Opinião
Não é um massacre, é dano colateral!
Eduardo Saldanha, professor de Direito Internacional da FAE
Para autores de ataques terroristas como os cometidos esta semana na Austrália e em Peshawar, no Paquistão, as vítimas indefesas não devem ser entendidas como tendo sido cruelmente massacradas, mas simplesmente como desafortunadas baixas resultantes de um dano colateral.
O massacre gera luto, indignação, enquanto que o dano colateral exige um conformismo com o infortúnio causado pela guerra que envolve a baixa de civis, devendo ser absorvido como necessário diante de um cenário conflituoso, uma simples casualidade e não um massacre de inocentes.
A despersonalização dos vitimados acaba sendo embutida em um conceito estratégico e político de dano colateral, fazendo com que mulheres e crianças indefesas, aos olhos daqueles que cometem o ato, deixem de ser vítimas e passem a ser instrumentos.
Esta dualidade do massacre e do dano colateral desvela a hipocrisia daqueles que tentam justificar a banalização da vida e a utilização da barbárie e do terror como instrumento político, encobrindo a desfaçatez que normalmente caracteriza aquele agente do terror que de forma deliberada busca impor um sentimento aos que testemunham o massacre como mecanismo de imposição de obediência e submissão. Para tanto, o terrorista necessita marginalizar a vida humana, utilizando como subterfúgio o criminoso conceito de dano colateral.
No massacre está o luto, o sofrimento e a dor, enquanto que no dano colateral está a mais arraigada hipocrisia humana, um egoísmo essencial que caracteriza uma patologia chamada terrorismo.
Dessa forma, aquele que se esconde atrás do dano colateral é essencialmente um criminoso, independente se taleban ou chefe militar de uma grande potência. A morte de inocentes jamais pode ser entendida como um infortúnio necessário em nome de uma causa, pois nada está acima da proteção daquele indefeso que luta para simplesmente ser.
Reação
Malala diz estar "inconsolável" com ataque a estudantes
Estadão Conteúdo
Malala Yousafzai declarou estar "inconsolável" com o ataque à escola no Paquistão. A ganhadora do Nobel da Paz disse em comunicado que "crianças inocentes em suas escolas não pertencem a uma situação de horror como esta".
A adolescente de 17 anos foi alvejada na cabeça pelo Taleban, no Paquistão, dois anos atrás, como punição por defender o direito das meninas à educação. Malala declarou que se mantém "unida" com o governo e as Forças Armadas do Paquistão em sua resposta ao ataque.
Um sangrento ataque taleban contra uma escola do Paquistão ontem deixou pelo menos 148 mortos entre eles sete integrantes do grupo radical e 131 feridos, a maior parte crianças, em uma das piores ações terroristas no país, que se prolongou durante horas e gerou uma enérgica condenação internacional.
INFOGRÁFICO: Veja a localização do ataque
O diretor-geral do escritório de relações públicas do Exército paquistanês (ISPR), Asim Bajwal, declarou em entrevista coletiva que 132 das 141 vítimas fatais eram meninos, com idades entre 7 e 17 anos. Os outros nove eram funcionários do colégio.
Entre os 131 feridos estão nove militares que ajudaram na operação de libertação das 960 pessoas que estavam no interior da escola.
Um grupo de insurgentes vestidos com uniformes do Exército entrou pelos fundos do colégio, administrado por militares na cidade de Peshawar, antes do meio-dia no horário local (6 horas de Brasília), equipados com várias armas e coletes com explosivos, detalhou Bajwal.
Segundo ele, os talebans não tinham intenção de fazer reféns, apenas de conseguir atingir o maior número possível de vítimas.
Um porta-voz da polícia, Sedi Wali, afirmou que os talebans abriram fogo e lançaram granadas contra meninos e professores, enquanto iam de sala em sala disparando contra os alunos.
"Estávamos em uma das salas quando escutamos os disparos. O som dos tiros se aproximava até que a porta se abriu e duas pessoas começaram a disparar", revelou um dos alunos sobreviventes, de 14 anos, ao jornal local The Express Tribune.
O Exército paquistanês teve dificuldades para retomar o controle do local, dificultado pelos explosivos instalados pelos talebans no interior do colégio. O ataque só foi encerrado por volta das 18h20 locais (11h20 de Brasília), quando os militares conseguiram matar sete insurgentes que estavam entrincheirados.
As emissoras de televisão do país mostraram as cenas de caos ao redor da escola. Um grande número de soldados e ambulâncias se encontrava nos proximidades, enquanto disparos e explosões podiam ser ouvidos no interior do prédio. Após retomar o controle do colégio, o Exército paquistanês lançou uma operação contra o grupo radical na cidade .
Autoria
O principal grupo taleban paquistanês, o Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP), reivindicou a autoria do ataque e alegou que, "para o exército", suas famílias "são alvos" nas operações militares contra os insurgentes nas regiões tribais do Waziristão do Norte e de Khyber.
"Queremos que sintam nossa dor", disse o grupo em comunicado, no qual acrescentou que entre seus membros que participaram do ataque estavam "suicidas" com "ordens de atirar nos estudantes mais velhos, mas não nas crianças", como reproduziram jornais paquistaneses.
O exército paquistanês realiza uma campanha desde junho nas regiões do Waziristão e de Kyhber com contínuos bombardeios e operações terrestres que, de acordo com fontes oficiais, causaram mais de 1,1 mil mortes.
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