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Espanha

Ataques do ETA indicam que guerrilha está perdendo a paciência

Ameaças feitas por militantes mascarados e a queima de ônibus não impedem, por enquanto, os planos de uma negociação de paz do governo espanhol com o ETA, mas mostram que a guerrilha basca talvez esteja ficando impaciente.

A tensão vem crescendo nas últimas semanas no País Basco (norte da Espanha), onde a possibilidade de negociações até agora não resultaram em concessões, como a legalização do partido separatista Batasuna, proscrito devido à sua ligação com o ETA.

Desde junho houve cerca de 40 ataques, a maioria com bombas caseiras, contra veículos, bancos e outros alvos, inclusive uma estação de rádio. Esse tipo de ação de pequena intensidade é chamada pelos bascos de "kale borroka" ("briga de rua").

No domingo a temperatura política subiu ainda mais, quando a imprensa basca disse que três homens encapuzados fizeram disparos para o ar e prometeram manter a luta armada, durante um ato separatista.

Embora não tenham anunciado a suspensão da trégua declarada em março pelo ETA, o tom era claramente ameaçador. Analistas não sabem se o alvo direto da ameaça era o governo espanhol ou a própria cúpula etarra.

Após 38 anos de luta armada, que deixou 800 mortos, o ETA pode estar vivendo uma rebelião interna dos seus radicais, segundo Ignacio Sánchez Cuenca, autor de um livro sobre a guerrilha basca.

- Os radicais podem estar pressionando, ou talvez estejam mesmo se preparando para se separar [do ETA] - disse ele.

Outra possibilidade é de que se trate de um alerta "oficial" do ETA ao governo espanhol.

O primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero repreendeu os separatistas em um discurso no domingo, dizendo que "as regras do jogo são claras: respeitem a lei e a paz, e paz significa ausência de violência".

Reservadamente, o governo admite não saber se os militantes mascarados representam o ETA como um todo.

Para Carlos Barrera, professor de História na Universidade de Navarra, a aparição dos militantes encapuzados pode ser contraproducente na obtenção de concessões do governo.

As negociações anunciadas em junho pelo socialista Zapatero ainda não começaram, segundo a imprensa espanhola, em grande parte porque o Batasuna não pôde participar de uma outra consulta sobre o futuro do País Basco. A razão para isso é a recusa do partido em condenar a violência.

Com a manifestação dos militantes radicais, ficará mais difícil para Zapatero fazer concessões ao Batasuna, segundo Barrera, para quem a situação fica ainda mais complicada devido a recentes imagens de TV que mostraram presos bascos xingando e ameaçando juízes.

- Imagens como essas não ajudam em nada - afirmou.

Mesmo antes do cessar-fogo, o ETA estava havia três anos sem matar ninguém. Sua estrutura havia sido fortemente abalada por ações policiais na Espanha e na França (onde também há uma população basca).

Só uma minoria entre os bascos apóia a independência da região, segundo as pesquisas.

Muitos militantes do ETA podem ter objetivos mais imediatos em mente, como a transferência de presos bascos para a região, e estariam relutantes em recorrer à violência, segundo Barrera.

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