São Paulo - O terceiro dia de ataques da coalizão liderada por EUA, França e Reino Unido às forças do ditador líbio Muamar Kadafi foi marcado por desentendimentos sobre o alcance da operação dentro da própria aliança.
Chefes militares, como o americano Carter Ham e o britânico David Richards, afirmaram que a ação não tem Kadafi como alvo ambos ressaltaram que o objetivo fixado pela resolução da ONU é a proteção de civis.
No entanto, o ministro da Defesa do Reino Unido, Liam Fox, disse que a derrubada de Kadafi cujo paradeiro é desconhecido está de acordo com a resolução se se constatar que o ditador está ameaçando a vida de civis.
Essa ideia foi reforçada pelo porta-voz do premiê David Cameron ao destacar o trecho que fala em tomar "todas as medidas necessárias. No Parlamento inglês, Cameron afirmou que os ataques evitaram um "massacre em Benghazi, a capital dos rebeldes.
A discussão tem implicações no mundo árabe, onde se teme que a missão vá além da zona de exclusão aérea e adote como objetivo principal a derrubada do regime.
Cientes disso, os EUA tentam manter o apoio dos aliados árabes. Obama telefonou para o rei Abdullah, da Jordânia; seu vice, Joe Biden, falou a líderes de Argélia e Kuwait.
Reunião da Otan (aliança militar ocidental) ontem em Bruxelas, porém, terminou em impasse: a Turquia, que integra a aliança, se opõe à ação, e não houve acordo sobre quem deve comandá-la.
Críticas
Os governos da Alemanha e da Rússia subiram o tom crítico em relação aos bombardeios, insinuando que os aliados têm como objetivo a deposição de Muamar Kadafi, e não a proteção de populações civis, como prevê a resolução aprovada na semana passada pelo Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
As críticas foram audíveis ontem em Moscou e em Bruxelas. Na capital belga, ministros de Relações Exteriores da União Europeia (UE) se reuniram para discutir a adoção de novas sanções contra a Líbia. O tema foi o único ponto de convergência dos ministros.
Enquanto a coalizão divulgava os primeiros balanços da terceira noite de bombardeios a Benghazi, Trípoli e a instalações militares no interior do país, o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, fez uma bateria de críticas à intervenção, em especial sobre a interpretação que os países do Ocidente estão fazendo da resolução 1973 do CS da ONU.
"É evidente que ela autoriza a fazer tudo a todos", protestou, empregando um termo histórico que viria a ser criticado pelo presidente russo, Dmitri Medvedev. "Ela me faz pensar nas cruzadas da Idade Média, quando as pessoas eram chamadas para ir a algum lugar e libertá-lo", completou o primeiro-ministro.
Para Putin, EUA, França e Grã-Bretanha pressionaram demais por uma intervenção militar. "É uma constante na política dos Estados Unidos", denunciou. Na mesma linha, o embaixador da Rússia na Otan, Dmitri Rogozin, reclamou dos ataques "que não correspondem à resolução do Conselho de Segurança.