Nos últimos meses, a China registrou pelo menos cinco ataques em massa que deixaram algumas dezenas de mortos pelo país, ações que fizeram soar os alarmes da ditadura de Xi Jinping, que imediatamente após os episódios aumentou a censura para evitar uma desestabilização política interna.
O caso mais recente ocorreu na província de Hunan, no último dia 19, quando um homem foi preso após atropelar várias pessoas perto de uma escola primária. As autoridades chinesas não informaram o número de vítimas, mas confirmaram que pessoas foram encaminhadas para hospitais da região.
Imagens do ataque circularam nas redes sociais, no entanto foram rapidamente apagadas das plataformas, seguindo uma política de longa data do regime chinês.
Três dias antes, um estudante de 21 anos esfaqueou mais de 20 pessoas, das quais oito morreram e 17 ficaram feridas, em uma instituição de ensino. O caso aconteceu na cidade de Wuxi, no leste do gigante asiático.
A agência Reuters informou na ocasião que o autor dos golpes de faca foi preso e contou à polícia que estava insatisfeito porque não conseguiu se formar e o valor da bolsa de estudos que recebia era muito baixo.
Após os esfaqueamentos em massa, usuários da rede social chinesa Weibo começaram a comentar o episódio, alguns enfatizando o aumento de casos de violência desse tipo pelo país. Um usuário da plataforma escreveu: “Quantos casos aconteceram esta semana…”, enquanto outro declarou enfaticamente: “De novo!!”.
As autoridades na China frequentemente atribuem tais ataques aleatórios contra civis a pessoas com alguma insatisfação pessoal, que resulta em uma espécie de "vingança contra a sociedade", mas poucas informações de fato sobre os verdadeiros motivos dos agressores são divulgados.
No dia seguinte ao ataque, os censores pareciam estar invisibilizando a discussão sobre o ocorrido, uma estratégia comum do regime chinês após tragédias em massa. Nesse tipo de situação, a ditadura comunista suprime as vozes de testemunhas e sobreviventes, principalmente por meio de demonstrações públicas de pesar.
No dia 12, outro homem foi detido após atropelar uma multidão em frente a um centro esportivo, deixando 35 mortos e 43 feridos, no sul do país asiático. Este foi considerado o ataque mais mortal da China em uma década.
No episódio, a polícia informou que investigações iniciais apontaram que o autor do ataque, um homem de 62 anos, estaria inconformado com a divisão de bens do seu divórcio.
Novamente imagens, comentários e uma hashtag - que rapidamente subiu ao topo da lista como a mais marcada sobre o ataque - foram censurados em redes sociais no país, para evitar a propagação da notícia. Além disso, autoridades do regime de Xi destruíram memorais improvisados para as vítimas, segundo informações da AFP.
Ainda neste ano, outros crimes ganharam espaço no noticiário internacional devido ao nível de violência incomum no país.
Em outubro, um homem de 37 anos matou três pessoas com uma faca no Walmart em Xangai por causa de frustrações decorrentes de "disputas financeiras pessoais", de acordo com a polícia.
Em setembro, um estudante de 10 anos foi mortalmente esfaqueado perto de uma escola japonesa no sul da China.
Um homem de 44 anos, identificado pela polícia pelo sobrenome Zhong, foi preso na cidade de Shenzhen. A criança vítima das facadas foi levada para um hospital com vida, mas acabou morrendo no dia seguinte devido aos ferimentos.
Em junho, quatro professores americanos da Universidade de Cornell, que lecionavam no nordeste da China durante um programa de intercâmbio, foram esfaqueados.
As autoridades prenderam o agressor, um homem de 55 anos. Segundo informações divulgadas pela polícia, o autor do ataque, de sobrenome Cui, estaria no parque público quando esbarrou em um "estrangeiro" e iniciou a ação violenta.
Dias depois, naquele mesmo mês, uma mulher japonesa e seu filho foram atacados com uma faca em Suzhou, uma cidade no leste da China.
Ditadura trata ocorrências como "casos isolados"
A ditadura de Xi classificou todos os ataques como "incidentes isolados", no entanto a onda de violência fez soar alarmes dentro do regime, visto que situações como essas são sensíveis para o Partido Comunista da China, que não quer agitar a dissidência popular ou levantar questionamentos sobre as decisões políticas do país.
Nas semanas seguintes aos crimes mais recentes, os censores do Partido Comunista enviaram "orientações" sobre como retratar tais ataques na mídia estatal, exigindo que suas reportagens estejam alinhadas com as declarações da polícia, disseram fontes familiarizadas com o assunto ao Wall Street Journal.
“As informações dos perpetradores que não foram divulgadas pelas autoridades, como situação financeira e estado civil, não devem ser divulgadas para especular sobre suas intenções ou para se relacionar a outros incidentes ou questões sociais mais amplas”, diz uma das instruções da ditadura chinesa a que o Journal teve acesso.
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