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Ofensiva militar

Ataques da Síria com apoio da Rússia deixam dezenas de mortos e mais de 100 mil deslocados

Sírios deslocados da província de Idlib por causa de ataques aéreos, 23 de dezembro de 2019 (Foto: Aaref WATAD / AFP)

Uma ofensiva militar esmagadora do governo da Síria e de seus aliados russos no norte da Síria matou dezenas de civis e deslocou mais de 100 mil pessoas em menos de dez dias, dizem grupos de ajuda humanitária e autoridades médicas do local.

O ataque na província de Idlib, na Síria, é parte de uma ação do ditador Bashar al-Assad para recuperar o controle de estradas estratégicas e a última grande área controlada pelos rebeldes do país. Confrontos, bombardeios do governo e ataques aéreos da Rússia neste mês provocaram um êxodo de pessoas em pânico que as organizações de ajuda alertam que poderia levar a uma das piores catástrofes humanitárias da guerra civil da Síria, que já dura oito anos.

Casas em Maarat al-Numan, a maior cidade de Idlib e o principal alvo da escalada de ataques, eram esvaziadas enquanto uma fila de carros deixava a região, dizem os moradores. As pessoas estão tendo dificuldades para encontrar assistência médica e abrigo à medida que aumenta o número pessoas fugindo dos ataques aéreos.

"As pessoas estão dormindo ao ar livre sob as árvores e a temperatura da noite está quase congelando", disse Shaker al-Humeido, médico que trabalhava em Maarat al-Numan, por mensagem de texto. O hospital onde ele trabalhava foi evacuado quando os ataques se aproximavam e ele fugiu com a sua família para o norte.

"Estou chocado com o tamanho da tragédia", disse ele.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, alertou na semana passada que "massacres" na província fizeram com que mais de 80 mil pessoas fugissem para a fronteira da Síria com a Turquia, que já abriga aproximadamente 4 milhões de refugiados de guerra sírios. Mas o governo de Erdogan, que tem postos militares em Idlib e mantém boas relações com a Rússia, até agora não conseguiu atenuar a ofensiva.

Esses atos de violência são a última e dramática provação de Idlib, uma fonte de opositores ao governo de Assad e lar de centenas de milhares de pessoas deslocadas pela guerra de outras partes da Síria.

A província, com 3 milhões de pessoas, sofreu o maior impacto da campanha aérea da Rússia e da Síria que atingiu hospitais e destruiu casas e mercados, dizem grupos de direitos humanos. A província e as áreas vizinhas são amplamente controladas pelo Hayat Tahrir al-Sham, um grupo islâmico extremista que começou como afiliado da Al Qaeda na Síria e tentou mudar de imagem várias vezes durante a guerra.

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Criança síria deslocada da província de Idlib pelos ataques aéreos

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Famílias sírias da província de Idlib são forçadas a deixar suas casas por ataques aéreos do regime da Síria com apoio da Rússia

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Famílias sírias da província de Idlib são forçadas a deixar suas casas por ataques aéreos do regime da Síria com apoio da Rússia

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Famílias sírias da província de Idlib são forçadas a deixar suas casas por ataques aéreos do regime da Síria com apoio da Rússia

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Famílias sírias da província de Idlib são forçadas a deixar suas casas por ataques aéreos do regime da Síria com apoio da Rússia

As crianças são as maiores vítimas

Os conflitos no ano passado afetaram desproporcionalmente as crianças, de acordo com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que afirmou em comunicado na terça-feira que mais de 500 crianças foram feridas ou mortas nos primeiros nove meses de 2019. Pelo menos 65 crianças foram mortas ou feridas somente em dezembro, informou o grupo.

Dareen Khalifa, analista da Síria no International Crisis Group, disse que o objetivo de Assad no curto prazo é cercar e controlar Maarat al-Numan e a cidade de Saraqib, a cerca de 25 quilômetros a nordeste. Então, ela disse, o exército sírio avançaria para o oeste para retomar uma estrada que liga Latakia e Aleppo enquanto tenta capturar Idlib por partes.

