Rebeldes observam equipamentos das tropas do ditador Muamar Kadafi destruídas após ataque das forças de coalizão| Foto: Suhaib Salem/Reuters

Obama mostra seu estilo liberal de guerra

Na valsa dançada a passos de caranguejo do confronto militar dos EUA com a Líbia de Muamar Kadafi, que já dura um mês, a administração Obama mostrou seu estilo liberal de guerra.

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Preocupação

Brasil pede cessar-fogo rápido e abertura de diálogo com o regime

Brasília - O governo brasileiro pediu ontem o cessar-fogo na Líbia. Em nota, o Itamaraty "manifesta expectativa" pelo fim dos ataques no país "no mais breve prazo possível" para que a integridade da população civil seja garantida e haja abertura para negociação e diálogo.

A nota foi publicada pelo Ministério das Relações Exteriores depois de uma análise que durou boa parte da tarde. A decisão de divulgá-la estava tomada desde cedo, pouco depois da partida do presidente norte-americano, Barack Obama, que embarcou na manhã de ontem do Rio de Janeiro para o Chile. No entanto, o tom ao longo do dia foi suavizado.

O texto divulgado no início da noite de ontem não condena a ação das forças ocidentais nos ataques à Líbia, mas "reitera sua solidariedade com o povo líbio na busca de uma maior participação na definição do futuro político do país, em um ambiente de proteção dos direitos humanos".

Além disso, o Itamaraty reforça o apoio às missões de negociação enviadas ao país, a primeira liderada pelo ex-chanceler jordaniano Abdelilah Al Khatib, enviado especial das Nações Unidas, e um grupo de presidentes da União Africana.

Emergentes

O Brasil foi o último dos Brics a se manifestar. Desde o início dos ataques, Rússia, Índia e China já haviam colocado suas posições sobre o tema, semelhantes à brasileira. Da mesma forma, a Turquia e a Liga Árabe registraram sua oposição, mas de forma mais contundente que o Brasil. Envolvida com a visita do presidente norte-americano, apenas hoje a presidente Dilma Rousseff tratou da nota com o Itamaraty.

Agência Estado

Em Trípoli, uma apoiadora do regime de Kadafi segura cartaz em que condena a interferência externa e o ataque em terras líbias
Entenda a força de coalizão formada pelos países para conter Kadafi

São Paulo - O terceiro dia de ataques da coalizão liderada por EUA, França e Reino Unido às forças do ditador líbio Muamar Kadafi foi marcado por desentendimentos sobre o alcance da operação dentro da própria aliança.

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Chefes militares, como o americano Carter Ham e o britânico David Richards, afirmaram que a ação não tem Kadafi como alvo – ambos ressaltaram que o objetivo fixado pela resolução da ONU é a proteção de civis.

No entanto, o ministro da Defesa do Reino Unido, Liam Fox, disse que a derrubada de Kadafi – cujo paradeiro é desconhecido – está de acordo com a resolução se se constatar que o ditador está ameaçando a vida de civis.

Essa ideia foi reforçada pelo porta-voz do premiê David Ca­­meron ao destacar o trecho que fala em tomar "todas as medidas necessárias’’. No Parlamento in­­glês, Cameron afirmou que os ataques evitaram um "massacre’’ em Benghazi, a capital dos rebeldes.

A discussão tem implicações no mundo árabe, onde se teme que a missão vá além da zona de exclusão aérea e adote como objetivo principal a derrubada do regime.

Cientes disso, os EUA tentam manter o apoio dos aliados árabes. Obama telefonou para o rei Abdullah, da Jordânia; seu vice, Joe Biden, falou a líderes de Argélia e Kuwait.

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Reunião da Otan (aliança militar ocidental) ontem em Bruxelas, porém, terminou em impasse: a Turquia, que integra a aliança, se opõe à ação, e não houve acordo sobre quem deve comandá-la.

Críticas

Os governos da Alemanha e da Rússia subiram o tom crítico em relação aos bombardeios, insinuando que os aliados têm como objetivo a deposição de Muamar Kadafi, e não a proteção de populações civis, como prevê a resolução aprovada na semana passada pelo Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

As críticas foram audíveis ontem em Moscou e em Bruxelas. Na capital belga, ministros de Relações Exteriores da União Europeia (UE) se reuniram para discutir a adoção de novas sanções contra a Líbia. O tema foi o único ponto de convergência dos ministros.

Enquanto a coalizão divulgava os primeiros balanços da terceira noite de bombardeios a Benghazi, Trípoli e a instalações militares no interior do país, o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, fez uma bateria de críticas à intervenção, em especial sobre a interpretação que os países do Ocidente estão fazendo da resolução 1973 do CS da ONU.

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"É evidente que ela autoriza a fazer tudo a todos", protestou, empregando um termo histórico que viria a ser criticado pelo presidente russo, Dmitri Medvedev. "Ela me faz pensar nas cruzadas da Idade Média, quando as pessoas eram chamadas para ir a algum lugar e libertá-lo", completou o primeiro-ministro.

Para Putin, EUA, França e Grã-Bretanha pressionaram demais por uma intervenção militar. "É uma constante na política dos Estados Unidos", denunciou. Na mesma linha, o embaixador da Rússia na Otan, Dmitri Rogozin, reclamou dos ataques "que não correspondem à resolução do Conselho de Segurança.