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Eleições

Ataques entre presidenciáveis mexicanos frustram eleitores

Um anúncio de campanha feito na acirrada batalha presidencial no México mostrou o candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, aparentemente justificando um linchamento brutal de dois policiais. O material era forjado.

Um anúncio de retaliação parece mostrar o principal adversário dele, Felipe Calderón, assinando um controvertido plano de ajuda de 100 bilhões de dólares para um dos bancos do país, uma década atrás. Essa acusação também era falsa.

A disputa cada vez mais apertada e suja oferece aos eleitores uma ampla gama de anúncios de TV e rádio com ataques, alguns dos quais apelando mais para o imaginário e deturpações políticas do que para os fatos.

Esses anúncios, no entanto, são eficientes e já ajudaram a produzir duas grandes reviravoltas nas pesquisas de intenção de voto, primeiro colocando o conservador Calderón, candidato do partido governista, em primeiro lugar, e depois, no mês passado, contribuindo para a recuperação de López Obrador.

Mas muitos mexicanos ficaram indignados com essas táticas e, segundo especialistas, campanhas negativas ajudaram a criar um grande bloco de eleitores que não tem fidelidade partidária. De acordo com as pesquisas, 40% dos mexicanos ainda estão indecisos sobre em quem votar no dia 2 de julho.

- Eles são todos iguais. Estou cansado desses anúncios. Eles não propõem nada, só ficam se atacando - afirmou Violeta Jurado, uma funcionária de escritório e mãe de três filhos que mora na Cidade do México.

Jurado confirma que irá votar, mas não gosta muito das opções de que dispõe.

- A verdade é que não confio em nenhum deles.

Os anúncios com ataques já foram usados outras vezes em eleições mexicanas, mas não com o venenoso tom pessoal e a veemência da disputa deste ano.

Ao menos um dos candidatos recebe conselhos de consultores políticos dos EUA, onde as campanhas negativas pertencem a uma longa e rica tradição.

Em vista do aumento de popularidade do terceiro colocado, Roberto Madrazo, e do empate entre Calderón e López, os indecisos devem quase certamente resolver a corrida à Presidência.

Uma longa batalha pela democracia culminou na eleição presidencial de 2000, quando o fazendeiro conservador Vicente Fox colocou fim a 71 anos de governo de partido único, com promessas de comandar um governo honesto e de criar milhões de novos empregos.

Seis anos mais tarde, a maior parte dos mexicanos acredita piamente na democracia, mas afirma estar frustrada com o ritmo lento das mudanças e a inabilidade de Fox e de líderes da oposição em chegar a um acordo sobre, até mesmo, questões básicas, como a educação e a reforma do Poder Judiciário.

Especialistas dizem que os anúncios de ataque traduzem-se em conquistas de curto prazo, mas trazem prejuízos para todos os candidatos. Esse clima de enfrentamento pode diminuir ainda mais as chances de que os partidos governistas e de oposição cheguem a acordos sobre as reformas depois da posse do novo presidente.

- Eles estão apostando que o ódio ou o medo os fará conquistar votos - disse Maria de las Heras, respeitada analista de pesquisas. - Ninguém está pensando no que acontecerá depois da eleição. Nenhum deles pode governar sozinho. Mas todos estão, nas campanhas, batendo em seus adversários.

O Instituto Eleitoral Federal tenta controlar os partidos e mandou a equipe de Calderón tirar do ar um anúncio que classificava López Obrador como um "perigo para o México", sugerindo que o candidato havia dado apoio ao linchamento de dois policiais em 2004.

O anúncio comparava o esquerdista ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

López Obrador, que promete pôr fim às reformas liberais e ajudar milhões de pessoas a sair da pobreza, diz que os anúncios da campanha de Calderón são parte de uma "guerra suja" lançada contra ele pela elite empresarial do México.

A equipe de Calderón afirma que as campanhas dos rivais são mais sujas. E todos os candidatos acreditam gastar mais tempo apresentando suas propostas que atacando os adversários.

Ainda assim, para muitos mexicanos, seus políticos não estão se esforçando o suficiente para criar empregos, combater a corrupção e o crime e melhorar os setores da saúde e da educação.

- Já estamos sofrendo há bastante tempo, mas eles nunca cumprem suas promessas - disse Rosa Hernandez, uma vendedora de tortilhas e mãe de dois filhos.

Hernandez pretende votar, mas ainda não decidiu em quem.

- A gente não sabe em quem acreditar.

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