A organização Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta sábado (23) um de seus atentados mais sangrentos cometidos em Cabul, matando ao menos 80 pessoas durante uma manifestação pacífica da minoria xiita hazara. “Oitenta pessoas morreram como mártires e 231 ficaram feridas”, indicou em um comunicado o Ministério do Interior afegão.
Através de sua agência de notícias Amaq, a organização extremista afirmou que “dois combatentes do EI detonaram seus cintos explosivos em uma concentração xiita no bairro Dehmazang” da capital.
Segundo os Serviços de Inteligência afegãos, o NDS, “três assaltantes participaram do ataque”, mas “só um teve sucesso”, levando a pensar que o balanço das vítimas poderia ter sido maior. “O primeiro detonou seus explosivos, o segundo conseguiu parcialmente, mas a explosão o matou, e os agentes do NDS mataram o terceiro”, afirmou esta fonte.
O Ministério do Interior indicou inicialmente que o ataque foi cometido “provavelmente por um camicaze que andava a pé” no meio da multidão. Mas o presidente Ashraf Ghani evocou pouco depois que ocorreram “várias explosões”, sem dar mais detalhes.
O atentado ocorreu no fim do protesto pacífico onde participavam milhares de manifestantes, em grande parte da minoria xiita hazara, desde o início da manhã.
Corpos “desmembrados”Este atentado, o primeiro desde o dia 30 de junho em Cabul, parece ser o primeiro desta magnitude na capital afegã reivindicado pelo EI desde sua implantação no país no início de 2015.
Um fotógrafo da AFP que estava no local do massacre narrou cenas de horror. “Havia dezenas de corpos, podia contar mais de vinte, alguns totalmente desmembrados (...) Havia poças de sangue por todas as partes”, contou.
As redes sociais mostravam duras imagens de corpos mutilados, seminus, jazendo entre os escombros. “Ouvi um barulho ensurdecedor muito próximo a mim. Havia muitos mortos e feridos, não consigo entender onde estou”, disse à AFP um dos organizadores do protesto, Jawad Naji.
Os manifestantes, que marchavam em um ambiente agradável, exigiam que uma rede de alta tensão em construção abastecesse com eletricidade a província de Bâmiyân (centro), a mais atrasada economicamente do país, onde vive grande parte da comunidade hazara.
Depois da carnificina, muitos sobreviventes expressavam sua indignação contra a polícia, que isolou com cordas a área, informou o fotógrafo da AFP.
O presidente Ghani expressou sua “tristeza” e denunciou a presença de “terrorista infiltrados em um protesto pacífico”. Entre as vítimas, acrescentou, destacavam-se membros das forças de segurança afegãs.
As milícias dos talibãs, rivais do EI, negaram rapidamente qualquer envolvimento no caso e o atribuíram a “tentativas de criar divisões no seio do povo afegão”.
Bombardeios aéreos
A minoria hazara, com aproximadamente três milhões de membros, sofreu décadas de perseguições e milhares deles foram exterminados no fim dos anos 1990 pela rede Al-Qaeda e pelos talibãs, em sua grande maioria pashtuns sunitas, que governavam o país.
Nestes últimos meses eles têm sido objeto de sequestros e assassinatos, levantando uma onda de indignação nas redes sociais. A segurança no Afeganistão, país de maioria sunita, diminuiu gravemente nos últimos meses, após a partida de muitas tropas estrangeiras.
Essa piora na situação obrigou os Estados Unidos a mudarem os planos, mantendo 8.400 soldados no país, ao invés dos 5.500 inicialmente previstos.
O general americano Nicholson, comandante da operação militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), expressou seus pêsames aos parentes das vítimas, assim como a embaixada americana.
Para os Serviços de Inteligência afegãos, os combatentes do EI no país, que foram alvo de vários ataques aéreos das forças americanas nas últimas semanas, quiseram responder com o atentado em Cabul.
A operação, segundo a fonte, foi planejada “pelo comandante Abu Ali em Achin, na província de Nangarhar”, fronteiriça com o Paquistão e cenário de confrontos. O atentado de 30 de junho, contra um comboio de recrutas da polícia, deixou trinta mortos e cerca de 80 feridos.