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Explosão de carro-bomba abriu uma cratera em rua próxima à sede da Agência de Inteligência da Síria, em Damasco | Louai Beshara/AFP
Explosão de carro-bomba abriu uma cratera em rua próxima à sede da Agência de Inteligência da Síria, em Damasco| Foto: Louai Beshara/AFP

Suspeita

Oposição culpa o governo

O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal movimento da oposição Síria, responsabilizou o regime do presidente Bashar Assad pelos dois atentados que deixaram mais de 40 mortos em Damasco ontem. "O regime sírio, sozinho, tem toda responsabilidade direta nas duas explosões terroristas", escreveu o CNS em comunicado.

"O regime quis dirigir uma mensagem de advertência aos observadores [da Liga Árabe] para que não se aproximem dos centros de segurança", acrescenta o comunicado do CNS.

Segundo o grupo de oposição, o que o governo busca com os atentados é dar a impressão "ao mundo que enfrenta um perigo vindo do exterior e não uma revolução popular com a qual se pede liberdade e dignidade".

Para os oposicionistas, uma série de fatores levam à suspeita de que o próprio regime tramou as explosões. O fato de os ataques terem ocorrido numa área de extrema segurança da capital é um deles. A pressa em acusar a Al-Qaeda, mesmo sem uma investigação aprofundada, é outro.

Omar Idilbi, do CNS, disse que as explosões ocorreram numa área da capital em que é muito difícil entrar de carro sem ser revistado. Para ele, a chegada da Liga Árabe pode ter sido o momento escolhido. "É uma tentativa de convencer a Liga Árabe e a opinião pública internacional de que a Síria está sendo vítima de terrorismo", disse ele.

Por outro lado, o CNS acusa o regime de ter transferido "milhares de presos a guarnições militares fortificadas" onde os observadores da Liga Árabe não têm acesso. As emendas exigidas pela Síria, e aprovadas pela organização pan-árabe, ao protocolo que enquadra a missão de observadores estipulam que estes últimos estão autorizados a visitar os centros de detenção, os hospitais, as delegacias, mas não as guarnições militares por razões de "soberania nacional".

O CNS diz ainda que o regime "advertiu os médicos e todos aqueles que trabalham nos hospitais para que não falem com observadores".

AFP

Dois carros-bomba explodiram ontem em Damasco perto de prédios do temido aparato de segurança do governo. Pelo menos 40 pessoas morreram e 55 ficaram feridas, a maioria civis, segundo a agência de notícias estatal da Síria, Sana.

Foi o primeiro atentado suicida no país desde o início da revolta contra o regime do ditador Bashar Assad, em março, e a ação mais violenta na capital desde então.

Pouco após as explosões, em meio a imagens de corpos dilacerados, a tevê estatal afirmou que "investigações preliminares" apon­­tavam a rede terrorista Al-Qaeda como autora do ataque.

Ao contrário do vizinho Ira­­que, explosões como essas na Síria são raras, embora o grupo fundamentalista islâmico fosse um crítico do regime laico da Síria.

Para o governo, os ataques confirmam sua frequente acusação de que grupos armados e terroristas financiados por outros países estão por trás da insurgência contra Assad, e não pacíficos ativistas pró-democracia, como afirma a oposição.

"Dissemos desde o começo, isso é terrorismo", disse Faisal Mekdad, vice-ministro do Ex­­terior. "Eles estão matando militares e civis."

Membros da missão de observadores da Liga Árabe, que havia chegado ao país na véspera como parte de um acordo assinado com Damasco para pôr fim à repressão do regime, foram levados ao local das explosões.

ONU

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, se declarou "seriamente preocupado com a escalada da violência na Síria", e destacou que é responsabilidade do presidente Bashar Assad implementar totalmente o plano de paz da Liga Árabe.

"As explosões em Damasco, que causaram mais mortos e feridos, incrementaram sua crescente preocupação. Ban enfatiza que toda violência é inaceitável e deve parar imediatamente", disse o porta-voz Martin Nesirky.

Assad enfrenta pressão dos EUA para deixar o poder. Na quarta-feira, o porta-voz da Casa Bran­­ca, Jay Carney, disse que o presidente "não merece governar a Síria" e advertiu sobre a adoção de novas sanções caso a repressão contra a oposição persista.

"Os atos repulsivos e deploráveis" cometidos contra a população civil na repressão da revolta contra o regime, violando "de maneira flagrante" o plano árabe para sair da crise, assinado por Assad, mostram que "ele não merece governar a Síria", afirmou o porta-voz.

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