"O problema é que a ofensiva do regime iniciada em abril não teve muito sucesso", disse ela. "Então agora eles estão compensando usando níveis devastadores de força aérea. Os níveis de baixas e de deslocamentos são catastróficos."

"Se o regime continuar e se os rebeldes não se renderem, isso significará o pior desastre humanitário que já vimos na Síria."

Naji Mustafa, porta-voz da Frente de Libertação Síria rebelde, apoiada pela Turquia, disse que a escalada do governo "claramente tem o objetivo de deslocar as pessoas".

"Eles estão mirando mercados, hospitais, escolas; eles querem que toda a população de Maarat al Numan, 80 mil pessoas, seja deslocada para as fronteiras com a Turquia. Isso já começou a acontecer".

"Os confrontos são severos", disse ele. "Perdemos algumas áreas nos últimos dias, mas estamos recuando para recuperá-las. É assim que tem sido".

Meio milhão de pessoas deslocadas em abril

A ofensiva anterior, lançada em abril, deslocou 500 mil pessoas em Idlib, segundo grupos de ajuda.

"Mais meio milhão de pessoas poderão ser deslocadas nas próximas semanas se a violência continuar aumentando", disse Kelly Razzouk, diretora do Comitê Internacional de Resgate da ONU. "Este seria o maior deslocamento visto desde que a guerra começou oito anos atrás."

Razzouk considerou os relatos de crianças vivendo sob oliveiras em temperatura de 0 grau "extremamente angustiantes".

"Estamos muito preocupados com as taxas de desnutrição", disse ela. "Onze por cento das crianças que frequentam as clínicas de saúde que apoiamos sofrem de desnutrição aguda e os alimentos estão sendo racionados. As mães que deveriam estar amamentando estão tendo que alimentar seus bebês com chá de ervas porque estão desnutridas e não conseguem alimentar seus bebês".

Ativistas sírios protestaram contra a ofensiva em frente a embaixadas e consulados russos em todo o mundo, inclusive em Istambul. Também tem havido críticas crescentes ao governo da Turquia.

Mustafa Sejari, oficial do Exército Nacional Sírio, apoiado pela Turquia, publicou uma carta aberta a Erdogan na semana passada que enfatiza a frustração.

"Entendemos o tamanho da pressão interna e externa à qual o senhor está submetido, mas nós, nossas pessoas, nossas crianças, estamos sendo mortos", escreveu Sejari no Twitter. Ele pediu a Erdogan que adotasse uma "posição histórica", abrindo as fronteiras fechadas da Turquia para mulheres e crianças e retomando o apoio militar às forças rebeldes.

Autoridades da Rússia e da Turquia discutiram a crise em Idlib durante uma reunião na segunda-feira, informou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em comunicado. Mas ativistas sírios dizem que não viram melhorias significativas na situação.

"Ocorreu uma troca detalhada de pontos de vista", disseram os russos.

As organizações de ajuda humanitária alertam que em breve poderão ficar com capacidade limitada de fornecer ajuda a civis sírios. Na semana passada, China e Rússia vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que renovaria a autorização para remessas de ajuda através das fronteiras da Turquia e do Iraque por 12 meses. A autorização expira em 10 de janeiro.

"Dada a escala das necessidades no norte da Síria, agora não é hora de diminuir [a ajuda humanitária]", disse Razzouk, do Comitê Internacional de Resgate.

Todas as noites, famílias estão fugindo de suas casas nos arredores de Maarat al-Numan, disse Tarek Mustafa, médico do hospital central da cidade. O êxodo da cidade continua 24 horas por dia.

A equipe médica recebeu combatentes e civis feridos na linha de frente, mas também pessoas que sofreram acidentes de carro porque dirigiam à noite com as luzes apagadas, para evitar ataques dos aviões.

O hospital em que o médico trabalhava era o último que estava funcionando na região, disse ele. No domingo, o hospital foi atingido por tiros de um helicóptero e na segunda-feira, fechou.

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