando os xiitas, maior comunidade religiosa do Líbano e que na quarta-feira distribuiu doces para comemorar a captura dos soldados, e os que são contrários ao ataque da guerrilha.

- Independente de qual seja a agenda do Hezbollah, essa não é necessariamente a agenda do povo libanês - afirmou Michael Karam, editor de um jornal de economia. - Eles provavelmente sabiam que suas ações teriam esse resultado, mas seguiram em frente da mesma forma. Isso é um ato egoísta. Eles não possuem um mandato do povo libanês para decidir sobre a política externa do país.

GRANDE DISTÂNCIA

Os libaneses sempre discordaram sobre o que seu país deve representar ou sobre qual papel deveria adotar no conflito entre os árabes e os israelenses.

Essas diferenças de opinião resultaram na guerra civil travada de 1975 a 1990 e que dividiu o país em enclaves cristãos e muçulmanos, atirando vizinhos contra vizinhos.

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Mesmo quando Israel ocupava o sul do Líbano, uma parte da população libanesa era contrária aos ataques realizados pelo Hezbollah contra os soldados israelenses, um fator que contribuiu para a retirada das forças ocupantes em 2000.

Tendo passado esses 22 anos de ocupação, muitos libaneses dizem ser hora de o Hezbollah depor suas armas, conforme exigiu uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Poucos sugerem que uma guerra civil seja iminente, mas os adversários da guerrilha xiita reclamam com uma freqüência cada vez maior que o único grupo do Líbano a ter mantido suas armas depois da guerra tornou-se agora mais poderoso do que o fragilizado Estado do país.

Samir Geagea, chefe das Forças Libanesas, uma antiga milícia cristã que era aliada de Israel durante a guerra civil, condenou abertamente as ações do Hezbollah.

- Os que realizaram essa operação, independente do sucesso dela, não têm o direito de determinar o destino do povo libanês com suas próprias decisões - afirmou a repórteres. Há um grande número de detentos nas prisões sírias, mas seria razoável seqüestrar soldados sírios e negociar uma troca deles por nossos detentos?

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O Hezbollah diz que a retirada israelense do sul do Líbano prova que o Estado judaico entende apenas o discurso da força. O grupo defendeu seu direito de ficar com as armas para dissuadir Israel de atacar a região e para liberar a área de fronteira conhecida como Fazendas Shabaa e ocupada pelo Estado judaico.

A guerrilha afirmou ter capturado os soldados israelenses para ajudar nas negociações sobre a libertação de libaneses mantidos em prisões de Israel, um argumento que muitos acham difícil rebater.

- A classe empresarial do Líbano ficará insatisfeita com esses acontecimentos porque eles acontecem no auge da temporada turística. Mas esse incidente não terá efeito sobre o debate a respeito das armas - afirmou Amal Saad Ghorayeb, autor de um livro sobre o grupo. - A libertação dos prisioneiros libaneses não é uma questão tão polêmica quanto a das Fazendas Shabaa, que são, afinal das contas, uma área sob disputa.