A crise dos refugiados na Europa ganhou um novo capítulo neste início de ano com o avanço das investigações sobre a série de abusos sofridos por mulheres na Alemanha, Suíça e Suécia na noite de réveillon. Em todos os casos, refugiados são suspeitos de participar das agressões. Na cidade alemã de Colônia, aos menos 18 demandantes de asilo político estão entre os 31 investigados. Policiais locais relataram que jovens árabes e do norte da África, alguns procedentes de abrigos para refugiados, teriam participado dos ataques na cidade.
Após a revelação, aumentou ainda mais a pressão contra os refugiados na Europa e sobre a chanceler alemã Angela Merkel. Em Colônia, pessoas foram as ruas pedir o fechamento das fronteiras. Dentro do partido da chanceler, há uma ala que tenta limitar a entrada de refugiados no país a 200 mil por ano, média de 2014 – um ano antes da crise migratória estourar. Já em 2015, foram cerca de meio milhão de pedidos de asilo. Só em setembro, o país recebeu mais de 240 mil imigrantes.
Em seu discurso de fim de ano, Merkel dedicou a maior parte do tempo à crise migratória que abala a região. Ela pediu aos alemães que sejam solidários com os refugiados e disse esperar uma boa integração entre os que chegam e o povo local. Agora, o desafio da chanceler é convencer a população de que, apesar dos últimos acontecimentos, os suspeitos de cometer os ataques são uma exceção e não uma regra entre os refugiados.
“Estamos num ponto em que a situação pode virar drasticamente e não se fará mais distinção entre refugiados, imigrantes ou criminosos. Se for estrangeiro e muçulmano, será considerado perigoso. Merkel tem que responder às preocupações da população e evitar que haja essa generalização, em que todos são considerados perigosos”, diz o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Kai Enno Lehmann.
Segundo ele, em países vizinhos, como Polônia e Eslováquia, esse tipo de raciocínio tem ganhado força. E fatos como os ocorridos na noite de réveillon só fazem reforçar esse discurso xenofóbico, abalando ainda mais a já combalida União Europeia.
“Existe uma divisão profunda entre os países do Leste Europeu e os outros integrantes do bloco. Essa divisão vai além da questão dos refugiados, que entra como mais um elemento nesta instabilidade. Há uma incompatibilidade de valores, entre o que esses países do Leste querem e o que a União Europeia pretende promover”, comenta Lehmann.
“Boas maneiras”
A Bélgica passará a oferecer cursos para explicar a todos os demandantes de asilo que devem se comportar, respeitosamente, em relação às mulheres, anunciou o secretário de Estado para Asilo e Imigração, Theo Francken, após relatos de agressões sexuais na Alemanha. "Vamos copiar o modelo norueguês e introduzir esses cursos nas próximas semanas em todos os nossos centros de acolhida", disse. A iniciativa não agradou a ministra dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Oportunidades na parte francófona da Bélgica, a socialista Isabelle Simonis. "Propor uma medida dessas (...)é fazer um amálgama entre indicações feitas em uma investigação alemã e pessoas refugiadas. É um 'timing' inadequado, que esconde um racismo mal disfarçado", criticou a ministra, em nota
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