A pressão após um início de mês sangrento nos EUA - foram três dias de tragédias na semana passada, com a morte de cinco policiais, e de dois negros pela polícia sem motivo aparente - amplia o debate sobre o uso de armas no país. O presidente Barack Obama estará em Dallas nesta terça-feira para se encontrar com os familiares dos policiais mortos durante protesto contra a violência racial e deve aproveitar para reforçar a necessidade de falar sobre o controle de armas.
Porém, os republicanos — maioria nas duas Casas do Congresso - querem evitar o debate, que vem ganhando apoio popular. Essa discussão, dizem especialistas, precisa ser encarada neste momento de maior radicalização — nesta segunda (11) ocorreu um outro tiroteio com três mortos no Michigan e foram registrados novos protestos contra segregação racial em vários pontos dos EUA, com uma grande manifestação em Chicago.
Desde 2004, com o fim da restrição à livre venda de armas automáticas, limitada ao uso militar em outros países, houve uma explosão em suas vendas. Segundo o “New York Times”, um grupo de 20 a 30 pessoas exibiam livremente fuzis AR-15 e outros no protesto que acabou em tragédia. Quando os tiros começaram, policiais que estavam sendo alvejados foram atrás do grupo, pois acreditavam que eles eram os responsáveis. O próprio prefeito de Dallas, Mike Rawlings, sugeriu que apoiaria legislação para restringir o uso de rifles e armas automáticas em público.
Por outro lado, grupos pró-direitos humanos criticaram o uso de um robô-bomba para matar Micah Johnson, acusado de ter feito a emboscada a policiais brancos de Dallas na quinta-feira. O governador do estado, Greg Abbott, afirmou que este foi o “último recurso” e que os policiais tentaram prender o suposto atirador vivo, mas não foi possível. Defensores dos direitos humanos questionaram o uso do equipamento, que só deveria ser usado em cenário de guerra.
“Toda vez que uma dessas tragédias ocorre, o público se dedica mais a debater formas de prever a violência armada. Como isso tem ocorrido com maior frequência, chegou a hora de aprovar uma legislação mais forte sobre as armas”, afirmou Andrew Patrick, diretor da ONG Coalizão para o Fim da Violência Armada.
Ele afirmou que se a proibição que valeu até 2004 continuasse, o número de vítimas teria sido bem menor, e critica a cultura de armas, que vigora em estados como o Texas:
“Quando muitas pessoas possuem armas abertamente, a polícia fica sem saber quem são os bandidos”.
Apesar da pressão, os republicanos não devem querer voltar ao tema após o fim do recesso de verão do Congresso, que começa na sexta-feira (15) e vai até setembro. Embora o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, tenha dito na semana passada que o país precisa se sentir mais seguro - indicando que poderia ajudar a passar ao menos a legislação que impede as pessoas na lista de suspeitos de ligação com o terrorismo de comprar armas - a pressão de seu partido continua forte, segundo “The Hill”, site especializado na cobertura do Congresso.
“Dados os acontecimentos, precisamos dar um passo atrás e mostrar um pouco de calma”, disse a deputada Mimi Walters (Califórnia), afirmando que o debate sobre a restrição de armas “no calor dos acontecimentos” não seria produtivo.
Violência crescente
Enquanto o debate não avança, a tensão e a violência crescem. Nesta segunda-feira foi o quinto dia seguido de protestos contra a violência racial nos EUA. Nas manifestações anteriores, além da tragédia que deixou cinco mortos e nove feridos, houve o registro de outras agressões a policiais e centenas de manifestantes detidos.
Nesta segunda-feira, na cidade de Saint Joseph, no estado de Michigan, nos EUA, foi registrado um outro tiroteio que acabou com três pessoas mortas no prédio de um tribunal: o atirador e dois guardas. Segundo autoridades, outras pessoas ficaram feridas. Todos foram encaminhados para um hospital local. O prédio foi esvaziado e equipes de socorro, enviadas ao local.
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